A vida na floresta

Na floresta do Araguary tudo acontecia. As joaninhas, enfileiradas como soldados, mesmo minúsculas, tinham papel fundamental na organização da sociedade. Eram elas que ditavam os procedimentos a serem seguidos e trabalhavam todos os indicadores necessários para que os animais tivessem o máximo conhecimento possível dos números. Todos os animais era divididos por espécies e cada espécie tinha papel fundamental no cumprimento de determinada função. Acabavam sempre virando especialistas.

Por exemplo, naquele mês de fevereiro, com um calor escaldante, na entrada da floresta, escrito em uma enorme pedra estava o número 128, o número de animais habitantes atual naquele mês. Funcionava como um painel de controle.

Todo e qualquer óbito ou nascimento deveria ser comunicado imediatamente à família jabutí, responsável pela atualização da pedra mensalmente, já que era controladora do Cartório de Registros dos Animais.

Como a floresta havia sido composta há mais de 100 anos, a sua organização já estava imposta normalmente. Possuia estatuto registrado de várias áreas, especialmente o de Direitos Animais, que determinava a importância do habitante não pelo seu tamanho; e sim pelo envolvimento cultural e social. Dessa forma, um rinoceronte poderia ter muito menos importância do que uma formiga.

Alguns animais, já conhecidos pela sua morosidade, foram treinados para desempenharem tarefas adequadas ao seu perfil, a exemplo das tartarugas. Como ficavam muito expostas ao sol, passaram anos estudando as suas propriedades e, ao final de uma tese bem formulada, passaram a recomendar todas as suas propriedades, elevando o indicador de saúde da floresta. Com perfil semelhante, os lagartos aplicavam reiki nos animais com regularidade, buscando melhores indicadores nos animais tensionados.

Já as galinhas, responsáveis pelo abastecimento de ovos, percebendo o seu baixo valor nutricional, deram um jeito de solicitar um empréstimo junto leão, responsável por um pequeno banco de crédito pessoal, para produzirem milho em abundância, já que a ração já era produzida há anos pelos leopardos.

Para que todos mantivessem boas relações e a comunicação fluísse da melhor forma, o papagaio se esmerava nas aulas de comunicação e marketing, muitas delas ministradas através do rádio, que conseguia chegar em toda floresta por alto-falantes dependurados nas árvores.

Quando um ou outro estragava os próprios macacos faziam a manutenção. Tinham na veia habilidades operacionais.

A saúde era comandada pelos cavalos que, com maestria, sempre ministravam chás da própria floresta e, se fosse necessário, transportavam o doente no seu lombo até o vilarejo mais próximo para chegar em um ambulatório veterinário.

Quem morria recebia palmas efusivas de agradecimento pela sua participação na floresta. Era enterrado em uma larga cova rasa junto com todos os demais animais mortos, sem qualquer distinção. Ao redor dessa cova eram plantadas margaridas como sinal de simplicidade, representando a vida que levavam.

Certa noite, como um raio, em meio à floresta caiu um disco voador. Meio aturdido, dele saiu um ET que, tentando se comunicar sem sucesso com os animais que se aproximaram, resolveu calar-se e, percebendo a boa energia que por lá reinava, decidiu ficar um tempo para conhecer aquele lugar tão diferente do dele. Quem sabe alí ele não ficaria em paz?

No entanto, já no segundo dia sentiu-se inútil, fora da realidade. A atmosfera era de uma paz produtiva e ele não conseguiu enxergar uma tarefa sequer que pudesse desempenhar, que até aquele momento não estivesse nas mãos de uma espécie de animais. Além disso, qual fêmea ousaria se apaixonar por ele, já que todas pareciam felizes? Foi então que resolveu sumir sem ser visto, mas deixar o disco voador de presente para os animais.

Com a surpresa do presente e, para decisão do que fazer com ele, os animais programaram uma Convenção e, após três horas de discussão, decidiram que o disco voador seria doado para o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, já que não se identificava em nada com a cultura da floresta e também não se encaixava em nenhum desenvolvimento previsto pelas zebras no planejamento estratégico para os próximos 5 anos.

Escrito para a Oficina Provocações - módulo 05 da Pragmatha Editora

Rosalva
Enviado por Rosalva em 12/07/2021
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