O boneco de Zezé...
Zezé é mamãe, que pode bem ter tido boneca de louça ou de pano, tanto por ser filha única quanto por ter-se tornado órfã de mãe em tão tenros dez anos...ou onze...
Já o boneco é um caso a parte. E é d´agora, quando Zezé já dobrou a casa dos noventa, mas tá sempre dois anos atrás de Elizabeth II, a soberana da Inglaterra. E é bem capaz de Elizabeth ter guardado algumas de sua bonecas cobiçadas...mas nenhuma que se compare, páre, ao boneco de Zezé.
Ele tá mais pra feiinho, desconjuntado e empalhaçado. É de madeira, cores bem vivas. E não tem moleza não, fica pendurado sob a telha-vã
da coberta da cisterna que é uma extensão da cozinha, ou quase outra cozinha dupla, com fogões a gás e a lenha...sem contar o forno-elétrico e de micro-ondas, um sobre o outro.
Mas a cisterna é que é a peça central do conjunto, encoberta por uma caixa de tijolos e cimento onde, segundo preceitos assépticos de Zezé ninguém ousa nadegar. Acima da caixa, só a talha de barro e o sarilho com sua corrente, ainda encimados por um dossel de plástico. E agora, o boneco, pendurado, desconjuntado e com carinha de moleque safado.
Mas tem função nobre e é eficiente: espantar os pardais que andavam invasivos demais. De qualquer farelo atrás. Mas com todo o zelo e apreço que mamãe tem pelo boneco, ela é sentenciosa:
- Ele espanta sim a passarinhada...mas não demora muito ser reconhecido como moleirão, incapaz de passar do balanço a um gesto mais severo...