QUANDO UM PALHAÇO CHORA
O circo chegou, a garotada está em polvorosa, a animação é total naquele lugarejo onde os folguedos demoram a acontecer, onde as festas com brinquedos e roda gigante é só uma vez por ano e olhe olhe! O circo chegou, o velho caminhão já começa a descarregar o material para armarem a lona e darem início aos espetáculos. Uma carreta traz o material mais pesado, as ferragens, as tendas onde os artistas e familiares vão se alojar serão armadas também, de forma que o clima na cidade começa a mudar com esses visitantes que vieram trazer alegrias para o povo.
Sai o palhaço com sua perna de pau pelas ruas perguntando: "hoje tem espetáculo?" e a meninada ao redor que o segue responde na maior alegria: "tem sim, senhor!". Aqui e acolá vai juntando mais gente, sorrisos estampados em rostos sofridos pela pobreza do interior, porém cheios de felicidade pelo encanto do circo. "E o palhaço o que é?", tendo como resposta um côro que diz assim: "ladrão de mulher!" Aquela meninada que segue o alegre palhaço já tem entrada garantida de graça no circo por estarem ajudando na divulgação do evento.
Enfim, depois de dois ou três dias de trabalho, o circo está armado, tocam músicas alegres no alto falante instalado no mastro no meio dele, as filas começam a dar um ar de graça ao local, vem gente até de fora para prestigiar a chegada de artistas, trapezistas e cantores, um mundo de magia que faz a população esquecer os seus problemas. O pipoqueiro se posiciona próximo a fila da bilheteria, o sorveteiro ali está para refrescar a goela dos apreciadores da arte circence, além de vendedores de balas e outras guloseimas. Alguns meninos atrevidos tentam passar por baixo do arame que cerca o circo, mas são impedidos pelo pessoal que faz a segurança.
Termina o espetáculo, os espectadores vão para suas casas e os artistas se recolhem para tirarem suas vestes coloridas e a maquiagem que enfeita o rosto. A maioria feliz por ter cumprido mais uma etapa de suas vidas, alguns com um certo ar de melancolia e até entristecidos com algum problema pessoal, alguém como o palhaço "Chiclete" que sempre se recolhe de cabeça baixa, tira sua maquiagem, troca de roupa e vai para sua tenda onde deixa rolar algumas lágrimas de tristeza. Logo ele que é a alegria da garotada, logo aquele palhaço que fez todo mundo rir? No palco ele riu, brincou, caçoou e deu a impressão de ser uma pessoa extremamente feliz, esbanjava uma tranqüilidade impressionante, é certo que esse é o seu trabalho, mas o fato é que as pessoas que assistem ao espetáculo levam isso para o seu lado pessoal, se um palhaço age assim é porque isso é da natureza dele, é da alma. Não sabem que para sobreviver o indivíduo é capaz de tudo, até de modificar a sua personalidade.
Chora o palhaço, uma fraqueza lhe abate a alma, um dilema em sua vida o preocupa, chora o palhaço por não conseguir superar um problema pessoal. "Chiclete", ou simplesmente Raimundo, um homem rude vindo das brenhas e sem muito estudo, um cara que desenvolveu a habilidade de alegrar as pessoas contando piadas e causos do interior, lamenta ter perdido a esposa para outro homem, uma mulher que ele amava e que lhe deu dois filhos. Uma traição dela desesperou ele, mas ela preferiu o outro para encobrir seu erro, por ele aceitaria a esposa infiel, mas não foi possível, o que o fez ficar triste com a vida, não fosse essa vida de palhaço levando alegria para as pessoas talvez nem estivesse mais aqui na Terra, já teria sucumbido de tanta tristeza.