UM CASAMENTO QUE NUNCA EXISTIU
Adriana viu aquele homem pela primeira vez e logo se apaixonou, não sabe explicar a razão dessa sua decisão, apenas ignorou tudo que deveria existir antes de uma relação e já foi se apegando ao desconhecido que cruzou com ele na estação de trem antes de ir para o trabalho. Seus olhares se encontraram, ela com um leve sorriso e ele sério e talvez indiferente ao que aconteceu. O homem continuou caminhando, diminuiu só os passos, enquanto ela parou e ficou a admirá-lo gerando um certo incômodo nele. No trabalho ela não conseguiu se concentrar bem por ter ficado com aquela imagem do desconhecido em sua mente, durante todo o dia não deu para esquecê-lo e na volta para casa imaginava encontrá-lo novamente na estação, mas isso não aconteceu.
Na manhã seguinte Adriana tinha certeza que iria encontrá-lo e foi exatamente da mesma forma do dia anterior, cruzou com ele, se olharam, porém algo a impediu de se aproximar dele, que até parou, mas não esboçou qualquer reação para cortejá-la, apenas olhou-a com um tímido sorriso e seguiu seu caminho. Ela embarcou no trem de onde ele havia descido e no seu percurso normal ficou a imaginar o que ele tinha a fazer naquele bairro onde justamente ela morava, havia de investigar.
Passaram-se alguns dias e nada de Adriana encontrá-lo na estação, ficou preocupada, afinal o que teria acontecido? Teria ele se incomodado com esses encontros? Não teria simpatizado com ela, modéstia a parte, uma moça bonita e elegante? Tinha presença e um trabalho digno e o principal, era solteira. Ah! Mas ele poderia ser casado apesar da pouca idade que aparentava. O tempo ia passando mas o desconhecido não lhe saía da cabeça, havia de encontrá-lo novamente e dessa vez não lhe escaparia, abordaria ele de qualquer jeito e conversariam.
Adriana não conseguiu namorar mais ninguém desde que acabou com o último rapaz com quem manteve um rápido romance, seu pensamento agora estava voltado para esse estranho rapaz com quem cruzou duas vezes e já estava perdidamente apaixonada, somente ele lhe interessava. Ela continuou com sua rotina normal, ia todos os dias pegar o trem na estação com a esperança de encontrá-lo, mas era inútil, chegava no trabalho decepcionada imaginando o que poderia ter acontecido para ele ter sumido.
Certo dia, quando esperava o trem na estação, houve um pequeno tumulto entre os passageiros e os funcionários das bilheterias por conta do atraso da composição que já durava quase uma hora, as pessoas temiam chegar atrasadas no trabalho. Houve confronto entre os mais exautados e muito corre corre. Adriana estava nesse meio e foi empurrada grosseiramente pela multidão indo ao solo e se ferindo. Ficou momentaneamente aturdida, mas consciente, apenas viu duas mãos amparando-a e ajudando a levantar-se. Ela não acreditou, era o estranho homem por quem havia se apaixonado, o que lhe causou uma certa confusão mental, mas de qualquer maneira estava agradecida, estava também imensamente feliz por ter encontrado o homem da sua vida, a espera havia findado.
Saíram dali e ela amparada pelos braços do desconhecido aceitou a carona que lhe foi oferecida por ele em seu automóvel. Chegaram rapidamente ao trabalho dela, mas antes que ele pudesse sumir outra vez Adriana o abraçou fortemente e o beijou, foi o momento mais importante de sua vida, sabia agora seu nome e onde morava e trabalhava, era tudo que desejava. Combinaram dele apanhá-lá na saída do trabalho e isso foi feito, pouco depois das cinco da tarde lá estava Sérgio (esse era seu nome) em seu carro para deixá-lá em casa.
Os dias se passaram e Sérgio tornou-se um namorado atencioso e amoroso para Adriana, ela até deixou de utilizar o trem, ele passava todas as manhãs em sua casa e a deixava no trabalho, fazendo o mesmo quando ela largava. O romance ia às mil maravilhas e o noivado foi efetivado com promessa de casamento para breve. Ela se sentia uma mulher feliz e realizada, seu futuro marido fazia todos os seus gostos. Enfim o tão falado casamento estava prestes a se realizar, a data foi marcada e os convites foram entregues, a igrejinha da cidade foi ornamentada e o buffet foi programado no salão de festas anexo a igreja. Tudo ia bem, as flores no corredor do pequeno templo, o sorriso dos convidados, a lua brilhava nesse começo de uma noite estrelada, tudo isso deixava Adriana feliz da vida, o seu sonho estava se concretizando, sua família ali presente a tudo assistia. Finalmente o "sim" de ambos foi aplaudido pelos presentes ao evento, o padre abençoou ambos e seguiram para o salão paroquial onde haveria a recepção. A noiva pegou o buquê e se preparou para jogá-lo para as moças pretendentes ao casamento, a alegria era total, mas no momento que o buquê foi jogado Adriana sentiu uma vertigem e caiu ao chão. Despertou na estação ainda em pleno tumulto por causa do atraso do trem.