Dia de Sol

Quando criança, adorava construir castelinhos de areia na praia. Sentava por horas a fio, molhando os grãos e montando andares.

No fim das contas, tudo sempre parecia uma grande massa disforme feita de barro, mas em uma ocasião foi diferente.

Naquela manhã, meu castelo de areia ficara magnífico. Verdadeiramente digno de um artista.

Torres, janelas e detalhes milimetricamente riscados nos grãos, ornavam a construção, que não parecia fruto das minhas mãos desajeitadas de menina.

Mais que curiosos, meus pais ficaram assustados. Eu passara toda a manhã brincando sozinha na areia, ou pelo menos, eles assim acreditavam.

Sem mais a ser feito, era então, chegada a hora de partir. Eu ainda sorria disfarçadamente enquanto percebia a tensa troca de olhares entre meus pais.

Não muito longe dali, mais alguém se despedia da praia. Mar adentro, mergulhou rumo a uma realidade abissal, fantástica e infinitamente diferente da minha.

É irônico como uma cara lembrança de infância, se torna o primeiro passo em direção ao inferno.

Infelizmente, aquilo não seria um adeus.