EM NOVA DIMENSÃO DA VIDA

   Finalmente Matilde abriu os olhos, não agüentava mais aquele estado de letargia, aquela cama onde estava há longos dias não era mais um repouso para ela, sentia-se incomodada com essa situação preocupante, seu desejo era se levantar, poder andar pela sala, pelo corredor, chegar até a varanda e voltar a apreciar a grande extensão de terra de seu casarão, como sempre fazia. Queria ter a sensação de liberdade, de ser aquela dona de casa que logo cedo já preparava o café do marido e dos filhos, regava o jardim onde existiam belíssimas flores do seu agrado. Dava ordens aos empregados nas suas atividades rotineiras da fazenda, recomendava a Maria, sua empregada de confiança, a maneira de como arrumar a casa, ela gostava de tudo limpo e nos seus devidos lugares.

   Ela abriu os olhos bem devagar, os raios de sol entravam pela janela do seu quarto e iluminava aquele ambiente que tanto gostava, uma brisa refrescante também adentrava junto com o calor gostoso do sol numa manhã agradável. Matilde percebeu uma grande diferença nesse dia que começava, sentia que tudo ia maravilhosamente bem e até não sentia dor alguma, seu corpo mesmo em relaxamento sobre a cama lhe oferecia perfeitas condições de levantar-se, mas ela ficou em dúvida, não sabia se realmente podia fazer o que tanto aspirava, poderia não ser a hora, pensou. Achou melhor aguardar um pouco para depois tomar essa decisão já que estava se sentindo bem e em condições de retomar sua vida.

   Uma nuvem de lembranças bem vivas despertaram em sua mente, lmbrou-se das brincadeiras com os filhos ainda pequenos, o abraço do marido Antenor quando chegava de suas andanças pelas terras da fazenda em suas atividades rotineiras de checar o trabalho dos empregados por quem era bem quisto. O cuidado com o jardim era indispensável, era de sua total responsabilidade, fazia questão, adorava aquelas flores e sempre pegava algumas para adorno na sala, o perfume delas deixava o ambiente acolhedor, dava-lhe prazer. Veio-lhe a mente o momento que a deixou acamada, um mal estar que fez com que seus movimentos físicos se tornassem limitados, porém com o passar do tempo sua saúde se complicou e teve que ficar na cama, reclamava de dores, praticamente imóvel e dependente de outras pessoas, a sua alimentação era administrada via sonda.

   Matilde se viu apta para levantar, seu quarto parecia o mesmo, olhou através da janela, o sol da manhã lhe beijou o rosto. Ela sorriu e resolveu deixar aquela cama que a aprisionou por longos dias. Estava em forma, nenhuma dor, nenhuma reclamação a fazer, sentiu-se confortável. Caminhou até a sala, acariciou as flores que ali estavam em um jarro, eram as flores do seu jardim. Maria ficou incumbida de colhê-las no seu jardim e colocá-las na sala, ela havia determinado que assim procedesse. Foi até a varanda, apreciou aquela imensidão de terras que lhe pertencia, sorriu mais uma vez. Procurou pelas pessoas da casa, ninguém ali se encontrava, ficou surpresa, ficou imaginando o que teria acontecido. Estaria delirando? Sonhando? Mas tudo era real, Matilde estava consciente, sabia que era difícil de acreditar. Nesse momento ela sentiu uma tontura, sentiu como se estivesse sendo transportada para outro lugar, seus pés não tocavam o solo, estava ela volitando e vendo seu próprio corpo prostrado na cama. Ao redor dele seu marido Antenor, os filhos e sua empregada Maria, todos choravam.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 06/04/2020
Reeditado em 06/04/2020
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