Centelha

Sebastião acorda pra sua vida. Sebastião tem 16 anos, auge de sua adolescência, ele sabe que tem charme. Seu penteado é o melhor da escola, sua rotina é tentar fazer algo que chame atenção ou deixe sua marca, nem que a marca seja comparada ao mijo de um cão num poste qualquer. Suas maiores preocupações: não ficar sem menininha pra pegar e se vai comprar o disco dos Cranberries ou ASAP. Tião, como gostava de ser chamado, era um menino fácil de conhecer.

Max acorda pra sua vida. Max se considera “do avesso”, não tinha propósitos e nem questões, deixava a vida escorregar por entre seus dedos, ele não tinha gosto por nada, 16 anos, não se encaixava, era admirado por ser um aluno exemplar, ele não se enxerga. Mas, ele não tem aqueles vícios de adolescente? Ele joga League of legends, isso era pra ele uma ligação com o comum, indiferente.

Tião amava se olhar no espelho, fazer poses e caretas, brincar de declarar poemas decorados de um livro qualquer de romance fútil pra iludir qualquer guria que o interessasse, pra ele, a vida poderia continuar assim pra sempre, mas tinha algo faltando, ele ignorava esse sentimento, tristeza é coisa de doido, e ter dúvidas era perca de tempo pra ele.

Max evitava o espelho a todo custo, ele realmente não queria acreditar que estava ali, deitar na cama pra sempre até mofar não era uma má ideia, por que as outras pessoas viviam normalmente? O que tinha na cabeça delas que não tinha na dele? Ele era defeituoso? Eu ainda me pergunto. Ninguém tinha a chance de conhecê-lo.

O que perturbava a cabeça desses garotos? O que faltava pra um era muito pra outro? Por que isso me incomoda? Bom, de um jeito de outro, eu tenho o controle sobre isso, eu já fiz a minha escolha.

Max acorda pra sua vida. Max sente um impulso mas ao mesmo tempo naturalmente se olha no espelho.

Sebastião é encontrado morto em seu quarto de causas naturais, tão jovem, dizem eles.

Max sorri.

“Tão jovem, que pena”

Eu vejo uma chance.