ALÉM DE MIM - NOVAS EMOÇÕES - CAPÍTULO 10
ALÉM DE MIM
NOVAS EMOÇÕES – Capítulo X
Andreia não saiu mais do quarto pelo resto da tarde e Renato também não teve coragem de ir falar mais com ela. Quando caiu a noite, ele aproximou-se da porta do quarto e bateu hesitante.
- Andy!
Não ouviu resposta.
- Andy, por favor, me deixa falar com você...
Depois de alguns segundos, a porta se abriu. Andreia não parecia zangada, mas também não passava de um rosto frio e ao mesmo tempo triste. Renato entrou e ela fechou a porta, indo deitar-se novamente na cama.
- Eu te amo, ele disse.
- Não repita mais isso, por favor. Eu sinto como se estivesse dentro de uma gaiola de ferro e você estivesse do lado de fora. Eu já não sei se exijo de você fidelidade ou não, Renato. Afinal de contas... a única coisa que tem de mim aqui é a alma. É como se eu tivesse morrido. Se eu morresse mesmo, não iria querer que você ficasse sozinho pra sempre. Iria querer que você encontrasse uma pessoa e fosse feliz com ela. Mas... ao mesmo tempo, eu estou aqui. Há muito pouco tempo eu convivo com esse corpo e sinto falta de você... dentro dele... sinto ciúme de você... Se alguém notar isso, você vai ficar muito mal. Eu não quero que pensem que tem um cara apaixonado por você.
- Ficaria mal pra você também.
- Não, nem tanto. Pra mim tanto faz ser hétero ou ser... “gay” . Pelo menos eu seria eu mesma. Eu não devo nada, a não ser a você, e você sabe quem eu sou.
- A Paula chegou a te dizer alguma coisa?
- Não, nem eu dei tempo. Ela ficou deslumbrada com um palmo de rosto bonito e eu não a culpo. Até eu fiquei, ela falou indo até a frente de um espelho na parede. – Sorriu, passando a mão pelo próprio rosto.
- Andy... Renato gemeu enciumado.
- Você já se viu na minha situação, Rê? Você sente saudades de mim que você não vê; eu sinto a mesma coisa por você... te vendo...
- Eu sei... Espero que aquela velha volte logo. Não vamos perder as esperanças, tá?
- Concordo... mas... enquanto isso... não vamos ficar policiando um ao outro, ok? Quanto menos ligados estivermos, mais fácil vai ser para se acostumar com o... André, circulando por aqui. A gente pode até fazer uma brincadeira, um teste.
- Teste?
- Suponhamos que a Andreia morreu...
- Ah, Andy, que ideia mais...
- Espera, você sabe que ela não morreu, ela está aqui e te ama como nunca, certo?
- Certo...
- Para os outros, ela morreu ou está em São Paulo, sei lá... Eu sou André, seu amigo, irmão do Lúcio. Vou... passar a agir como ele. Assumir a personalidade dele. De certa forma, a amizade vai ser mais forte do que o amor entre nós. Vamos ver se a gente cultiva essa amizade como fizemos crescer o amor, pelo menos... enquanto aquela dona Carmem não volta e bota um fim em toda essa loucura... Ok?
- Tenho que me acostumar a viver sem... a Andreia? – ele perguntou, com os olhos se enchendo de água e lutando para não chorar.
- Ela não existe mais... pelo menos por enquanto. Se você fizer isso, vai sofrer menos e eu também. Me ajuda, Rê...
Ele sentou na cama, pensativo.
- E se a Paula tornar a investir?
Andreia riu.
- Eu sou casado, lembra?
- Sozinho, numa ilha paradisíaca como essa, Andy...? Que garota não se aproveitaria de um cara com a... sua cara?
- Você gosta também?
- Andreia, eu estou falando sério!
- Pode até soar como besteira, mas... adoraria que você fosse “gay”, agora...
Ele levantou-se nervoso e se afastou dela.
- Você está agindo como um, droga! Para de falar assim!
- Então me fala, como eu devo agir. Como André e fazer jus ao corpo que eu estou usando, ou ser Andréia e parecer um “bixa” na sua frente e na frente dos outros. Pra mim tanto faz. De qualquer forma, eu sou uma mulher num corpo de homem que ama você das duas formas.
Tato estava entrando no corredor e ouviu a última frase. Entrou no quarto e ficou olhando para os dois, boquiaberto. Renato gelou. Andreia não moveu um músculo.
- Eu acho que entrei na hora errada, disse o rapaz.
- Tato, não é isso que você está pensando... disse Renato, segurando seu braço.
- Me solta!
- Eu posso explicar, droga. Espera!
O rapaz esperou e ficou olhando para Andreia, abismado.
- E você disse pra minha irmã que era casado...
- Eu sou, ela disse, se aproximando dele.
- Não chega perto de mim! Você é casado com ele?
- Claro que não! O Renato não tem nada a ver com essa confusão. Você chegou no fim da conversa e não pode nem deve tomar conclusões antecipadas e precipitadas, Tato. Não sobre ele.
- Tá, então o réu é você?
- Não me considero um réu. O Renato se casou ontem e muito bem por sinal. Ele é doido pela mulher e ela por ele. Ele teve que fazer essa viagem até aqui porque... porque eu forcei.
- André... Renato ia interferir.
- Calma, Renato, eu explico tudo. Eu o enganei, dizendo que queria conhecer a ilha e... que tinha que ser hoje, porque vão abrir amanhã uma carta que meu pai deixou pra mim, uma espécie de... testamento... a respeito de uma herança...
- E por que o Lúcio não veio no lugar dele?
- Porque nós... brigamos.
- Ele não parecia estar brigado com você quando ligou dizendo que vocês vinham.
- Você conhece o meu irmão. Ele não é de passar para os outros quando está zangado ou chateado com alguém. Ele é um cara muito legal. Nem o Renato sabia disso.
- Não... Renato falou, louco para saber onde ia parar aquela estória.
- Por amizade ao Lúcio e por mim, ele concordou em vir comigo. Mas não há carta nenhuma. Eu só queria... vir pra cá com ele...
- Que sem vergonha! – falou Tato, indignado. – E ainda confessa? Eu tenho vontade de quebrar a sua cara! E a sua mulher, o que fala disso?
- Calma, Tato, isso não vem ao caso. O André é problema meu, falou Renato.
- E se a Andreia ficar sabendo disso? Você vai acabar com seu casamento que nem começou?
- Ela não vai ficar sabendo, e se ficar, vai ser por mim mesmo.
- Você vai continuar dormindo com ele nesse quarto?
- Eu não sou nenhuma donzela indefesa, que diabos! Eu sei me cuidar e não acredito que ele vá tentar nada. Homossexualismo não é sinônimo de mau-caratismo. Eu conheço o André há muito tempo e já disse: ele é problema meu.
Tato lançou um olhar de desprezo para André e disse:
- Se você tocar num fio de cabelo da minha irmã, eu acabo com você, ouviu?
Saiu furioso. Renato fechou a porta e encostou-se nela.
- Que loucura, Andy! Por que você fez isso?
- Acredita se eu disser que te amo?
Ele fechou os olhos e começou a chorar.
- Quero você de volta, Andy!
Ela aproximou-se dele e o abraçou forte, tentando não chorar também.
ALÉM DE MIM
NOVAS EMOÇÕES - CAPÍTULO 10
OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!
DEUS ABENÇOE A TODOS!
PAZ E BEM!