DE VOLTA PARA O... PRESENTE !
DE VOLTA PARA O... PRESENTE !
Lera até quase meia-noite a obra sobre Ocultismo, bruxaria, poções, magos, feitiços, todo um universo desconhecido e fascinante que embaralhou seus sonhos e tornou o sono viagem cheia de sobressaltos. Acordou indisposto, com a sensação de ter um "cone" invisível sobre a cabeça, os pés sobre nuvens. Bateu com força os calcanhares no "sinteko" gelado, os tacos marrons devolvendo um som oco.
Vestiu-se, dirigiu-se à padaria na esquina, o simpático vizinho "seu Amarildo" seguindo-o a poucos passos. Ao encontro de ambos veio o antipático "Geraldão", monte de músculos e ignorância. Cruzaram-se e o grosso ignorou o amável "Bom Dia" de Marcelinho.
-- "Se o cachorro desse "fresquinho" cagar de novo no meu quintal, mato êle e o dono" !
Essa "mensagem" ecoou em seu cérebro e Marcelinho estacou. Seria premonição ?! Deu meia-volta, por via das dúvidas prenderia o "Frankestein", nunca se sabe o que nos reserva o Destino. Ao Amarildo justificou com "sorriso amarelo" que esquecera o dinheiro no outro casaco. Retornando ao lar, saco de pão na mão, Marcelinho ouve 2 estampidos secos, de calibre 22. Seu coração gela e as pernas disparam desordenadas rumo à sua casa... um cão estendido na grama do vizinho mau-caráter dá seus derradeiros gemidos. Era o "basset" do Amarildo e um "Felizmente" nem cabe em momentos assim, pra que gosta de animais.
Marcelinho trabalhou mal, preocupado com seu cão e como fato de "ter ouvido" um pensamento alheio. O dia lhe seria infernal... "ouviria" os pensamentos de quase todos os funcionários, soubera deles os segredos, instantes de inveja, momentos de soberba ou sensualidade reprimida. Quase enlouqueceu ! Nem almoçou na cantina da empresa, optou por um "sanduba" num bar da pracinha em frente.
Sentado , sem saber o que fazer da vida, viu passar bela jovem, uniforme escolar, cadernos e livros num braço. A seu lado, a figura clássica da Morte, caveira com capuz e foice ou ancinho. Um impulso o fez aproximar-se da menina:
-- "Senhorita, podes me dizer a hora ?! Nooossa, como você se parece com minha sobrinha" !
-- "São 12 e 40... o senhor por acaso está "me cantando", é" ?!
-- "Nããão, não foi minha intenção. Obrigado... qual é seu nome" ?!
-- "VÉSPER, senhor... e já estou atrasada" !
-- "Nome de estrela... tens um longo Caminho, mocinha, mas prepare-se para PARTIR. Você não tem muito tempo" !
A jovem saiu quase correndo, fitando-o como a um louco ! Êle, por sua vez, não entendeu como nem porquê dissera aquilo, se é que fôra êle realmente que falara. Nem voltou para o trabalho... retornou às pressas para casa e findou a tarde a reler os livros esotéricos. Concluiu que, de alguma forma, êle "ultrapassara o Portal", o famoso limiar entre a Terra e um local etéreo, destino só de alguns. Manhãzinha, acordou -- sem dormir mais do que alguns minutos -- e "tropeçou" com rapazote na rua, lacrimoso, olheiras acentuadas.
-- "Que cara é essa, Jorginho... problemas em casa" ?
-- "Não, seu Marcelo... minha amiga de sala no colégio, com quem estudei ontem, morreu de noite, não se sabe de quê" !
-- "Ah, isso é horrível... qual era o nome da jovem" ?
(Nem precisou perguntar, "lera" o pensamento do menino:)
-- "VEVÉ", digo, Vésper... e agora, o que eu vou fazer" ?!
Marcelinho "caiu das nuvens" ou estas desabaram sobre êle. Imaginou bater a cabeça nas paredes ou dar marteladas no "cocoruto" pra encerrar aquele suplício. Já estava andando curvado ao peso dos segredos todos que lhe vinham, "aos quilos", de tanta gente que dele se aproximava. Até dona Cândida, a fofoqueira "mais venenosa" da quadra inteira "deu sua opinião involuntária":
-- "Esse seu Marcelo é "um pão", mas só pode ser "boiola" pra não reparar numa viúva enxuta como eu" !
Marcelinho agora se esconde quando a vê, "ouvir" que a velhusca convencida o acha "VIADO" é demais pra êle ! Tem procurado pajé, cartomante, curandeiro, pai-de-santo, ciganas e "mães" disso e daquilo pra lhe tirarem o tal DOM de "ler pensamento"... mas TODOS o acham meio MALUCO, "ouve" êle !
"NATO" AZEVEDO (em 17/agosto 2021, 20hs)