SABE ONDE EU ESTAVA ONTEM?
Casado por 20 anos, fui abandonado por minha mulher. Ela não tolerava mais as minhas saídas com as amigas, com meus namoros, permitidos por mim e condenados por ela. Nós desenvolvemos paradigmas de vidas diferentes. Ela acreditava e praticava o casamento com a fidelidade do amor exclusivo; eu acreditava no amor incondicional e praticava a fidelidade ao amor inclusivo. Isso implicava que ela só se permitiria a ter relações afetivas, com ou sem sexo, comigo; isso implicava que eu me permitia a ter relações afetivas com ou sem sexo, com tantas mulheres que o Pai colocasse no meu caminho e que houvesse sintonia e condições de realização entre nós.
Frente a tamanho conflito de interesses, fizemos o máximo para convivência juntos, até me sujeitei a passar 8 anos morando com ela e sem a procurar para o sexo, pois ela já se incomodava com essa situação. Vivíamos assim durante esse tempo como “bons amigos” que eu queria ser e que ela tentava se esforçar.
Mas, infelizmente, chegou o dia que para ela foi a “gota d’água”: colocou-me para fora de casa de forma agressiva, violenta, com palavras duras e definitivas: “Vá embora para longe de mim, fique perto de suas raparigas para as quais você dá mais valor”!
Não havia mais possibilidade de acordo. Submisso sai de casa levando apenas o básico para a minha caminhada, não fazia questão pelos bens materiais. Procurava apenas ser justo naquilo que não causasse tanto transtorno emocional.
Fiquei assim por anos, conduzindo a minha vida como eu imaginava que deveria viver, praticando o amor incondicional ensinado pelo Cristo e dentro dele o amor inclusivo que permitia eu me aproximar das mulheres do meu entorno com postura afetiva, sem preconceitos e com respeito, jamais penetrando em terrenos que levassem prejuízo ao próximo.
Em um dia de chuva fina, quando caia a tarde e subia a noite, eis que me vejo em frente ao trabalho dela. Olho aquelas estruturas por onde antes eu caminhava e ia lhe pegar para levar para casa, antes passando no self-service para almoçarmos.
No dia seguinte, refletindo sobre o ocorrido, resolvi escrever para ela e colocar como nunca dantes eu fizera o que ia em meu coração.
Sabe onde em estava ontem?
Ontem, quando as luzes da cidade começaram a se acender mais cedo pois o tempo chuvoso acionou precocemente os dispositivos de iluminação artificial... quando as nuvens não permitiram ver as estrelas que já estariam brilhando sobre nós, inclusive aquela que sempre me guia, a Estrela d’Alva, aquela que desperta em mim a oração da Ave Maria, da proteção que tanto preciso... eu estava em frente ao prédio que tu trabalhas.
Sei que você não estava lá, mas as memórias sim. Não importava com as lágrimas que rolavam pelo meu rosto, pois pouca gente circulava naquele momento, não tinha tanta luz, e as gotas da chuva que molhavam meu corpo disfarçavam muito bem o pranto silencioso pela face.
Os meus olhos embaçados viam apenas a rampa que no passado tu descias ao meu encontro. Eu estava ali como testemunha, molhado pela chuva. A lâmpada dos postes fazendo a projeção das gotas que caiam. Alguém correndo aqui, acolá, tentando se livrar da chuva com seus oportunos guardas chuva.
A minha mente, sintonizada no passado, via você descendo pela rampa, riso largo no rosto, silhueta juvenil e sensual, um olhar claro e feliz ao sintonizar com o meu. Era como se o meu corpo molhado tivesse contemplando a cena à distância. Eu pegava a sua mão, a enlaçava pelos ombros, beijava seus cabelos e íamos em direção ao self service para almoçarmos. Enquanto o casal se afastava em plena felicidade, eu, o observador, sentia o fluxo das minhas lágrimas aumentarem. Eu chorava por mim e por ti. Minhas lágrimas, simplesmente, tentavam limpar o sofrimento de minha alma. Perguntava que tipo de encantamento era esse que deixava duas pessoas que se amam e querem viver juntos para sempre, de repente separados por fortes emoções que impedem uma simples aproximação?
Então, minha querida (permita que eu te chame ainda assim, e mesmo que não permitas, eu já o fiz, pois faz parte da minha essência: te amar), esta é a pergunta que faço para ti: sabe onde eu estava ontem?
