THE END OF THE MISSION
Isso mesmo. Essa é uma carta de despedida. A despedida de um alienígena disfarçado de humano, em missão de espionagem no planeta Terra. Minha missão foi tentar conhecer um pouco mais da espécie humana e transmitir informações aos meus criadores para uma futura ocupação alienígena nesse planeta.
Não posso relatar tudo. Boa parte dos experimentos sociais, das observações e constatações são arquivos extremamente confidenciais. Mas como parte do plano maior, deixo esse texto e um enigma a ser resolvido. A solução do enigma está em um dos meus diversos textos que produzi quando fingi ser poeta e escritor. Procure meus escritos. Procure ler os livros que ajudei a escrever e poderá encontrar algumas pistas.
Fui enviado em missão à Terra em maio do ano de 1990. Usurpei o corpo de uma criança que estava prestes a nascer. Fingir ser um humano normal, nascendo do ventre de uma mãe, como se reproduzem as espécies terráqueas, seria o plano perfeito para viver normalmente entre eles. As espécies animais terráqueas geralmente se reproduzem a partir da gravidez de uma fêmea. Bem diferente do nosso povo alienígena. Não morremos nem nascemos. Somos transcendentais no tempo e no espaço. Somos capazes de mutações que as espécies terráqueas sequer imaginam.
Fui enviado a uma área rural, onde os contatos com meus superiores seriam facilitados, tendo em vista que nos grandes centros urbanos as interferências e campos magnéticos das inúmeras transmissões de sinais dificultariam minha comunicação extraterrestre. Muitas mensagens a mim enviadas, quando detectadas pelos humanos, foram classificadas como OVNI’s. Na verdade os OVNI’s não são propriamente a mensagem e sim o canal de comunicação extraterrestre.
Cresci em meio a uma família simples de agricultores. No campo, em contato mais próximo com a natureza, pude apreciar os encantos desse magnífico planeta que pretendemos dominar em menos de um século. O planeta Terra sempre esteve em nossa mira como um dos territórios a serem ocupados pelos alienígenas. Alguns recursos que esse planeta possui, sequer os humanos conhecem, e nós pretendemos adquiri-los, custe o que custar.
Estudei algumas das principais línguas usadas aqui na Terra. Aprendi a falar um idioma que eles chamam de português. Como fui iniciado usando essa língua, dizem ser esse o meu idioma nativo. Porém, entre os objetivos da minha missão, estava conhecer as várias formas de comunicação dos terráqueos. Assim sendo, compreendo bem o que eles chamam de espanhol e estou tentando compreender o que eles chamam de inglês. também estudo francês e italiano. É um confusão no meu núcleo de memória, pois mesmo depois de tanto tempo em missão nesse planeta, ainda tenho que utilizar minha comunicação alienígena. Por falar nesse termo alienígena, é assim que os terráqueos nos chamam. Nem sequer sabem nossa denominação correta. Isso é engraçado. Também nos chamam de extraterrestres, nem imaginam eles que a Terra será nossa. Em breve, não seremos estrangeiros, seremos os dominadores.
Venho do extremo sul da Via Láctea. Nosso povo já enviou diversos missionários e exploradores em diversas épocas e lugares diferentes. Pelos conhecimentos do planeta Terra, aqui chamado de Geografia, já mapeamos praticamente tudo o que podíamos, inclusive informações que sequer os humanos possuem. Entre essas incríveis descobertas está o Terrax (Terra-X), simplesmente o mineral energético e radioativo mais valioso da galáxia. Sua presença está no manto e no núcleo da Terra. Os humanos ainda não possuem tecnologia para explorá-lo, mas já chegaram bem perto quando descobriram o que eles aqui chamam de pré-sal. Eu prefiro chamar pré-terrax, entenderam?
Uma das formas de conhecer o comportamento dessa espécie terráquea é justamente o que eles chamam de Sociologia. Sociedade é a forma como eles se organizam, daí o termo Sociologia ser empregado como a disciplina ou área de conhecimento das diversas formas de organização da sociedade. Foi por meio dos conhecimentos sociológicos que tentei compreender um pouco mais o comportamento humano. Mas confesso, é uma espécie bem complexa de ser analisada. Em alguns momentos cheguei a cogitar em abortar a missão e antecipar o meu retorno ao lar do criador. Mas se isso ocorresse, sem completar a missão, a punição seria assombrosa. Melhor aguentar os humanos até o fim da missão.
Em minha missão na Terra, disfarçado de humano, vivendo uma vida comum entre eles, acabei me relacionando com essa espécie, porém, sem poder reproduzir descendentes para evitar um choque genético sem precedentes na história das missões alienígenas. Porém, muito em breve, alienígenas e terráqueos estarão livres para reproduzirem uma espécie mestiça. Isso ocorrerá gradualmente até que os humanos sejam lentamente dominados geneticamente com as características alienígenas. Nossa espécie irá naturalmente se impor diante dos humanos por meio de uma “contaminação genético-sexual”.
Guardo comigo informações e segredos que os humanos tentam esconder uns dos outros. Não adianta tentarem me eliminar. Já é tarde. Essas informações estão em um lugar seguro fora da Terra. E como minha missão já está chegando mesmo ao fim, morrer seria a desculpa mais casual para o retorno definitivo aos braços do meu criador e pai da minha importante missão aqui na Terra. Minha partida já está definida.
Ao lerem esse texto, muitos podem se questionar o porquê de torná-lo público si se trata de uma missão secreta. O motivo é simples, a missão está chegando ao fim, já não será segredo para ninguém. Essa foi a última missão secreta de muitas que realizei nesse planeta. De tanto renascer, ou reencarnar como dizem os humanos, me sinto um vampiro vagando por diversas gerações de terráqueos. Mas esse lance de humano-vampiro-alienígena chegou ao fim. Todos já sabem que sou um agente secreto alienígena viajando no tempo e no espaço entre os humanos. Todos já sabem que sou capaz disfarçar entre um pacato ser humano comum até o mais sanguinário dos seres alienígenas.
E se eu teoricamente morrer, na verdade eu não morri. Somos transcendentais. Não será uma partida definitiva. Retornaremos em breve, não somente eu, mas todo o nosso exército alienígena em nossa missão de ocupação definitiva.
Foi bom conviver com vocês. Adeus (até breve, pois voltarei).
O alienígena, missão 1990-2020.