O Fim
O peregrino caminhava pelas areias do tempo com o mundo em suas costas, as injustiças que presenciou não se apagavam de sua memória, mas as marcas que seus pés deixavam, eram varridas pelo vento. Os rastros empoeirados das lágrimas em seu rosto, gritavam para o mundo que o sofrimento não se tornara passado. O calor escaldante do deserto queimava a pele dos seus ombros nus e surrados pela longa caminhada desde a última hospedagem de afeto em que descansou.
Em meio ao caos de sua jornada de sofrimento, encontrou refúgio em uma visão encantadora. O céu se abriu em ondas coloridas e tão brilhantes que imaginou ter encontrado Deus.
— Quem você pensa que é? Não percebe que já morreu? Não vê que sua luta não adiará sua viagem de ida ao inferno? — Disse a voz vinda daquela visão transcendental
Percebeu, então, que o que ouvia era sua voz, o que via era sua imagem e o que sentia era apenas a sua presença. Entorpecido, sentiu seus sentimentos caírem como um anjo rejeitado. Tentou abrir os olhos, em vão. Pensou se tudo o que viveu era apenas uma representação de sua imagem. Tentou falar consigo, mas sua voz não existia mais. Sentiu seus sonhos partindo no momento que entendeu que estava morto, e então conseguiu abrir os olhos.
Enxergou a escuridão e ouviu o silêncio.