Imagino que você poderia me responder assim, cheia de raiva:
“Sim! Sei sim! Estava com suas putas, se alegrando com elas, lamentando o tempo que perdeu comigo, me iludindo, dizendo que me amava. Rindo do amor que despertou em mim, mas que nunca considerou; se regozijando dos sonhos que me roubou e que nunca mais tive coragem de produzir outros. Não quero saber de sua vida mundana, do seu egoísmo, de não querer ficar nem perto do filho especial que construímos juntos. Sim, você tem razão, não quero que me chame de “querida” pois é hipocrisia. Querida é quando se quer ficar junto de uma pessoa, e você somente quer o mundo que lhe oferece tantas outras que você pode chamar da mesma forma, de querida. Sim, viva sua vida de orgias e prazeres com tantas quantas se aproximem de você e inadvertidamente caiam em sua rede. Não procures saber se eu sei por onde tu andas, pois eu sei muito bem!”
Esta era a carta que eu nunca enviei e a resposta que eu nunca recebi.
Este é um mundo que se forma em outra dimensão e que nós habitamos com perspectivas diferentes.
Em um momento único, um transe, uma espécie de sonho, nós podemos vislumbrar um pouco dele.
Vi assim os mundos opostos que passamos a viver, pela ótica da minha imaginação.
Eu, sozinho, arrodeado de tantas pessoas, distribuindo amor de diversas formas, aos diversos gêneros, como essência de minha missão na Terra, lamentando o grande amor que ela representava para mim na realidade e que hoje consigo manter apenas nos sonhos, de forma solitária, sem a participação dela.
Ela, sozinha, com tantas dificuldades emocionais, mágoas, ressentimentos, falsas compreensões da realidade, da percepção do mundo mental que habito, imaginando que nunca a amei, sem saber que eu a amei muito mais do que ela me amou.
Agora, ela nunca iria aceitar que naquela tarde/noite chuvosa eu encontrei com ela, que a levei pela mão, com dedos entrelaçados; que senti seu perfume, me embalei no seu riso, e com sua voz me acariciei. Que não existia mais ninguém naquele espaço que sempre é tão cheio, de carros, de pessoas; de vendedores, de transeuntes apressados ou carregados. Éramos somente nós. A chuva que me molhava do meu observatório, não conseguia evitar o brilho do sol pelo nosso caminho, da beleza das flores rústicas e singelas que eram as testemunhas do que acontecia. Sim, minha querida, que pena que você não possa penetrar na magia do nosso olhar ao se encantar um pelo outro, como eu me encantei, como eu viajei no brilho da tua alma, que no meu mundo ela, tua alma, está sintonizado com a minha.
Casado por 20 anos, fui abandonado por minha mulher. Ela não tolerava mais as minhas saídas com as amigas, com meus namoros, permitidos por mim e condenados por ela. Nós desenvolvemos paradigmas de vidas diferentes. Ela acreditava e praticava o casamento com a fidelidade do amor exclusivo; eu acreditava no amor incondicional e praticava a fidelidade ao amor inclusivo. Isso implicava que ela só se permitiria a ter relações afetivas, com ou sem sexo, comigo; isso implicava que eu me permitia a ter relações afetivas com ou sem sexo, com tantas mulheres que o Pai colocasse no meu caminho e que houvesse sintonia e condições de realização entre nós.
Frente a tamanho conflito de interesses, fizemos o máximo para convivência juntos, até me sujeitei a passar 8 anos morando com ela e sem a procurar para o sexo, pois ela já se incomodava com essa situação. Vivíamos assim durante esse tempo como “bons amigos” que eu queria ser e que ela tentava se esforçar.
Mas, infelizmente, chegou o dia que para ela foi a “gota d’água”: colocou-me para fora de casa de forma agressiva, violenta, com palavras duras e definitivas: “Vá embora para longe de mim, fique perto de suas raparigas para as quais você dá mais valor”!
Não havia mais possibilidade de acordo. Submisso sai de casa levando apenas o básico para a minha caminhada, não fazia questão pelos bens materiais. Procurava apenas ser justo naquilo que não causasse tanto transtorno emocional.
Fiquei assim por anos, conduzindo a minha vida como eu imaginava que deveria viver, praticando o amor incondicional ensinado pelo Cristo e dentro dele o amor inclusivo que permitia eu me aproximar das mulheres do meu entorno com postura afetiva, sem preconceitos e com respeito, jamais penetrando em terrenos que levassem prejuízo ao próximo.
Em um dia de chuva fina, quando caia a tarde e subia a noite, eis que me vejo em frente ao trabalho dela. Olho aquelas estruturas por onde antes eu caminhava e ia lhe pegar para levar para casa, antes passando no self-service para almoçarmos.
No dia seguinte, refletindo sobre o ocorrido, resolvi escrever para ela e colocar como nunca dantes eu fizera o que ia em meu coração.
Sabe onde em estava ontem?
