O Homem de Branco

Em uma tarde ensolarada, meu dia se tornou treva, enquanto o sol brilhava pelo lado de fora da janela, o meu olhar se fechava em uma neblina carregada de dor.

Caminhar lá fora já não trás a luz que preciso para o meu interior, e nem mesmo o calor infernal do sol consegue me aquecer mais, e tudo continua em trevas.

Levantando lentamente da beirada do meu leito com as mãos segurando um pedaço de franja que caem sobre meus olhos marejados, encaro as lindas borboletas que sobrevoam o verde do meu jardim, de uma forma ou de outra a luz resplandece sobre as suas asas, enquanto a escuridão se funde ao meu corpo e alma.

Em pequenos passos vou caminhando para o abismo dos meus pensamentos, onde todo tormento se torna real, eu não viajo em meus pensamentos, mas meus pensamentos viajam dentro de mim, do meu abismo particular, e me deparo novamente com luz negra que me cerca diariamente por dentro, resplandecendo por fora.

Ao lembrar que, quando viajo dentro de mim mesmo só encontro a minha voz gritando e implorando pedindo socorro, repetindo milhares de vezes dentro de mim como um eco sem fim em uma caverna escura e úmida.

Com as mãos na cabeça e já sem conseguir segurar as lágrimas tropeço outra vez nos escombros do meu passado, passado esse, que assola meu presente surrando-o com lembranças em que jamais se repetirão outra vez.

Um anjo em que eu tinha se partiu deixando-me completamente vulnerável ao meu próprio mal, anjo que mantinha a minha sanidade controlada.

Berros e gritarias, o eu do meu passado se encontra com o meu presente para discutirem o que seria melhor para o meu eu futuro, deixando-me louco de dor e raiva. O meu presente é muito mais forte e armado, contra os erros do passado, e ataca de forma agressiva.

Sussurros escuto aos meus ouvidos, de uma voz conhecida e muito antiga, tentando criar forças dentro de mim como das outras vezes, pedindo para que eu possa apagar de vez todos os meus pensamentos e folego.

Ao me deparar caído outra vez em meio a lama e espinhos, fico surpreso e sem entender de onde ainda retiro forças para levantar todas as vezes em que meus pés, joelhos, mãos e coração sangram nesse chão manchado de dor, lágrimas e sangue.

Com os pés calejados e cansado de uma estrada que nunca tem fim, de arbustos cheios de espinhos e vultos, continuo a trilhar o mesmo caminho na esperança de encontrar de volta o meu caminho sem dor e limpo, onde um homem de branco segurava minhas mãos e nunca me deixava sangrar, e quando estava cansada a gente parava ele me colocava nos braços e continuávamos a caminhar.

Por fora sou o que as pessoas enxergam e o que aprendi a ser, jamais entenderiam se pudessem viajar comigo dentro de mim mesmo, pois não voltariam com o psicológico saudável ou até mesmo morreriam ali mesmo, mas essa triste estoria é minha e só minha, essa dor não pertence a mais ninguém.

Seria um alívio para toda essa dor se pudesse cessar com tudo de uma vez, mas não posso ir sem reencontrar o homem de branco.

Beatriz Uyara
Enviado por Beatriz Uyara em 16/03/2020
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