Depois do Natal: Um conto para não ser lido à noite (cap II – O COMEÇO
O começo da história não começou assim.
Começou antes.
Vamos começar no começo para que as coisas não fiquem pela metade. Ou como se as coisas não tivessem início. Tudo tem um início: e todo início está lá na origem...
É do começo que saem todas as coisas. É algo assim como se cada coisa que ocorre fosse originada de outra que por sua vez dá origem a outra, que origina outra... e assim as coisas se fazem no processo: cada coisa dando origem a outra coisa
A dificuldade é que nem sempre nos damos conta de que o que estamos realizando – ou o que estamos passando – é resultado de outros elementos ou fatos que já se foram e sobre os quais não temos mais poderes. Nem sempre nos damos conta do complexo emaranhado de fatores que produzem os fatos atuais. E, por isso, somos levados a crer em sorte, azar, destino... nada disso: são apenas fatos que são consequências de fatos; são fatos que produzem fatos: causa e consequência, ação e reação, como Newton já dizia; ato e potência, como Aristóteles ensinou, um constante devir, e eterno movimento, pelo ensinamento de Heráclito!
Esta história começou na semana passada, na cidade onde estiveram antes de estar aqui, mas já em sua viagem de férias pelo interior, visitando lugares pitorescos e exóticos, procurando por coisas que só se encontra e se vê e se sente e se vive no encantado e pacífico e calmo mundo do interior; nos pontos mais distantes do interior do coração deste país.
Nada demais aconteceu, com exceção de dois pequenos incidentes.
O primeiro, sem maiores problemas, pois foi só uma queda nas águas revoltas de uma cachoeira. O segundo, envolvendo um ônibus e seu motorista, mas também tudo resolvido, possibilitando a continuação da viagem da pacata família da cidade grande, querendo reconhecer seu estado. Mas foram fatos que encadearam outros fatos. Que são os fatos que vou contar!
Acostumados a viajar para outros estados, pelo litoral, por outros países, nos últimos tempos haviam feito a opção de viajar pelo interior de seu estado. A vida de cidade grande os entediava, não pela monotonia, mas pela mesmice dos problemas constantes solucionáveis, mas ainda sem solução: era trânsito congestionado; era notícia de assalto; era notícia de sequestro; era chefe incompetente pegando no pé de quem trabalha e protegendo os apadrinhados... Uma merda!
Isso, e tudo o mais que se vê e se vive e se sente no cotidiano maluco da cidade grande. Era do que aquela família procurava fugir em todo período de férias.
Para fugir a isso já haviam visitado e se deslumbrado com a Alemanha, sua limpeza, sua pontualidade...
Para não se aborrecer com o corre-corre e os perigos de sua cidade haviam passado uma temporada na Itália, tentando se deliciar com algumas relíquias e pedaços de história que se conservou não pela memória, mas pelo valor comercial e pelo poder de atrair turistas...
Haviam visitado e se embevecido com tantas praias e maravilhas do litoral brasileiro. Já haviam, inclusive, concluído que não há melhor lugar, no mundo, do que aqui.
E por isso se haviam decidido, depois de andar por vários cantos do Brasil, ver o seu estado, conhecê-lo por dentro...
E foi assim que, ao chegar naquele primeiro ponto de seu roteiro de viagem se deu o primeiro incidente. Coisa corriqueira, olhada com o olhar e do ponto de vista dos inúmeros e incontáveis acidentes que ocorrem por aí.
Mas, apesar do susto e da agonia do momento saíram-se bem, isto é, se for possível alguém sair bem de uma situação como aquela.
Mas o fato é que já estavam noutra cidade contemplando a beleza de uma noite em tempo de natal. Já estavam numa lanchonete... mas, estavam desesperados pela apreensão de que algo pudesse ter acontecido com a seus filhos.
Aliás, estavam na rua, correndo atrás de não sei o quê, em busca dos filhos.
Mas os dois fatos que deram origem, ou que fizeram o começo desta história foi o seguinte, que vou contar agora:
Continua na próxima semana
Neri de Paula Carneiro
Rolim de Moura – RO
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