O MEU ANJO DA GUARDA - CAP. II

1. O MEU ANJO DA GUARDA (em hebraico: - malach - "mensageiro")

Chapter #2/6

Autor: Moyses Laredo

3º CASO - APRENDENDO A LER DE SÚBITO

Esse fato já contei em meu livro e como usei palavras bem definidas ali, para explicar o ocorrido, me valho delas para reproduzi-las aqui também:

Por exemplo, quem seria capaz de lembrar-se do exato instante, em que, cognitivamente aprendeu a ler? Acredito que, para a maioria das pessoas, esse momento se perdeu no passado longínquo dos escaninhos da mente, sem a menor possibilidade do resgate em suas lembranças. Pois bem, eu me lembro exatamente desse momento!

Aconteceu quando já contava com 8 anos de idade e cursava a 1ª série do primário no Grupo Escolar Marechal Hermes da Fonseca (na época existia: – Jardim de infância ou pré-primário-7 e o primário-8). Na minha época, as crianças somente eram admitidas nos colégios, a partir dos 7 anos. Descrevo minha experiência de olhos fechados.

Nesse dia, vi um ponto branco que se abria do fundo da escuridão da minha mente, partindo por “detrás” dos olhos, permitindo a entrada de luz, para depois, alargar-se até as bordas da tela dos olhos, como um reluzente clarão, comparando com o abrir das telas, dos antigos aparelhos de televisão, essa luz, ou um clarão, como e fosse um suave flash, como abrindo uma cortina preta, na minha mente, iluminando tudo! Pode parecer confuso, mais foi exatamente assim que a minha mente clareou e que me dei conta do entendimento de juntar as sílabas, que tanto a professora mastigara nas aulas anteriores. Neste “écran”, como dizem os portugueses, as sílabas apareceram claras como que flutuando e se juntavam para formar as palavras, de uma maneira tão simplista que fiquei, por uns instantes, duvidando da tamanha simplicidade, fiquei a perceber o quão “cego” estava antes. O grande Leonardo da Vinci, dissera: “A Simplicidade é o último alto grau de sofisticação”, eu havia alcançado então, o tal grau da sofisticação.

Durante essa especial aula, antes desse lapso de entendimento, observava os alunos, mais próximos à professora, que erravam, levavam reguadas nos ombros à torto e à direito, nessa época, as mães autorizavam as professoras a “corrigirem” seus filhos, na base de palmatórias e réguas. Só ouvia os gritos abafados dos coitados. Vi outros acertando e recebendo elogios da mesma professora e eu, na última linha de defesa, digo de carteiras, que a tudo assistia com a maior aflição, e muita excitação, comecei tremer a esperar o pior, levar as minhas reguadas. Sempre tive esse tipo de sensação, o pior de tudo para mim era aguardar a “minha vez de apanhar”, tanto que, quando um moleque dizia “vou te pegar lá fora, na saída,” eu não esperava até chegar a hora, isso era para mim um martírio esperar para “apanhar”, metia a mão nele, e ali mesmo nós nos embolávamos, era comum a mamãe ser chamada na Diretoria. A aflição da espera sempre me angustiou. Até aqueles últimos instantes que precediam a minha vez, não fazia nenhuma noção de como se juntavam as sílabas para formar uma simples palavra, a minha mente era pura escuridão, não conseguia articular nada em forma de entendimento. Como se nada do que a professora ensinasse entrasse na minha cabeça. Dizem que se pode dar esclarecimento, mas entendimento, é coisa íntima de cada pessoa, eu não tinha o entendimento de juntar as sílabas.

Ao aproximar-se minha vez, a expectativa aumentou junto com o nervosismo, meu coração acelerou, bateu mais forte, minhas mãos já estavam molhadas de suor, quando repentinamente sobreveio esse instante de entendimento maravilhoso que ficou eternizado na minha memória. A luz Bendita, adentrou à minha cabeça varrendo a escuridão. Muito tempo depois, li uma contestação escolar, que atribuem a Albert Einstein, que disse: “A escuridão é a ausência da luz”, simplicidade total como na conjectura do Da Vinci, tudo ficou extremamente claro. Vi com uma nitidez desconcertante o complexo desentendimento de momentos atrás, ou seja, o de juntar sílabas para formar palavra. Meu D-US! Como aquilo era simples demais?

Na minha vez, a professora perguntou o que formava com as letras B e A, eu respondi - BA, depois, e com C e o I, completei - CI, e finalmente perguntou-me apontando para a última letra que ficara no quadro, eu li e disse: A. Então a grande pergunta que a todos deixavam no maior pavor. O que é que forma isso tudo junto? Eu enchi os pulmões e soltei: - BACIA! - muito bem, muito bem! Disse ela satisfeita. Dessa lembrança lá se vão mais de meia dúzias de décadas e mesmo assim ainda indelével na minha lembrança. Foi assim mesmo, sem tirar nem pôr. Eu havia começado a ler. Maravilhado, experimentei as outras palavras que haviam sido escritas na lousa e as li também com grande desenvoltura. Nesse mesmo dia, ao sair à rua, após as aulas, pude ler todas as placas do meu caminho, que pela manhã, nem sabia sequer de que se tratavam, uma delas em particular me chamava muito atenção, era uma placa pintada de preto que tinha uma luva branca de mão, aberta no centro e uns dizeres em cima, dessa vez pude ler a misteriosa placa, dizia: “Casa Mão Branca” o sorriso estampou na minha face, me senti orgulhoso.

Cheguei todo eufórico em casa e contei primeiro para a mamãe, ela me deu um beijo e disse parabéns, me elogiou muito, mas ela não me pediu para ler nada, fiquei frustrado, depois entendi, ela por educação não precisou me testar. Alguns anos depois, vim saber que ela pouco estudara, mas, sabia ler e escrever, porém devagar, entretanto, dava muito valor aos estudos e por isso, mantinha sobre todos nós, uma pressão constante, queria que seus filhos estudassem para ser alguém.

Que luz foi essa? O que de fato aconteceu naquele dia? Como de repente uma mente bloqueada há poucos segundos, se abre inexplicavelmente ao tempo de uma fagulha de isqueiro, para ter esse brusco entendimento?... e essa luz que vi entrando na minha mente, primeiro como um filete para depois se alargar por toda tela da mente? Embora o mecanismo do entendimento da leitura, fosse simples sob o ponto de vista de hoje, mas na época, era dotado de uma dificuldade enorme para mim, havia apenas dois anos na escola, além do mais, era uma sala grande e barulhenta, acentuado pelo castigo iminente que precedia todo erro, não era só eu a ter dificuldade no entendimento, muitos alunos já haviam pegado suas ripadas nos ombros, a professora não dispensava, uns ainda choravam soluçando baixinho.

Hoje sabemos que um anjo, nunca fará nada sem a vontade de D’US. ELE sentiu minha aflição e me acudiu. Não pedi explicações do porquê isso não ter acontecido com os outros colegas de sala, “só sei que foi assim”, como dizia o “Chicó”, personagem de Selton Mello, na linda obra Auto da Compadecida, do imortal Ariano Suassuna.

Molar
Enviado por Molar em 21/06/2020
Código do texto: T6983875
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