O Homem casca
Pelas constantes desilusões da vida e o temor da solidão, Darlene
se convenceu que a indiferença e olhar perdido de Gerúndio era
uma aura de mistério, se permitiu mergulhar numa relação casual, sem
grandes emoções. Ele a pediu em casamento por achar que era isto que
se faziam os rapazes da sua idade, seguiu imitando tudo sem questionar,
alheio aos porquês.
Anos mais tarde quando Darlene o deixou, ele não chorou, fez o que
viu fazer os homens na mesma condição, pediu que ficasse sem saber
por quê deveria.
“Você é oco” dizia Darlene, “é frio e não sente nada”.
Gerúndio sofreu por não sofrer, queria amá-la, queria expressar sentimento mas não os tinha, seu pedido de reconciliação soou falso e ela
partiu ainda ofendida.
Movido apenas por gesto que viu em um surto no cinema, para demonstrar que sentia sim a perda da mulher, num movimento robótico
de indignação, lançou o punho contra a parede sucessivamente e no
terceiro murro, sua mão quebrou-se, espalhando cacos pelo chão.
Não sangrou, apenas os fragmentos miúdos do que fora seu dedos caídos aos pés da parede, olhou a ponta do braço pulso agora era
um cano oco, não havia veias, ossos ou mesmo carne. Onde estivera
sua mão agora era a entrada de uma tubulação escura, que dava para
dentro de seu corpo. Começou a forçar as bordas e a estrutura foi se
rompendo aos poucos, sem dor ou medo, o chão já repleto de pedaços
da cor de sua pele. Chegou ao ombro, nada que atestasse vitalidade, só
a embalagem vazia como a pele abandonada por uma cigarra, nem um
fluído, apenas a estrutura repleta de escuridão.
Por fim, Gerúndio compreendeu que ele era somente uma casca