O Vilarejo Sussurrante

Passávamos pela encruzilhada que conduzia ao vilarejo na colina, e que há muito não era percorrida por mais ninguém; resolvemos parar o carro à margem da estrada, para apreciar o espetáculo do casario de pedra à luz do sol poente.

- Olhando daqui de baixo, ainda parece habitado - comentou Grace olhando para o alto.

- Durante o dia, pode passar essa impressão - avaliei. - Depois que o sol se põe e nenhuma luz se acende, a ilusão se desfaz.

Os últimos habitantes haviam abandonado a região cerca de 25 anos atrás, quando ficara claro que o efeito conjunto do declínio econômico, das baixas taxas de natalidade e do alto custo de vida inviabilizariam permanecer residindo ali.

O vento que soprava do alto da colina até nós, parecia ainda trazer sons de vida humana; fragmentos de música, som de risadas, ruído de trânsito.

- O vilarejo parece querer nos dizer alguma coisa - Grace olhou para mim, mão em concha na orelha.

- Talvez seja um convite para voltarmos e ocuparmos suas ruas - sugeri.

- Soa mais como um eco de sua vida passada, e de como o abandonamos, entregue à própria sorte - replicou. - Sinto que ele não nos quer de volta; parece estar muito bem sozinho.

Hoje éramos apenas uma vaga lembrança para o vilarejo, que quando o sol se punha, adormecia num sono sem sonhos sobre a colina cercada de árvores. Entramos no carro e seguimos nosso caminho, rumo à uma cidade onde havia calor e luzes brilhando na noite.

- [25-11-2020]