A BONECA SEM CABEÇA

   Lilian era uma menina inteligente e amorosa até completar treze anos, como filha única era muito mimada pelos pais, tinha tudo ao seu dispor, um quarto lindo e cheio de brinquedos, até que um pequeno problema de saúde lhe afligiu e preocupou seus pais. A garota passou a ter inquietações de ordem emocional e passou alguns dias internada, não se chegou a um diagnóstico que determinasse o caso, quando teve alta o médico recomendou um tratamento psiquiátrico para ela. Foi um momento doloroso para os pais que se viram impedidos de satisfazerem-lhe as vontades, coisa que vinham fazendo desde a sua mais tenra idade. A menina, porém, se recusou a se submeter a qualquer tipo de tratamento, o que deixou seus genitores em dúvida e até um pouco aliviados, já que ela própria dizia não ser nada.

Passaram-se os dias, semanas, Lilian passou a ter uma vida reservada em seu quarto e sem querer freqüentar as aulas. Seus pais, aborrecidos, mudaram até de comportamento e a deixavam nos seus aposentos achando que estava tudo bem. Estranharam dias depois o desaparecimento de todos os seus brinquedos, exceto uma boneca quase do seu tamanho, Lilian a mantinha sempre junto dela inclusive na hora de dormir. Os brinquedos que notaram o sumiço foram encontrados destruídos dentro de sacos plásticos dias depois no fundo do quintal.

Certa manhã, antes de sair para o trabalho, o pai de Lilian encontrou a boneca dela na sala sem a cabeça. Estranhou o fato e comunicou a mulher que tentou falar com a filha. Ela apenas riu sem dizer nada. Consertaram a boneca recolocando a cabeça, mas no dia seguinte o fato se repetiu, lá estava a boneca na sala sem a cabeça.

Na terceira tentativa de reconstruir a boneca advertiram severamente a menina, nesse dia ela chorou e recolheu-se ao quarto sem sequer se alimentar. Manhã de mais um dia, lá estava novamente a boneca degolada, dessa vez dentro do quarto, sua dona também estava ao lado, também degolada. Incrivelmente Lilian havia improvizado uma guilhotina e executara um crime contra si própria.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 21/05/2020
Reeditado em 14/11/2021
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