Huldufólk

Vakur Bergmarsson parou o SUV no acostamento. À nossa direita, um vasto descampado pontilhado de pedras, que acabava abruptamente sobre o mar; uma paisagem agreste como a própria Islândia.

- Pelo GPS, é aqui - disse-me ele.

- O local é perfeito para o novo hotel, principalmente pelo fácil acesso pela rodovia - avaliei. - Mas creio que teremos que remover boa parte daqueles blocos de pedra do terreno.

- Isso não será assim tão fácil - ponderou Bergmarsson gravemente.

- Basta contratar uma pá mecânica - repliquei, sem entender a razão do comentário.

- Não é um problema de ordem material - explicou Bergmarsson. - Aquelas pedras podem ser morada dos Huldufólk, o Povo Oculto.

Eu já ouvira falar no Povo Oculto, naturalmente; mas, em pleno século XXI, não considerei que os islandeses ainda pudessem acreditar em tais superstições. Olhei surpreso para Bergmarsson.

- E o que acontece se removermos as pedras, afinal?

Ele deu de ombros.

- Todo tipo de problemas com o Povo Oculto, acredite. Máquinas podem quebrar, pessoas podem adoecer... e, mais importante, você vai atrair a ira de boa parte da população da Islândia.

- Esse é um bom argumento - avaliei.

Abri o mapa com os limites da propriedade e o mostrei-o para Bergmarsson.

- Vamos lá então... na sua opinião, quais pontos não poderão ser mexidos?

Ele olhou para o mapa e depois para o descampado, antes de me responder:

- Acho melhor você contratar um especialista nesse tipo de avaliação.

E, diante da minha expressão espantada, ele assegurou:

- Sim, isso é levado a sério aqui na Islândia. Nós temos especialistas para cuidar do assunto.

Os Huldufólk poderiam até não se mostrar aos humanos, mas certamente seus defensores eram gente de carne e osso. Como Vakur Bergmarsson.

- [11-05-2020]