O sofá
O imenso sofá cor de mostarda que Patrik havia comprado pela internet, chegou na sexta-feira à tarde. Ele o instalou num lugar previamente vazio na sala da quitinete onde morava, e convidou a namorada, Amanda, para a "inauguração".
- Você me chamou para fazer o "teste do sofá"? - Indagou ela maliciosamente ao chegar.
- Se vai ser um teste, melhor fazermos juntos - redarguiu ele encarando o móvel, mãos na cintura. - Eu nem me sentei nele, esperando você chegar.
- Parece ser bem macio - avaliou ela, pressionando o estofado com um dedo.
- Vamos experimentar - decidiu-se Patrik, desabando no sofá e praticamente afundando no mesmo.
- Ei! É muito macio! - Exclamou, rindo.
Amanda também jogou-se, ao lado, também afundando em ondas de veludo mostarda.
- Isso tem fim? - Questionou ela, ligeiramente apreensiva.
Quando ambos compreenderam que o sofá os estava engolindo, já era tarde demais. Finalmente, foram despejados sem cerimônia numa cratera cheia de objetos descartados: meias sem par, moedas, telefones celulares. Acima deles, o céu noturno estava pontilhado por constelações desconhecidas e brilhantes.
- Que lugar é esse? - Perguntou Amanda aturdida, dando a mão para o namorado erguer-se.
- É o fim de uma passagem dimensional instalada dentro do seu sofá - respondeu uma voz, vinda da borda da cratera.
Patrik e Amanda olharam para cima e viram um homem de terno, parado olhando para eles.
- E como fazemos para voltar para casa? - Indagou Patrik.
- Infelizmente, não há como voltar por aqui - explicou o homem. - Essas passagens são de mão única.
E, mão no queixo:
- Mas ouvi dizer que, em algum lugar nas planícies ao nosso redor, há grandes máquinas de lavar industriais através das quais pode-se voltar para o mundo de onde vieram.
Em seguida, o homem desapareceu. Patrik e Amanda começaram a escalar as paredes da cratera até emergirem na planície, pontilhada aqui e ali por outras formações similares e montanhas, à distância.
- Máquinas de lavar, ele disse - murmurou Patrik olhando ao redor.
- Aquelas coisas brancas, lá adiante - apontou Amanda.
Caminharam até o local, onde havia cinco grandes máquinas de lavar enfileiradas, uma ao lado da outra. Algumas, tinham as portas dianteiras abertas; o casal parou diante de uma dessas.
- Sempre me disseram que era perigoso entrar numa máquina de lavar - ponderou Patrik.
- Acho que não é hora de pensar nisso - redarguiu Amanda, entrando no tambor do equipamento. Estava escuro lá dentro.
Sem outra alternativa, Patrik seguiu a namorada.
* * *
Era perto de meia-noite e a lavanderia self-service estava vazia, exceto pela caixa, que olhava para o celular, e uma cliente, também entretida com o seu dispositivo móvel. Foi quando ouviram batidas vindas de dentro de uma das máquinas de lavar desligadas.
Havia alguém preso ali dentro.
- [05-03-2021]