Diálogo com a Morte #1
No maior penhasco, em que os ventos cortam qualquer silêncio, em frestas surraram nos ouvidos desiludidos e deixam a chuva íngreme concomitante com o seco ficando molhado. Andando até o banco que a solitária criatura colocava os pés no lugar que se senta, o traseiro no lugar que se encosta as costas e as mãos onde se toca instrumento, finalmente, os olhos onde se descansa. As cordas do violino raspando contra uma rosa, uma canção tão triste, mas vívida. Tão somente acompanhada em solidão, toca-se e diz:
-Não é o primeiro diálogo que temos então a Utopia inicia-se com uma mentira, longe da verdade vos procuramos em verdade, A Verdade. – Colocou de lado o instrumento, um carinho de vida por um ser de morte, com algo inanimado, mas vivo em sentimentos.
-Quanto é redundante a verdade absoluta, é cientificar o círculo que já é círculo, mas o que acontece é quão saboroso é viver na mentira da verdade quanto na amargura da verdade mentirosa? – Sentei.
-Você vê que, quanto a uma verdade absoluta é pleonasmo. Porém em sua consciência limitada, na incerteza do certo absoluto, é mais fácil dizer que nada é absoluta, principalmente A Verdade que você baseia no desconhecido.
-Então suplica que a fé seja mentira e que só poderia ser comprovada e concreta quanto ao conhecimento do Deus?
-Sim e não. Fé é verdade, mas ao mesmo tempo um caminho de mentira, por mais que seja finalista, o meio não justifica o fim.
-Mas se chegarmos a um fim e esse mesmo fim é o esperado. Qual o problema de sua valoração?
- A falta de credibilidade.
-E qual o valor da credibilidade sendo que alcançou o objetivo final e ideal?
- Pelo mesmo que assassinar o sonho de alguém pelo seu é egoísmo.
-E não somos todos egoístas?
-Sendo a imagem de Deus em seu Tudo, em Sua Verdade, como ser egoísta em seu próprio propósito?
-Se nós nos respondermos em perguntas, como chegaremos a qualquer resposta?
-No momento que não somente saber A verdade, mas determinar-se a conhecê-la.
-E como conheceria A Verdade?
- Quando lembrar que você pôde esquecer Deus, mas não Ele de você.
-Sendo a imagem Dele a minha, o reflexo de sua fé, autoestima e voz interior, como se esqueceria de si mesmo?
-No momento que colocam armas contra a própria cabeça.
-Então estamos diante a verdade da vida, a morte.
-Bem, eu sou a morte, a Morte e o aspecto da Morte, tão somente o reflexo de sua consciência quebrada que não aceita a própria filosofia, necessitando a criação de um terceiro a deriva para poder mudar?
-Vejo que nós teremos muito a que discutir.
-Existirei na sua morte e depois dela, sou você, por você e através de você.
-Então eu sou você e você sou eu em consciência de verdade?
-Você não é nada.
-E você, amarga.
-Sensato, porém raso.
-Nenhuma verdade é doce, nenhum remédio é doce, achou que até mesmo na sua segurança não doeria?
-Então você não é bom?
-Meticuloso. Porém é pauta para outro encontro.
-A verdade está longe de nós...–
-Mas tão perto.
-Pare de mentir para mim!
-Somente quando parar de mentir para si mesmo!
-Sobre o eu?
-Sobre você mesmo.
-Realmente amargo.
-Mas necessário.
-Imortalmente mortal.
-Como qualquer verdade deve ser.
-Como eu devo ser.
-E seremos?
-Devemos.
As folhas balançavam e os dois se encaravam. Mesmo sendo questionado e até zombado, colocaram-se no mesmo patamar de uma sombra da vida em sua certeza, olhou-a em sua forma e em verdade, com pena. Como único ato de sensatez.
Acordou.