O CINEMA PORNO
As damas e os cavalheiros entravam sós ou aos pares no grande lobby do cinema elegante cheio de luz e côr.
Por vezes até eles próprios traziam jóias cintilantes, ostentavam vestidos cumpridos e trajes de cerimónia, laços e cartolas e nem ao de leve se extasiavam com os quadros expostos nem com as carpetes vermelhas que desenhavam caminhos para admirar a exposição colectiva dos outros artistas.
Limitavam-se a entrar e soltar uma flatulência silenciosa,esgalhar uma e depois talvez deixar escapar um esgar fugidio de auto estima e repulsa .Viravam as costas,com desdem, numa atitude de superior desprezo, demonstrando simultaneamente um encantador nível abaixo da média esperada.
Era como um site de arte em que cada um postava as suas obras para auto-contemplação exclusiva e não se interessasse no mínimo pelas dos outros.
Não se sentia a presença de nenhum anfitrião ou administrador preocupado a tentar dinamizar a interacção e o diálogo.
A liberdade e o silêncio predominaveam como valores absolutos.
Mas era precisamente isso que tornava aquele lugar tão fascinante e único: a demonstração sincera e genuína do egoísmo humano. do narcisismo obsceno e da indiferença abjecta.
Também ela deslumbrante no seu vestido de noite Valentino fez a sua grande entrada no recinto, deu uma volta ampla e langorosa, arrotou longa e ruidosamente num som cavo e rouco e voltou a sair sem grande alarde e discretamente.
Como dizia a velha estrela, uma legenda de Hollywood…
“Make big entrances and brief farewells”