Depois do Natal: Um conto para não ser lido à noite (Cap. VI - CHEGA A POLÍCIA

Bastante tempo depois, quando chega, a polícia nem toma conhecimento da mulher e do homem, ensanguentado.

-O que essas crianças estão fazendo na cena do crime?

-São meus filhos! E ele é meu marido...

-Tá morto? – Pergunta o policial mais magro, com cara de traficante, virando o corpo do homem. Só então se pode ver o hematoma provocado pela pancada, na fronte.

A mulher dá um grito e as crianças começam, novamente a chorar.

-Alguém tire essas crianças daqui... – fala o outro policial, enquanto liga para o corpo de bombeiros

Chama os bombeiros, pois em cidade pequena, no interior, não tem, como nos filmes, uma ambulância a ser chamada às pressas e que chega chamando as atenções pela velocidade e apitos estridentes.

Nisso o homem acorda. Abre os olhos. A mulher e as crianças o abraçam...

-Que aconteceu, moço? – interroga o policial com cara de bandido.

-Ai minha cabeça! – responde o homem.

A mulher ajuda-o a se levantar. A roda de curiosos abre espaço para carregarem o homem em direção à viatura dos bombeiros, que o leva ao hospital.

Levam por obrigação de ofício, pois o homem já está completamente acordado e se sentindo bem. Isto é: bem na medida em que alguém pode se sentir bem depois de levar uma cacetada na cabeça. O fato é que, sob protestos, foi para o hospital, para ser medicado e fornecer os esclarecimentos cabíveis.

Ele foi medicado, meio a contragosto, pelo plantonista que não gostou de ser interrompido em algo, não confessável, que estava fazendo com a enfermeira que o assistiu, ao lado da maca, com os medicamentos e instrumentos de curativo.

Ainda no hospital presta depoimento à polícia.

Registra queixa do assalto e contra a empresa de ônibus.

E seguem sua viagem de férias...

Nas proximidades da rodoviária a roda de curiosos começa a se dispersar. Alguns ainda permanecem no local, comentando o fato. Cada um dando a sua versão para o episódio.

Ninguém presta atenção em um jovem claro, porte atlético, bem vestido, aparentemente de classe abastada, que se afasta lentamente com um boné do Corinthians na cabeça...

Continua na próxima semana

Neri de Paula Carneiro

Rolim de Moura – RO

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