A MORTE MANDA RECADO

   Daniel adentrou aquela casa depois de alguns meses dela permanecer fechada, não tinha condições psicológicas para por os pés ali, imaginava ser um sofrimento terrível. Os móveis estavam em seus devidos lugares, apenas empoeirados devido ao tempo de abandono, o ar porém não era respirável naquela imensa sala mesmo ele tendo aberto todas as janelas e deixando a brisa entrar. O silêncio era constrangedor, lhe dava calafrios, mas tinha que ali estar, era sua propriedade, era um direiro seu, precisava decidir o que fazer com essa casa que lhe trouxe sérios aborrecimentos.

   Era o mês de dezembro, sua esposa Glícia havia mandado preparar o jantar de Natal para eles e alguns convidados, entre os quais alguns poucos familiares, o pequeno Herbert, filho do casal de apenas cinco anos, brincava no jardim. A noite estava enluarada, as estrelas brilhavam no firmamento e através da janela Daniel o observava. Aquele momento supostamente de alegria não era bem visto por ele, desejaria estar em outro ambiente ao lado de outra pessoa. Glícia sabia da sua infidelidade, mas fazia de conta que estava tudo bem, inclusive conhecia a desafeta, mas o seu temperamento era tranqüilo, não se aborrecia facilmente. Tinha um trunfo nas mãos, esperava o depósito de uma vultosa quantia em sua conta, fruto de uma herança de família, para então propor a separação, fato do conhecimento do marido. O jantar transcorreu dentro de uma harmonia esperada e logo após Daniel se retirou indo atrás da amante.

   Alguns dias se passaram, Daniel ficou sabendo do depósito que foi feito na conta da esposa, as discussões estavam ficando constante, Glícia começou a se impacientar com o marido que não queria a separação. Depois de mais uma tentativa em vão ela deixou a sala e foi para o seu quarto e deitou-se iniciando-se aí um choro convulsivo. Daniel saiu com o filho e voltou só em alguns minutos dirigindo-se ao quarto da mulher. Abriu a porta e lá estava ela dormindo. Com um único disparo de arma de fogo atingiu a testa da esposa. Em seguida escondeu o corpo embaixo da cama envolto em vários lençóis e trancou a porta, antes pegando seus documentos e cartões de bancos. Deixou a residência fechada e tomou destino ignorado pela família. Todos ficaram sabendo que ele havia viajado com a esposa e que o filho deles ficou aos cuidados de uma tia, informando também que a casa ficaria a venda.

   Daniel olhou a escada que dava acesso ao cômodo superior, lá ficava o quarto do casal. Teve um pressentimento de algo ruim chegando a se arrepiar, pensou em desistir, porém algo mais forte o impulsionou a subir a escada. No corrimão da mesma muita poeira e uma coisa chamou a atenção dele, uma frase estava escrita na madeira empoeirada quando ele a tocou: "suba, estou lhe esperando". Daniel quase rolou escada abaixo com o susto que levou, parou por alguns instantes e prosseguiu chegando até a porta dos aposentos. Pegou na maçaneta e girou, não abriu, estava trancada, lembrou que estava com as chaves. Tirou-as do bolso e abriu a porta, para seu espanto lá estava ela, Glícia, deitada na cama com uma arma apontada para ele. Um único tiro acertou-lhe a testa.

  

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 27/04/2020
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