Nego Valdelino e a bala de tamarindo
Nego Valdelino e a bala de tamarindo
O que,no fundo de mim ,sentia não era mais aquela saudade sorrindo...Manoel de Barros segredou em meus ouvidos que sofria melancólico banzo e estava muito anoitecido...
Era,pois,se bem me lembro,final de Outono e o pessegueiro desnudo parecia que não iria resistir à mais um Inverno quando uma grossa tora do galho,estalando caiu perto de mim.
Ah!Que o tempo havia passado e eu ainda era matuto do mato à comer frutinhas bicadas por passarinhos e mascar folhas tenras.
Deixara ,por indeterminado tempo,na cidade grande a querência de u’a mulher e levava comigo os meus conflitos interiores.Carecia voltar ao meu tempo de infância e encontrar aquele menino e abraçando,do pessegueiro os galhos como se braços amigos fossem,chorei caudaloso ribeiro que percorreu caminho incerto...
A brisa amena afagou-me a pele cujos sulcos revelavam a minha narrativa de vida provocando longo suspiro , adormeci sob as finas frondes de majestoso salgueiro...
Dos próprios sonhos,sonhador esquecido,
Restara nebulosa ponte,passado silente...
Pediu à Deus consolo d’amor não vivido,
Voltaria,pois, a ventura vagar novamente?
E num profundo sonho,à desmaiar os sentidos,voltei,distante ao tempo d’infância e lá estavam Jonas,Iara e Betinho na escolinha da Tia Yayá onde nossa amiguinha acumulava funções de diretora,professora e rigorosa inspetora.Cabia a nós a função monótona de alunos daquelas aulas vazias de didática,mas,plenas de rigor infantil...
Chegou ,numa tarde de Setembro a esperada rebelião!
Comandei Jonas e Betinho numa revolta violenta à depor Iara de sua prepotência feminina ,riscando o quadro negro e rasgando as folhas ,cuidadosamente ,preparadas pela professorinha mirim.
O que se seguiu foi a cena mais comovente do mundo,comparável ao pranto de Isolda...Iara acabara-se em choro convulso,no que foi acompanhado pelo nosso ,induzido pelos açoites do cinturão de couro de nossos pais.A dominação do desespero foi total,quando,saindo de sua rústica palhoça,Nego Valdelino,negro de sorriso de lua em quarto minguante e olhar de chuva prazenteira,o homem mais velho do mundo se aproximou e com compassiva face,estendendo a palma da mão calejada,ofertou quatro balinhas de tamarindo de sua velha tamarineira.Não esperei pelos meus amigos e coloquei aquela bolota preta na boca e uma onda de intenso azedume provocou uma verdadeira carranca na face.Meus amiguinhos seguiram-me e as garatujas mais engraçadas se sucederam!As risadas em frouxos provocavam,até câimbras no abdômen.
Nego Valdelino desabafou uma” risada musical” que percorria toda oitava da pauta e morria no sol da oitava seguinte...
Iara a que mais chorara era a que mais sorrira,falou a Nego Valdelino:”Valdelino,à principio a bala era tão azeda que fechei os olhos e estremeci o corpo todo,agora,a bala está gostosa!
Após alguns segundos de silencio,o ancião suspirou fundo e,com a voz mais mansa que a própria mansidão,disse”Queridos netinhos,a frustração da vida é como bala de tamarindo,ao provar dela,sentimos um azedume que nos obriga a cerrar os olhos e enxergar para dentro de nós e lá encontraremos a resposta á nossa incerteza,sofrimento.Depois,chega uma doçura mais doce que o mel da flor de laranjeira...
Esta frase do Nego Valdelino acordou-me da ilusão em que vivia,aquele menino do mato estava mais vivo do que nunca,voltei à falar com as estrelas,sentir o cheiro que prenunciava a chegada da chuva,olhar o formato das nuvens e percebi o sabor residual da bala de tamarindo na superfície da língua!
Levantei-me rápido e voltei ao encontro de minha amada,porem,tendo o cuidado em carregar um saquinho de bala de tamarindo no bolso...
