Depois do Natal: um conto pra não ser lido à noite (cap VII - A CONTA)

Os dois episódios anteriores, junto ao desespero diante do risco de perder os filhos, é que fizeram a mulher sair, desesperada, gritando pela rua…

Chamando a polícia, a mulher chama a atenção!

Ao seu lado para uma viatura policial.

- Que aconteceu, minha senhora? – pergunta o primeiro, tentando entender as palavras turbilhantes, uma erupção saindo pela boca da mulher, uma mãe desesperadamente aflita, falando e gesticulando e indicando algo que nem ele mesma entendia, tal era seu desespero.

- Parado aí! Levante as mãos! Coloque as mãos sobre o carro! Pernas abertas! – diz o outro policial, apontando a arma para o marido, que ainda sem entender, obedece.

- Está desarmado – continua o segundo policial, já algemando o desconcertado marido.

- Esperem, ele é meu marido! – consegue falar a mulher.

- Certo, dona. Ele não vai mais agredi-la. Pode deixar que na delegacia ele vai piar fininho. Nem precisa de Maria da Penha: Marido que persegue a esposa, apanhado em flagrante vai direto pro xilindró! – fala o policial, orgulhoso de sua atuação cinematográfica.

- Não, ele só está me acompanhando. O problema é com meus filhos: Eles foram raptados...!

-Ih!, dona! Aqui no interior a gente não tem uma divisão anti sequestro – ironiza o policial. Mas vamos até a delegacia registrar a ocorrência e... A senhora recebeu alguma carta, telefonema, algum tipo de mensagem dos sequestradores...?

- Não precisa nada disso, seu policial. Vamos voltar ali na esquina e perguntar mais detalhes para aquela senhora gorda que atende como garçonete...ela viu tudo…

Ouvindo esse diálogo o outro policial abre as algemas do marido que começa a entender o que está se passando...E começa, também, a se desesperar…

O português chega com a notinha da conta, seguida pela gorda garçonete, agora sem o gorro sujo. Os cabelos ainda mais engaranhados. Os policiais não têm tempo de falar nada, menos ainda de fazer…

- Seu guarda, eles estavam fugindo sem pagar a conta. Ainda bem que o senhor prendeu eles... não posso ....

- Foi ela, seu guarda... Ela que viu o sequestro... – a mãe desesperada aponta a gorda e gordurenta garçonete, que se aproxima.

Ainda sem entender ou para tentar entender, os policiais tentam interrogar a mulher, gordurenta, que, ofegante, chega com roupa de garçonete.

- Mas quem vai pagar a conta? Não posso perder dinheiro com cliente fujão... – interrompe o português...

- Depois a gente resolve a sua conta. Agora conta, dona, como é essa história de sequestro.

- Não tô sabendo de nenhum sequestro...

- Como não? Você não disse que viu meus filhos no carro dum estranho?...

- Mas como, dona, se não conheço seus filhos, nem a senhora?

- Você me disse que viu duas crianças num carro... Saia rosa,... morenos...

- Disse, mas não sei se eram seus filhos. Eram duas crianças: um menino e uma menina. A saia dela era rosa. Estavam perto da lanchonete e entraram no carro do sapateiro que mora lá prá baixo. Não sei bem onde é a casa dele... Mas ele é gente boa... bem pelo menos... não sei... sei lá!

- Ele estava se dirigindo para casa? As crianças que a senhora viu, poderiam ser filhos do sapateiro!

- Não, seu guarda, ele nem é casado. Mora sozinho! Bom eu acho… as pessoas falam… eu mesma nem sei onde ele mora...

- Nesse caso, então vamos atrás dele para verificar – fala o primeiro policial.

Os dois policiais tocam um olhar significativo. Como a dizer: desta vez vai dar certo. Iniciam ao mesmo tempo o movimento de retornar à viatura e continuar seu trabalho.

- Deve ser ele. Sempre falaram algumas coisas a respeito dele, mas nunca ninguém soube de nada de concreto. Ou não quiseram falar nada – responde o outro policial

Dizem isso e, juntamente com o casal entram na viatura.

Saem, apressadamente, perseguindo o carro do sapateiro que a gorda garçonete acaba de apontar, passando num cruzamento próximo, dirigindo-se lá pra baixo….

- Parece que ele está indo prá casa, fala a gorda garçonete…

Só então o português consegue fechar a boca para abrir em seguida e gritar e novamente sair correndo, agora atrás da viatura, que corria atrás do carro do sapateiro, que seguia lentamente pela rua, já lá em baixo, logo mais à frente.

- Vocês esqueceram de pagar a conta…

Parou!

Esbravejou!

Era tarde demais!

Continua na próxima semana

Neri de Paula Carneiro

Rolim de Moura – RO

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