Fraqueza

Rindo das nossas bobeiras, estamos atrás do carro do Arnaldo, meu mais falso amor. Ele me namora, eu não lhe correspondo. Olho pra minha mão jovem e vejo o cigarro desmoronar seus resquícios de nicotina sobre o meio fio amarelo. Ele já faz efeito… Mas ninguém sabe. Disfarçamos a tragada, para que não abram nossas doces bocas e descubram o universo que lá se instaura. O ácido nos faz ver mares e secas no estacionamento monocromático do Amaral. Olho para Estela e ela é verde, Arnaldo não tem mais rosto, o doce rosto de minhas fantasias, ele é fumaça de cana queimada. Numa sensação de fuga do mundo, me encontro no espaço na companhia de meus conhecidos.

Voltei, são 10h30. Meu quarto amarelado retorna ao que foi. Arnaldo e Estela já não estão mais aqui, devem ter ido embora quando caí no sono sem perceber. Minha cabeça pesa e caminho lentamente para conferir as trancas do apartamento. Ponho a água do café para ferver e estou com o estômago fraco, acho que não vou almoçar.

Loa Morais
Enviado por Loa Morais em 29/02/2020
Código do texto: T6877051
Classificação de conteúdo: seguro