...
Nego Valdelino e a bala de tamarindo
O que,no fundo de mim ,sentia não era mais aquela saudade sorrindo...Manoel de Barros segredou em meus ouvidos que sofria melancólico banzo e estava muito anoitecido...
Era,pois,se bem me lembro,final de Outono e o pessegueiro desnudo parecia que não iria resistir à mais um Inverno quando uma grossa tora do galho,estalando caiu perto de mim.
Ah!Que o tempo havia passado e eu ainda era matuto do mato à comer frutinhas bicadas por passarinhos e mascar folhas tenras.
Deixara ,por indeterminado tempo,na cidade grande a querência de u’a mulher e levava comigo os meus conflitos interiores.Carecia voltar ao meu tempo de infância e encontrar aquele menino e abraçando,do pessegueiro os galhos como se braços amigos fossem,chorei caudaloso ribeiro que percorreu caminho incerto...
A brisa amena afagou-me a pele cujos sulcos revelavam a minha narrativa de vida provocando longo suspiro , adormeci sob as finas frondes de majestoso salgueiro...
Dos próprios sonhos,sonhador esquecido,
Restara nebulosa ponte,passado silente...
Pediu à Deus consolo d’amor não vivido,
Voltaria,pois, a ventura vagar novamente?
E num profundo sonho,à desmaiar os sentidos,voltei,distante ao tempo d’infância e lá estavam Jonas,Iara e Betinho na escolinha da Tia Yayá onde nossa amiguinha acumulava funções de diretora,professora e rigorosa inspetora.Cabia a nós a função monótona de alunos daquelas aulas vazias de didática,mas,plenas de rigor infantil...
Chegou ,numa tarde de Setembro a esperada rebelião!
Comandei Jonas e Betinho numa revolta violenta à depor Iara de sua prepotência feminina ,riscando o quadro negro e rasgando as folhas ,cuidadosamente ,preparadas pela professorinha mirim.
O que se seguiu foi a cena mais comovente do mundo,comparável ao pranto de Isolda...Iara acabara-se em choro convulso,no que foi acompanhado pelo nosso ,induzido pelos açoites do cinturão de couro de nossos pais.A dominação do desespero foi total,quando,saindo de sua rústica palhoça,Nego Valdelino,negro de sorriso de lua em quarto minguante e olhar de chuva prazenteira,o homem mais velho do mundo se aproximou e com compassiva face,estendendo a palma da mão calejada,ofertou quatro balinhas de tamarindo de sua velha tamarineira.Não esperei pelos meus amigos e coloquei aquela bolota preta na boca e uma onda de intenso azedume provocou uma verdadeira carranca na face.Meus amiguinhos seguiram-me e as garatujas mais engraçadas se sucederam!As risadas em frouxos provocavam,até câimbras no abdômen.
Nego Valdelino desabafou uma” risada musical” que percorria toda oitava da pauta e morria no sol da oitava seguinte...
Iara a que mais chorara era a que mais sorrira,falou a Nego Valdelino:”Valdelino,à principio a bala era tão azeda que fechei os olhos e estremeci o corpo todo,agora,a bala está gostosa!
Após alguns segundos de silencio,o ancião suspirou fundo e,com a voz mais mansa que a própria mansidão,disse”Queridos netinhos,a frustração da vida é como bala de tamarindo,ao provar dela,sentimos um azedume que nos obriga a cerrar os olhos e enxergar para dentro de nós e lá encontraremos a resposta á nossa incerteza,sofrimento.Depois,chega uma doçura mais doce que o mel da flor de laranjeira...
Esta frase do Nego Valdelino acordou-me da ilusão em que vivia,aquele menino do mato estava mais vivo do que nunca,voltei à falar com as estrelas,sentir o cheiro que prenunciava a chegada da chuva,olhar o formato das nuvens e percebi o sabor residual da bala de tamarindo na superfície da língua!
Levantei-me rápido e voltei ao encontro de minha amada,porem,tendo o cuidado em carregar um saquinho de bala de tamarindo no bolso...
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