Eco
Aquele mundo já havia visto vida, em tempos passados ela corria selvagem pelos campos, se estendia do chão tentando tocar o céu e brotava lentamente nos seres pensantes que nele pisavam. Essa era distante agora jazia enterrada junto àqueles que viveram ali, não há grama pintando as planícies ou música vindo com o vento.
Apenas uma alma ainda restava naquele mundo, um ser imortal solitário e preso a pouca sanidade que lhe resta. Vagava entre os campos arenosos e montanhas de pedra bruta, não possuía coisa alguma e com seu nada a tiracolo, ele seguia em frente.
Nunca conhecera outro humano, quando nascera eles já haviam partido e levado consigo as cores daquele mundo. Ele não falava, não havia necessidade disso estando sozinho, ele apenas ouvia o que o vento lhe contava e desenhava com seus passos sobre a areia tudo o que vivera e que ainda viveria.
Em sua mente mantinha a esperança de encontrar vida naquele pedaço de rocha que chamava de lar, todos os dias andava quilômetros procurando aqueles que lhe seriam como iguais, buscando por uma voz menos melancólica que a do vento para ouvir. Talvez esperança não seja a melhor forma de descrever o que sentia, o imortal guardava solidão demais em si, o que fazia de seu desespero um motivador forte o suficiente para lhe impulsionar em sua busca.
Houve o tempo em que o homem achou ter visto outro como ele no topo de uma montanha, uma sombra em movimento, uma mancha contra o céu estrelado. E o imortal subiu a montanha, passando por rochas e chão ressecado, morto. No caminho, olhava para trás com frequência, cada vez mais alto, cada vez mais distante.
No topo não havia ninguém além de si mesmo, fora enganado por seu desespero e por um breve momento sua solidão falara mais alto.
- AAAAAAAAH!
Não havia significado no que gritava, nunca ouvira sua voz ou nenhuma outra até então, para ele, o som era a simples manifestação de seu vazio. E esse vazio seria preenchido pela resposta ouvida, vinda de longe trazida pelo vento.
- AAAAAAAAH!
Aquela era a outra alma que o imortal procurara, a única que respondera em seu momento de fraqueza. A voz vinha de longe, mas estava a sua frente e ele a procuraria esperando que a outra alma estivesse a sua procura também.
Quando chegava onde acreditava que a voz havia se escondido, chamava outra vez e voltava a andar pois ela ainda estava distante. Cada passo o levando para mais perto do fim de sua solidão.
Houve um tempo em que o imortal procurava, uma era esquecida e apagada junto as pegadas que ele deixara. Ele já não vaga, apenas espera pelo momento em que a voz venha até ele por conta própria. Não há mais chamados, não há mais imortal.