A ilha

O mar do Norte, traiçoeiro como sempre, com seus ventos gélidos e suas vozes frias que não se calam depois de mortas.

Onde as ondas são gigantes, e até mesmo grandes navios não são fortes, lá no fim do mundo onde o Sol é obrigado a dar espaço para Lua e sua sombra gótica.

Em terra firme, no grande continente as pessoas morrem de fome, a saída é o velho e traiçoeiro mar, onde fantasmas nadam, mergulham e passam por debaixo do navio velho, onde toda madeira velha range, aqui é a última esperança de sustentar a família.

A velha bússola sempre apontando para esse mar distante, onde há de haver comida para as crianças, mas que cobra uma grande coragem de seus marinheiros.

O velho barco parte rumo ao mar cheio de homens tristes, aqui estão homem em desespero e angustia, pois, suas famílias tem fome.

Sempre com pouca comida eles vão, assim é a vida do homem do mar, cada um com seus pensamentos, seus terrores, durante as tempestades eles se ajudam, ninguém quer morrer antes do pagamento.

O navio está em um mar escuro, onde nem seu Deus pode ver, sem nenhum aviso o vento para, e um assombroso silencio vem.

O velho navio está à mercê do velho mar, e sua tripulação teme por algo pior.

Cegos no escuro do velho mar onde não havia mais ondas, era como se o velho mar tivesse se transformado em um lago calmo, onde poderia até criar patos.

A calmaria e cheiro de morte estavam insuportáveis, e do fundo do velho mar, cadáveres começaram a boiar, eram todos homens do mar.

No escuro da noite os olhos com medo se aguçam para tentar ver alguma coisa,

Sem conseguir eles enganam e a loucura começa a se tornar o fantasma do convés, aquela maldita sombra que anda rápido.

E a velha com roupas rasgadas e aquele sorriso que enlouquece, também está aqui, seu nome: paranoia.

A tripulação não dormia mais, todos queriam saber como essa situação era possível, turnos foram montados para ficar de vigia, olhos fixos no longe escuro do velho mar, como se esperasse algum Demônio antigo se levantar.

Depois de vários dias, algo no horizonte começou a ganhar forma, os mais loucos disseram que era um terrível monstro que ali vivia há espera de carne fresca, seu velho capitão sentiu um arrepio na venha espinha quando viu a coisa.

E então como em um enterro, todos ficaram em silencio, até o velho barco parou de ranger.

Ali estava o velho barco seguindo uma mare que não existia, sendo puxado lentamente por algo invisível, apenas era possível sentir o vento frio que cortava como lamina, ainda era noite, mas aos poucos a coisa foi ganhando forma, era uma ilha.

A ilha foi se mostrando colossal, e com uma montanha que provocava os céus.

A tribulação sentiu alegria e medo ao ver a ilha que se erguia lentamente diante de seus olhos.

O velho navio foi puxado até encalhar na praia, e dali nunca mais poderia sair, pois nem a mare alta alcançaria ele, aquelas areias escuras seriam seu tumulo.

Ali onde o vento traz frio e areia, bem lentamente o velho navio seria enterrado, e todas suas histórias seriam lendas.

E agora sua tripulação moribunda pisava em areias desconhecidas, como crianças assustadas eles estavam.

Era uma praia muito grande, sem sinal de vilas por perto e mais a frente uma selva tão escura que parecia ser o fim.

Suas carcaças fedidas caíram na areia escura como mortos condenados, ainda com areias nos velhos olhos, eles viram uma cabeça de caveira, todos ali sabiam que isso era mal agouro.

Mas a fome e a curiosidade falaram mais alto, afinal para onde iriam?

Olhando para a cabeça de caveira que estava de boca aberta, tentaram imaginar o rosto desta pessoa, se era homem ou mulher, e qual terrível fim teve para estar ali.

Ali estava a cara do desespero e da dor, isso era certeza, agora era a vez de eles descobrirem, para dentro da selva fechada eles foram, como aventureiro moribundo tentando saber sobre a monstruosa ilha, procurando uma saída.

Logo mais há frente acharam um lago, tão calmo que dava arrepios, e nele era possível ver o reflexo da lua.

Ali se abraçaram, como se estivessem esperando a morte certa, mas um deles teve a ideia de fazer uma fogueira, e assim teve fogo para os velhos olhos cansados, e outro sentindo a fome comer suas pobres entranhas fez uma lança longa, e esse caçou como animal selvagem com fome.

E das redondezas ele trouxe um grande javali, e então todos choraram de alegria, pois mais uma vez poderiam matar sua fome, ali estavam homens simples de coração puro, meio lerdos e boca suja, mas eram honestos, para muitos seus defeitos era serem pobres.

Eles eram velhos lobos do mar, desconfiados da própria sombra, sempre dormiam com uma faca na cintura e outra debaixo da trouxa de roupa usada como travesseiro.

Eles sentiam que algo tinha nessa velha ilha, eles sabiam que o velho mar do Norte adorava matar marinheiros.

A noite era estranha, não vazia muito frio e no dia não fazia muito calor, nada disso era normal, pois eles eram velhos lobos do mar e tudo sabiam sobre ilhas, mas essa era diferente, em toda sua volta um mar calmo, sem ondas ou ventos, a velha bussola estava louca. E sem saber como explicar, o velho capitão provou um gole do velho mar, e descobriu que tinha gosto de sangue e sal.

