O Conto do Três vezes três parte sete
Era um dia chuvoso qualquer no meio de Maio no sul do país. Natália estava de saco cheio de tudo e de todos, normal para estes dias insanos. Durante muito tempo Natália escondia um plano secreto que ela havia sonhado durante anos. Era uma utopia a qual ela sonhava.
Ela costumava sair aos finais de semana sozinha para se encontrar com uma pessoa. Pessoa essa, que só aparecia quando ela estava sozinha contemplando o mar, ou quando ela dava as suas voltas noturnas pelas praias. Antes pensava que essa voz era um espírito, algum ser enviado do além para conversar com ela e orientá-la.
Voltando ao dia chuvoso, Natália se cansou, disse para si mesma que não iria suportar mais o peso deste mundo comprimindo sua coluna por eras. Não era mais aceitável que ela deveria seguir as regras ou que ela deveria agir como um algoritmo que faz parte de um grande código superior.
Ela pegou sua mochila, colocou roupas necessárias apenas. Numa mala colocou suprimentos. Em outra mala já previamente arrumada, roupas da sua mãe. Amarrou dois colchões finos por cima da mala. Desceu correndo as escadas e viu sua mãe.
Tenho que descrever o sentimento delas e o ambiente naquele momento.
Natália estava aflita, solitária, ansiosa, descrente e muito triste com os últimos acontecimentos. Sua mãe estava desamparada, deprimida, ansiosa, e sem perspectiva de futuro no auge de seus cinquenta anos.
O ambiente era cinza, as cores e a vida tinham ido embora. Família diminuiu muito rápido por motivos trágicos. Não havia som na casa, era tudo muito silencioso. Não havia animais nem plantas.
- Você vem comigo?
- Para onde minha filha?
- Pro meu sonho mãe. Está tudo aqui comigo.
A mãe de Natália soltou apenas lágrimas pelos seus olhos, sem nem falar nada. Enxugou suas mãos no pano de prato, a emoção vinha subindo no peito.
- Eu sempre acreditei em você filha.
Desligaram a luz da casa, fios de internet e o registro da água. Apenas uma nota foi deixada em cima do balcão de mármore estilo americano.
"Fomos e não voltaremos jamais!"
De mãos dadas, lágrimas caindo, abriram a porta, forma para a rua e pegaram o primeiro ônibus de viagem que parava pelas rodovias, chamado pinga-pinga. Este ônibus ia direto onde era o seu obejtivo.
Adormeceram, o cansaço era grande. Viagem longa, elas sabiam onde estavam indo. O balanço do ônibus as levou em sonho a um mundo perfeito onde a felicidade era grande e as preocupações mundanas já não existiam mais.
Chegando lá Natália desamarrou tudo, colocou no gramado, avistou a sua casa de madeira com a qual tinha sonhado durante anos. Era ali mesmo, elas haviam encontrado tudo o que sempre procuraram em seus sonhos. Sentiam o corpo leve, um perfume que emanava não se sabia de onde fazia com que tudo estivesse calmo e em paz. As cores haviam mudado, tinha verde e amarelo, tinha laranja e azul, tinha mato e animais.
Durante anos eternizadas neste cenário completo e perfeito, a felicidade havia chegado de uma maneira que elas nunca tinham sentido.
Tudo girou num solavanco e Natália flutuando sobre a cena pode ver de longe o ônibus que pegaram há algumas horas atrás caído numa ribanceira. Um sentimento ruim tomou conta, o gosto amargo chegou na boca e um breve calor subiu por seu peito. Piscou os olhos e estava novamente na sua casa de madeira no meio da floresta com sua mãe.
Segurava uma jóia consigo próximo ao peito.
- Mãe, mantenha isso perto de nós, é o nosso refúgio e a nossa segurança neste mundo.