silêncio...

Escute…

Percebe esse silêncio? Escute…

Ele sempre esteve lá, acompanhando junto com a passagem dos dias…escute…

Não há nada além dele, apenas ele, e no fim de tudo ele novamente. Escute…

Percebe? Ele sempre esteve lá e sempre continuará lá, não há como fugir dele. Escute atentamente…

Sinta ele…o cobertor frio e quente, macio e áspero, rodeando você. Sinta…

No fim de tudo só resta ele, seu amigo mais antigo, o grito dos antepassados, o barulho do futuro…escute…sinta…

O sopro do vento nas folhas, o frescor de uma manhã ensolarada, a calmaria entre as matas…escute…

O barco à deriva no oceano, o que vem depois da tempestade, o barulho depois das ondas…escute…

O que vem no fim das festas, o que acontece quando você chega em casa, o que vem quando se deita na cama…escute…

Ele sempre esteve lá…e continuará até o fim de tudo…onde ele será a única coisa restante…quando todas as estrelas do céu desaparecem…quando o sol não aquecer como antes…quando a noite se tornar apenas nada…ele será percebido como se deve…escute…

O que permanece quando o amor morre, o que resta quando a paixão acaba, o que resta no fim da relação…sinta…

Aquilo que atormenta a imortalidade, que dá sentido aos mortais, o que acompanha a dor da perda, o sofrimento do fim…sinta…

Quando você sente medo, e sua voz se torna mais alta…ele está lá…

Mas porque tão doloroso tens de ser? Porque tens de ser amigo do vazio? Porque você tem de ser tão sem vida? Porque tem de ser você no fim de tudo?

Escute ele…sinta ele…

Sua presença esmagadora e ao mesmo tempo pequeníssima, seu jeito agridoce de ser…

Seu modo incompreensível de agir…sua forma de existir…

E tudo que nos aguarda no fim…

É sua companhia pela eternidade no nada…

— Meu velho, antigo e ancestral amigo…já faz um tempo que não temos essa conversa né? Um de frente para outro, tentando se entender…e nunca conseguindo…porque não há como…pois você sempre esteve certo e eu sempre fui o errado…porque você sabe mais do que eu, pois você já viveu mais do que tudo e continuará vivendo…seu modo paradoxal de vida…meu amigo invisível mas presente…

— Somente você e eu no fim de tudo né? …não? …ah é verdade…é somente você no fim…fim…