À CAÇA DE UM... PREFÁCIO !

ATENÇÃO - o suposto (ou pretenso) CONTO abaixo está "na fronteira" com a CRÔNICA... e daí ? O que você quer que eu faça ? Não sou MESSIAS e nem faço milagre ! (NATOAZEVEDO)

À CAÇA DE UM... PREFÁCIO !

"A necessidade é a mãe das invenções", teria escrito um "filósofo de botequim", êle mesmo sem inventar coisa alguma a vida inteira. Mas, "inventou" a frase, que repetimos feito papagaios, sem lhe conhecer a autoria. Como necessito de 3 ou 4 Prefácios, armei-me de esperança, disposição e uma espingarda especial, do tipo que desmaia bichos (ou pessoas, se fôr o caso), pois não me propuz liquidá-los. Falo dos Prefácios, caro leitor, estimada leitora... preciso deles bem vivos, ainda que meio grogues, "tontos", anestesiados.

Percorri matas próximas, vielas de subúrbio, esgueirei-me rente a prédios nas grandes cidades, ousei até navegar nesse oceano cibernético a que chamam WEB ou, popularmente, Internet. A "raça" dos Prefácios tem "exemplares" entre animais, peixes ou gente e não são muitos, suponho que estejam em extinção, ocultos da gentalha, da patuléia e de escritores chinfrins como eu, mais desprezado que o pessoal do "Porta dos Fundos", que escandalizou meio país ao apresentar um Jesus gay.

Os Prefácios todos escondem-se, comunicam-se por telepatia, informando aos demais sobre minha presença nas cercanias. Por duas ou três vezes cheguei a vislumbrar 1, "eremita" vagando sem rumo pelas estradas... fiz a mira tremendo, na dúvida onde melhor crivar o dardo, o coração aos saltos, a emoção a embotar-me a vista. Pelo binóculo nossos rostos "se encontraram", vi seu sorriso sarcástico e êle CUSPIU ! Cuspiu com desprezo, quase o ouvi gritar:

-- "Pra você não, idiota" !

Fremi de ódio, por pouco não o matava, não estivesse êle tão distante ! Sumiu entre as sombras do casario centenário, fim de tarde na bela Belém. Recolhi-me à minha insignificância, lamentando a imensa injustiça que me persegue, "judeu no Egito", sem ter de seu um mero prefáciozinho "pé-de-chinelo", do tipo "mendigo faminto e maltrapilho", quem sabe um "bagre, gó, traíra", talvez um "gambá ou caititu".

Cheguei a pensar que -- se pagasse -- teria eu algum exemplar menos exigente a meus pés, a bajular meus "rabiscos" porém, repetindo o ex-juiz Moro, berraram todos:

-- "Não estamos à venda, verme" !

Peregrino no deserto, sinto-me condenado a não ser prefaciado, órfão eterno, cumprindo a "praga" de minha mãe semianalfabeta, que sentenciou:

-- "Escrever não dá camisa a ninguém" !

-- "Mamãe, querida, do alto dos Céus onde estás com meu pai e o irmão mais velho, diga-me que falou por brincadeira... alô, mamãe, você me ouviu" ?!

Após outra noite insone e febril, torno a recarregar o rifle, ponho no bolso 3 ou 4 dardos e refaço meus passos pela cidade. Em alguma esquina toparei com um Prefácio desavisado, desprevenido, a ser "sequestrado" à ponta d'arma, para me servir. Pode até ser um vadio, drogado, inútil, desprezado por quase todos, um pária da Sociedade... "nessa altura do campeonato" qualquer um (me) serve !

"NATO" AZEVEDO (em 3/maio 2020, 18 hs)