O PORTAL

Aquela porta de madeira escura, na parede de um lugar que não conseguia identificar. Somente a via nos sonhos ou pesadelos.

Quando a via, sentia um arrepio em seu corpo, uma sensação estranha e desconfortável, de que alí, do outro lado daquela porta, havia algo sobrenatural, totalmente desconhecido, tétrico.

Não conseguia imaginar o porque daquela sensação e isso instigava a sua curiosidade.

A vida seguia normalmente, mas a imagem da porta povoava o seu pensamento, dia após dia.

Um dia, entrou em um parque que nunca havia reparado que existia alí. Deparou-se com uma trilha, onde as árvores eram maiores. Sentiu vontade de ver onde ela terminava.

Caminhou pela trilha e tinha a sensação que já estivera naquele lugar. Algo lhe dizia para continuar caminhando por ela. Caminhou por algum tempo e no final da trilha encontrou uma pedra muito grande.

Observou, por uns instantes aquela pedra e começou a rodeá-la e ao atingir o lado oposto de onde iniciara, lá estava ela. A porta! De madeira escura, encrustada na pedra. Sentiu aquele arrepio em seu corpo quando reconheceu que era a porta dos sonhos, dos pesadelos. Aquela que lhe causava a sensação do sobrenatural, do desconhecido, tétrico.

Observou que havia uma fechadura e resolveu olhar por ela, para ver o que tinha do outro lado. Mas como assim, olhar por uma fechadura de uma porta encrustada em uma pedra?

Pôs a mão na maçaneta e ao girá-la, a porta se abriu.

Do outro lado não via nada, a não ser a escuridão. Pôs a mão e sentiu que havia um vazio a sua frente. Um vazio, escuro e frio.

Não perderia a oportunidade de entrar por ela, pois sabia que acabaria alí a sua curiosidade em saber o que se escondia por trás dela, por trás dos seus pesadelos com aquela maldita porta de madeira escura.

Deu um passo a frente. Nada via, somente a escuridão, o frio e o silêncio. Deu mais um passo e mais outro, sem entender como aquilo era possível, pois tratava-se de uma porta encrustada em uma pedra.

Sentiu a porta se fechar atrás de si mas não se importou, somente queria saber o que tinha alí, naquele ambiente frio, escuro e silencioso.

Deu mais alguns passos e percebeu que pela distância que percorrera alí dentro, já deveria ter atingido o outro lado da pedra, mas não, a sensação era que o vazio era muito, mas muito maior que o tamanho da pedra que vira do lado de fora.

Sentiu medo, mas continuou. Não pararia enquanto não descobrisse o que realmente havia ali, naquele local. Começou a perceber uma claridade um pouco mais a frente e seguiu naquela direção. Ao caminhar alguns minutos em direção à luz, pode ver que havia uma outra porta, do lado oposto e a abriu, achando que tinha finalmente atravessado a pedra e que aquilo tratava-se de uma brincadeira de alguém que pôs as duas portas ali.

Abriu a outra porta e viu que saira em um jardim, muito bonito e florido, com aves, alguns animais silvestres, borboletas, girassóis mas que não parecia com o parque em que estava passeando antes de entrar ali.

Andou mais um pouco e percebeu que as flores não tinham qualquer perfume. Que o silêncio era total, e que os animais e os pássaros, apesar do movimento, não faziam qualquer barulho. A brisa que havia no momento não movia sequer o mais fino dos ramos que brotavam no chão e nem tampouco qualquer folha de arbustos ou árvores. Percebeu também que não tinha nenhum sentimento, seja de beleza, de dor, de amor, de tristeza ou qualquer outro sentimento possível de ser sentido por humanos.

Não sentia mais sede, fome, sono, ou qualquer outra necessidade que sentia antes de ali entrar. Somente uma sensação enorme de vazio e única coisa que conseguia fazer era caminhar para frente.

Olhou para trás e não via mais, nem a pedra, tampouco a porta e não reconhecia mais o caminho que tinha feito. A única coisa que podia fazer era caminhar adiante, sem saber ao certo do porque caminhar.

Andou por horas, por dias, por noites, sem saber mais ao certo que dia, que horas eram. Não tinha também a vontade de saber, pois isso não mais importava. Não importava mais o que encontrasse pela frente pois nada mais tinha sentido.

Nada mais tinha razão. Não diria que estava feliz ou triste, porque os sentimentos não mais existiam, somente aquele vazio. Não havia mais importância do dia seguinte ou do dia que havia passado. Isso não importava mais.

Passava por entre as flores sem se importar se eram amarelas, vermelhas, azuis ou multicoloridas, pois isso não tinha qualquer importância ou razão de ser. Não havia qualquer comparação a ser feita, pois não havia parâmetro para tal. As cores não mais importavam.

Passado algum tempo, sem saber ao certo quanto, sentou-se a beira de um riacho que apesar das suas águas serem límpidas, não as notou. Apenas sentou-se e fechou os olhos.

Depois do longo tempo que ali estava, sem ter nenhum sentimento, de cansaço, sede, fome, tristeza, alegria ou dor, sentiu, e dessa vez muito forte, aquele arrepio de medo e lembrou-se dos pesadelos com a porta de madeira escura.

As emoções tomaram-lhe o pensamento e com a cabeça posta entre as pernas, com os olhos ainda fechados, sentiu um turbilhão de emoções, que tomou conta de sí. Chorou copiosamente por um longo tempo, quase perdendo o fôlego, as vezes, com os soluços que entrecortava os suspiros e lamentos.

Adormeceu. Quando acordou não sabia ao certo quanto tempo tinha ficado no mesmo lugar. Estava ainda com a cabeça metida entre as pernas e já não havia mais silêncio ao seu redor. Sentiu um cheiro desagradável no ar. Levantou sua cabeça e assustou-se com o que via.

Lixo! Muito lixo ao seu redor. Restos de comida, animais mortos. Um leito de esgoto escorria bem perto. Levantou-se zonzo, com dores no corpo. Estava sujo, com as roupas rasgadas e com a barba e os cabelos crescidos e desarrumados.

Sua mente estava confusa, pois não tinha a menor idéia de onde estava e como sair dali. Caminhou em direção á um local mais alto tentando dali visualizar uma saída, uma direção, tentando achar a saída daquele lugar tétrico.

Ali, do alto, conseguiu uma visão bem ampla do lugar. O desespero tomou conta de sí. Não havia mais nada, a não ser, lixo, restos, podridão e um vale de esgoto, seja para qual lado olhasse.

Abriu seus braços, como querendo abraçar o universo. Deu uma gargalhada insana e alta. Sentou-se novamente....e fechou os olhos na tentativa de adormecer novamente e, ao acordar, ver que tudo aquilo não passara de um pesadelo!