Toda a tripulação entrou em desespero e começou a gritar que isso era coisa da velha bruxa do mar, aquela maldita velha de pele verde que fede a peixe, aquela maldita que anda em sua jangada rindo como louca e amaldiçoando navios.

Todos olhavam para o horizonte tentando ver a velha bruxa rindo, mas nada viram apenas o mar estranhamente calmo e um frio na nuca.

Uma estrela cadente estranha cruza os céus, uns fazem desejos de irem para casa, outros acham que é sinal de mau agouro, pois uma estrela tão feia não poderia trazer coisas boas.

A estrela estranha caiu ao norte da ilha, uma enorme explosão aconteceu e toda ilha tremeu, por um momento era como se um gigante se levantasse, mais uma vez os pobres marinheiros se abraçaram e sentiram medo, naquela imensidão de escuro, apenas com sua pequena fogueira, a morte parecia acariciar os poucos cabelos.

Como sábios velhos do mar, eles esperam amanhecer, para então ver a tal estrela estranha que caio, agora com seus estômagos cheios e suas lanças longas, alguns levavam pedaços de madeira e pedras, eles se sentiam como homens das cavernas, com paus e pedras e medo do desconhecido.

Assim caminharam naquela manhã calma em direção ao norte, todos com olhos aguçados, pois na ilha parecia ter mais coisas que olhos velhos e cansados pudessem ver.

Era como ser observado sempre, quanto mais no fundo da selva eles estavam, mais era terrível a sensação de observação, caminhando com medo olhando de canto de olho, tentando ver aquilo que não é deste mundo.

O medo cresce como uma serpente faminta, e para todo canto eles veem rostos deformados, nas sombras das arvores, estranhas sombras parecem dançar.

E grandes olhos vermelhos estão olhando, é tão profundo que eles se sentem mau, parece que todo peso da ilha está aqui, suas pernas tortas se curvam ainda mais, o suor cai nos velhos olhos cansados forçando uma lagrima.

Agora eles pensam se essa foi uma boa ideia, atrás deles nem um ruído do velho mar, mas agora em sua frente, uma grande clareira com a estranha estrela cravada no chão.

Ali estava uma pedra estranha, que nenhum deles havia visto ou imaginado, ela tinha alguns buracos que parecia que algo estava vivo dentro dela, e dos mesmos uma nevoa saia, nunca foi visto isso.

Diante da estrela estranha a nevoa se espalhava, calma como o velho mar, mas ao tocar os pés dos velhos marinheiros uma dor de frio eles sentiam, então eles se afastaram e montaram acampamento ali perto, olhos velhos pregado na coisa, perderam a fome e a sede, tudo que eles tinham era a curiosidade.

O mais novo se chamava Eff, e estava mais curioso que os outros, então na calada da noite, com movimentos de um rato ladrão ele se aproximou da estranha estrela e a tocou com a mão esquerda, sentindo um arrepio na nuca e um leve tremor nas pernas, ele tocou com a outra.

Seus velhos olhos ficaram cegos, sua cabeça vazia foi invadida por imagem de antigos Demônios que abitavam essa terra, e de grandes palácios que ninguém conheceu,

Uma realeza inteira de Demônios, eram tantas imagem e cheiros que ele foi jogado para longe.

Na manhã seguinte Eff sente uma dor terrível em seu ombro esquerdo, era como se algo se mexesse dentro dele, a dor era alucinante, e entre um desmaio e outro, Eff sonhou ser rasgado de dentro com tamanha força violenta.

Era como se alguma coisa te usasse como porta e estivesse tentando arrombar essa porta, a dor era sem igual, todo corpo dele doía cada centímetro de músculo.

Mas em uma noite escura como as trevas, algo aconteceu, Eff gritava como louco, e do nada o vento soprou a ilha e ondas gigantes lavavam a praia.

Foi a coisa mais nojenta que eles viram, o ombro do Eff estava inchando cada vez mais, até entre um grito e outro, um rosto começar a se formar no ombro dele.

E sua pele ressecada pelo Sol começar a se rasgar, e debaixo dos ossos do ombro uma cabeça começar a gritar, Eff gritava e se assustava com sua nova cabeça que empurrava seus ossos para sair. Em meio ao sangue a nova cabeça se afoga e tenta sobreviver, e Eff grita como louco, os outros olham paralisados e sem expressão, até que a nova cabeça consegue sair.

Ela olha para Eff com espanto e nojo, seu olhar é de um animal selvagem, sem aviso a nova cabeça morde e come a cabeça do Eff, a cena é demais para contar.

Ao fim da comilança, apenas sobrou poucos ossos e carne do velho Eff, então a nova cabeça controla o corpo do marinheiro velho. Com urros de um animal selvagem ele grita para Lua, e começa a correr atrás dos outros.

Todos correm, cada um para um lado com medo da fera, a noite parece não ter fim.

Todos correm e tentam se esconder, mas essa cabeça não é como o velho Eff, essa é mais esperta, um por um caçado como porcos, seus pedaços espalhados por aí, para sustentar o ego da fera.

cristiano siqueira
Enviado por cristiano siqueira em 05/01/2020
Código do texto: T6835018
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.