31 de Janeiro de 2018 – O dia em que eu disse 'não' à Revista Rolling Stone Brasil
Ouvi o toque do celular: DDD 11. Deixei tocar, não atendo 11.
Tocou de novo. Não atendi.
Chamou mais uma vez. Decidi desligar o celular. Quando o peguei, uma voz interior, imperativa, me disse:
_ Atenda!
Atendi.
_ Bom dia, é o Senhor Paulo Irineu?
_ Sim.
_ Oi, sou a Cris – não tenho certeza se era esse o nome, mas creio que sim – sou encarregada dos contatos com colaboradores da Revista Rolling Stone Brasil. Trabalho com os editores. E tenho uma ótima notícia para o senhor!
_ Sim? Que bom. Mas não precisa me chamar de senhor. Qual é a notícia?
_ Há algum tempo, você nos enviou um exemplar do seu livro 'Ensaio Sobre The Dark Side of the Moon e a Filosofia' e também alguns textos, sobre crítica musical, correto?
_ Sim, há quase dez anos, em 2009, quando lancei a primeira edição do livro.
_ Então. A revista decidiu que quer a sua colaboração. Queremos que você seja um dos nossos colunistas.
_ Cris, me desculpe, mas, como disse, isso foi há 10 anos, quando a revista ainda publicava sobre U2, Nirvana, Janis Joplin, Donna Summer, Legião Urbana, Raul Seixas, Beatles, Rolling Stones, Pink Floyd, Amy Winehouse, Rita Lee. De lá p’rá cá, muita coisa mudou: Pablo Vittar, Anitta, 'artistas' fabricados em série, até o Romário já foi capa da revista. Nada contra esse pessoal, mas eu escrevo sobre música.
_ Você está dizendo 'Não' para a Rolling Stone?
_ Sinto muito Cris, mas não é com vocês. O problema é comigo. Passou da hora, não dá. Inclusive, se o meu livro estiver guardado em alguma gaveta, eu gostaria que você me enviasse, pois os meus exemplares já acabaram e algumas pessoas gostariam de ler. Você sabe o que é ser um escritor independente no Brasil, não é?!
_ Mas ...
Infelizmente, não ouvi o que disse a Cris, pois, neste momento, o cachorro do vizinho latiu e eu fui despertado, para mais um dia de labuta.