Ontem, quando as luzes da cidade começaram a se acender mais cedo pois o tempo chuvoso acionou precocemente os dispositivos de iluminação artificial... quando as nuvens não permitiram ver as estrelas que já estariam brilhando sobre nós, inclusive aquela que sempre me guia, a Estrela d’Alva, aquela que desperta em mim a oração da Ave Maria, da proteção que tanto preciso... eu estava em frente ao prédio que tu trabalhas.
Sei que você não estava lá, mas as memórias sim. Não importava com as lágrimas que rolavam pelo meu rosto, pois pouca gente circulava naquele momento, não tinha tanta luz, e as gotas da chuva que molhavam meu corpo disfarçavam muito bem o pranto silencioso pela face.
Os meus olhos embaçados viam apenas a rampa que no passado tu descias ao meu encontro. Eu estava ali como testemunha, molhado pela chuva. A lâmpada dos postes fazendo a projeção das gotas que caiam. Alguém correndo aqui, acolá, tentando se livrar da chuva com seus oportunos guardas chuva.
A minha mente, sintonizada no passado, via você descendo pela rampa, riso largo no rosto, silhueta juvenil e sensual, um olhar claro e feliz ao sintonizar com o meu. Era como se o meu corpo molhado tivesse contemplando a cena à distância. Eu pegava a sua mão, a enlaçava pelos ombros, beijava seus cabelos e íamos em direção ao self service para almoçarmos. Enquanto o casal se afastava em plena felicidade, eu, o observador, sentia o fluxo das minhas lágrimas aumentarem. Eu chorava por mim e por ti. Minhas lágrimas, simplesmente, tentavam limpar o sofrimento de minha alma. Perguntava que tipo de encantamento era esse que deixava duas pessoas que se amam e querem viver juntos para sempre, de repente separados por fortes emoções que impedem uma simples aproximação?
Então, minha querida (permita que eu te chame ainda assim, e mesmo que não permitas, eu já o fiz, pois faz parte da minha essência: te amar), esta é a pergunta que faço para ti: sabe onde eu estava ontem?
Imagino que você poderia me responder assim, cheia de raiva:
“Sim! Sei sim! Estava com suas putas, se alegrando com elas, lamentando o tempo que perdeu comigo, me iludindo, dizendo que me amava. Rindo do amor que despertou em mim, mas que nunca considerou; se regozijando dos sonhos que me roubou e que nunca mais tive coragem de produzir outros. Não quero saber de sua vida mundana, do seu egoísmo, de não querer ficar nem perto do filho especial que construímos juntos. Sim, você tem razão, não quero que me chame de “querida” pois é hipocrisia. Querida é quando se quer ficar junto de uma pessoa, e você somente quer o mundo que lhe oferece tantas outras que você pode chamar da mesma forma, de querida. Sim, viva sua vida de orgias e prazeres com tantas quantas se aproximem de você e inadvertidamente caiam em sua rede. Não procures saber se eu sei por onde tu andas, pois eu sei muito bem!”
Esta era a carta que eu nunca enviei e a resposta que eu nunca recebi.
Este é um mundo que se forma em outra dimensão e que nós habitamos com perspectivas diferentes.
Em um momento único, um transe, uma espécie de sonho, nós podemos vislumbrar um pouco dele.
Vi assim os mundos opostos que passamos a viver, pela ótica da minha imaginação.
Eu, sozinho, arrodeado de tantas pessoas, distribuindo amor de diversas formas, aos diversos gêneros, como essência de minha missão na Terra, lamentando o grande amor que ela representava para mim na realidade e que hoje consigo manter apenas nos sonhos, de forma solitária, sem a participação dela.
Ela, sozinha, com tantas dificuldades emocionais, mágoas, ressentimentos, falsas compreensões da realidade, da percepção do mundo mental que habito, imaginando que nunca a amei, sem saber que eu a amei muito mais do que ela me amou.
Agora, ela nunca iria aceitar que naquela tarde/noite chuvosa eu encontrei com ela, que a levei pela mão, com dedos entrelaçados; que senti seu perfume, me embalei no seu riso, e com sua voz me acariciei. Que não existia mais ninguém naquele espaço que sempre é tão cheio, de carros, de pessoas; de vendedores, de transeuntes apressados ou carregados. Éramos somente nós. A chuva que me molhava do meu observatório, não conseguia evitar o brilho do sol pelo nosso caminho, da beleza das flores rústicas e singelas que eram as testemunhas do que acontecia. Sim, minha querida, que pena que você não possa penetrar na magia do nosso olhar ao se encantar um pelo outro, como eu me encantei, como eu viajei no brilho da tua alma, que no meu mundo ela, tua alma, está sintonizado com a minha.