Na Busca Dum Horizonte

Por Nemilson Vieira (*)

Sabedor da existência, da beleza e significância dum horizonte, o desejei ardentemente. Queria muito conhecê-lo de perto; tê-lo ao alcance da mão; tocá-lo, senti-lo.

A busquei nos vales, campos, aberto escalei íngremes relevos e o avistei lá de cima, ao longe da minha visão; nos limites do céu e terra, da imaginação.

O contemplei repetidas vezes; sempre da mesma maneira a se mostrar arredio; sem aceitar a minha aproximação.

Continuei na diligência de atender aquela minha demanda existencial que vivia a pulsar…

A sua posição antagónica à minha vontade e outros tantos desafios à concretização desse sonho, tornavam-se barreiras quase intransponíveis. Ainda assim empenhar-me nessa busca…

Um desejo que ardia, tudo o que mais queria. O nosso distanciamento continuava abismal e dificultava o êxito nesse investimento.

De tanto andar em sóis ardentes, terrenos irregulares, areias escaldantes tive por companhia o desconforto do cansaço; os meus pés feridos ardiam do caminhar.

Próximo às margens dum rio bonito, num trilho que serpenteia as águas… Exausto, parei para descansar.

Ao recobrar os sentidos, depois dum tempo sobre a relva macia, orvalhada da beira do caminho amarguei o meu penar… — Como uma criança a procurar um brinquedo perdido. "Eu não devia retroceder vazio." — Tal pensamento dava-me força e alento.

Depois de anunciar aos quatro ventos o meu intento, seria muito triste voltar frustrado da difícil missão; estava determinado no prosseguir, resoluto.

À beira da estrada imaginava à vida… Os meus pensamentos, numa evolução fluíam facilmente à mente… Ganhavam ares de ânimo. O que não se faz para encontrar-se com um horizonte, a felicidade?

Banhei-me nas gélidas e cristalinas águas a correrem calmamente para o mar; até desfazer-me da fadiga e relaxar.

Refiz-me por completo do trauma da jornada.

Ao flutuar inerte, naquele líquido vital e límpido, alevinos, ornamentais, de multicores, se puseram a beliscar o meu inconsciente num trabalho terapêutico…

Repeli-me atraído por algo a sugar-me para cima. Rendido àquelas estranhas atrações não havia da minha parte controle algum da situação…

Levitei num repente; na velocidade do raio e viajei por espaços siderais nunca desbravados; em ares, distantes, acima da minha consciência num campo gravitacional imaginário.

Vislumbrei extremadas magnitudes, exuberância; nesse paraíso suspenso duma beleza espacial, a nada a comparar. Se passou num piscar de olhos, o meu passeio astral!, pelas coisas envolventes, encantadoras, que conheci nesse mundo à parte valeu!

Não quis perder um instante sequer da contemplação do percurso para desfrutar mais da viagem espacial.

Regressei num rastro de luz ao estado anterior das coisas que ainda deveriam ser, por cá; na mesma pegada que me elevei.

O meu horizonte se fez real na luz que me envolveu no meu ambiente imaginativo.

Se me achavam perdido no labirinto escuro dos Meus intentos…

Fui salvo pela luz do infinito, colhida nas maiores alturas; junto ao limiar de tudo que pude sonhar.

O horizonte que busquei não estava tão-somente além-montanhas, mas dentro do meu pensar; recluso.

Que o brilho, a claridade, alegria, os bons fluidos dum encantador horizonte, seja compartilhado com amor!

*Nemilson Vieira

Acadêmico Literário.

(23:03:15)