UMA VISITA INESPERADA - LEMBRANÇAS DE UM PASSADO TRISTE
Ted viu a porta se abrir lentamente e surgir aquela menina esguia e de olhar frio e penetrante. Ele se assustou, momentaneamente ficou paralisado, estava sentado na biblioteca de sua casa folheando alguns livros numa bela manhã de domingo, acordara cedo e se prontificara a isso enquanto o resto da família ainda dormia. Passou a mão no rosto e fechou os olhos como a duvidar do que via, realmente, nada mais via ali e a porta permanecia fechada. Ficou sem entender o que acontecera, talvez o sono interrompido logo cedo tenha deixado ele assim.
A tarde, depois do almoço, deitou-se na rede da varanda do pavimento superior do prédio e tentou um cochilo, dificilmente fazia isso dada as atividades corriqueiras naquela imensa propriedade, mesmo em dias de domingo. Ficou admirando aquela imensidão de terras, todas suas, herança do seu pai. Mais uma vez lá estava aquela menina que tinha visto pela manhã na porta da biblioteca, ela estava parada lá embaixo olhando para ele como a cobrar alguma coisa, tinha o semblante de tristeza, porém aquela frieza ao encará-lo. Levantou-se e perguntou o que ela queria, não obteve resposta. Magda, sua esposa, veio ao seu encontro e indagou com quem falava. Ele apontou para o terreiro, no entanto ninguém lá se encontrava mais. Sem poder explicar voltou para a rede e sem sono ficou apenas a imaginar sobre o fato.
Os dias se passaram e aquilo ficou martelando em sua mente até que certa noite um sonho lhe trouxe de volta um passado distante. Elvira, uma menina com quem teve um namoro na juventude, aquilo veio com toda clareza para ele, lembrou-se perfeitamente dela. Mesmo sonhando se viu perturbado, toda a história veio a tona, lembrou-se de tudo. Se engraçara dela, chegou a engravidá-la, mas quando descobriu esse fato desprezou-a, ela insistiu no relacionamento e foi espancada brutalmente. A moça desapareceu e ele nunca mais a viu, como era de família rica o caso foi abafado e todos foram morar em uma propriedade rural até os dias atuais.
Pela manhã levantou-se cedo, o sonho estava lhe perturbando, perdera o sossego, não conseguia mais se manter calmo. Foi até a biblioteca, pegou um livro para ler, bem sentado ficou observando a porta, lembrou-se daquela manhã quando a menina surgiu, ela tinha o mesmo semblante dele, alta, esguia e de olhar firme. Imaginou ela surgir ali novamente, mal terminou de pensar e a porta foi se abrindo lentamente, lá estava ela, séria, encarando ele, olhar de ódio desta vez, o que o deixou preocupado. "O que quer?" - perguntou ele rispidamente tentando esconder o seu medo. Ela respondeu da seguinte forma: "Pai, eu vim lhe avisar que minha mãe morreu e o senhor é o culpado de toda a desgraça dela!" Sem ter mais forças para nada apenas ouviu alguns relatos da menina sobre onde a mãe estava sepultada. Em seguida aquela imagem assustadora sumiu e a porta fechou-se. Aquela menina era sua filha? Não queria acreditar.
No mesmo dia seguiu sozinho para o local indicado pela aparição e lá estava a cova de Elvira e uma foto dela. Apesar do tempo passado ele reconheceu os mesmos traços fisionômicos, aquele olhar penetrante do passado. Quase chorou de emoção, coisa que era difícil nele. Atrás dele estava a menina, apresentava um certo sorriso de satisfação e fez o homem durão chorar de vez. Fez menção de tentar abraçá-la mas ela fugiu, correu até adiante e ficou atrás de um jazigo. Foi até lá em passos cambaleantes e deduziu que ali não estava a menina, mas aquele jazigo pertencia a ela, ali estava sua foto. Ela também era uma falecida.