Aviso amigável
Havia um estranho som lamentoso vindo do quarto ao lado. Darien Bray colou-se à parede do corredor e foi caminhando cautelosamente naquela direção, pistola numa mão, lanterna na outra. A porta estava entreaberta e ele a empurrou com a ponta do pé. Iluminou o aposento com a lanterna.
O quarto não dava sinais de ter sido ocupado há muito tempo, móveis empoeirados e uma imensa cama de dossel com teias de aranha pendendo do cortinado. O lamento vinha de debaixo do dossel. Darien respirou fundo e puxou o cortinado, levantando uma nuvem de poeira que o fez tossir.
A luz da lanterna iluminou um corpo de homem enegrecido, deitado de costas com as mãos entrelaçadas no meio da cama. Diante de seus olhos, o cadáver sentou-se e apontou-lhe um dedo acusador:
- Darien! Você vai pagar por isso!
Acordou sobressaltado, suando frio no escuro. O mesmo maldito pesadelo, pela terceira noite consecutiva. Quem era o morto? Do que o estaria acusando?
Darien não sabia. Sentou-se na cama, cabeça entre as mãos.
* * *
- Pesadelos, você diz? - Indagou o psiquiatra.
- Começaram há coisa de um mês - explicou Darien. - Estou dando uma batida numa casa velha, e ouço esse som estranho, como um choro, vindo de um quarto. Quando entro lá, há um cadáver queimado numa cama e ele levanta-se e me diz que vou pagar por alguma coisa de que não faço ideia.
- O cadáver fala? - Questionou o psiquiatra.
- Sim. Não é estranho?
- Nem tanto. Pode ser um sinal de alerta, Darien.
Darien aprumou-se na cadeira estofada do consultório.
- Um alerta... do além?
- Não - sorriu o psiquiatra. - Quanto tempo faz que não tira férias?
- Férias... - gemeu Darien. - O senhor sabe como é o trabalho policial. Faz anos que não tiro férias.
- Pois creio que o seu inconsciente lhe mandou um recado: se não começar a cuidar mais de si, vai acabar como o cadáver do seu sonho.
Darien ouviu a explicação em silêncio.
- Está bem. Tem razão.
E erguendo-se da cadeira:
- Sempre pensei que sonhar com mortos fosse de mau agouro.
- Neste caso, considere como um aviso amigável - replicou o psiquiatra, mãos entrelaçadas sobre a mesa.
- [30-08-2020]