PODERIA CEDER-ME UM CIGARRO (Reedição)
O texto abaixo, de minha autoria, foi publicado aqui no RL em julho de 2012 e por ser muito interessante e ter me deixado perpleto com o que eu mesmo produzi, resolvi reeditá-lo nos mesmos moldes daquela data:
PODERIA CEDER-ME UM CIGARRO?
Além da imaginação
Era a primeira vez que eu ia ao Rio de Janeiro, aproveitando minhas férias do trabalho. Queria desfrutar aqueles vinte dias maravilhosos no Pão de Açúcar, no Cristo Redentor, na Barra da Tijuca e em outros lugares pitorescos. Andei sozinho pelo Rio de Janeiro sem me preocupar com nada.
Certo domingo peguei a barca e fui até a Ilha de Paquetá, onde passei quase todo o dia, solitário e companheiro apenas do panorama daquela porção de terra cercada de água por todos os lados. Tão distraído estava que nem notei a aproximação de uma garota loira, olhos azuis, muito bonita:
- Olá! Poderia ceder-me um cigarro?
- Pois não! –respondi imediatamente, pegando o maço de cigarros que estava sobre a areia.
- Sozinho? –perguntou ela.
Eu disse que sim, e começamos a conversar. Falamos de cinema, esporte, política, etc. Ela morava no Leblon, segundo me falou, e já à tardinha seguimos na barca e deixei-a naquele bairro, marcando encontro para o dia seguinte, numa praça ali perto.
Célia era o seu nome, mostrando bastante interesse por mim. Passamos a nos encontrar com freqüência, até o dia de meu regresso ao Recife, o que me deixou muito triste. Nunca mais vi Célia.
Passaram-se alguns meses e tive que viajar para Salvador, onde iria passar dois dias apenas. Queria novamente aproveitar, passear, ir à praia, pois ainda não conhecia a capital da Bahia. E na Pituba, quando tomava banho de sol, sentado na areia, vi Célia aproximar-se e dizer:
Olá! Poderia ceder-me um cigarro?
- Pois não, Célia! Que prazer em vê-la novamente, aqui em Salvador! –disse isso com o coração aos pulos.
- Desculpe, moço, mas não o conheço! E meu nome é Carolina e não Célia.
Fiquei parado, olhando para ela, pois devia ser uma brincadeira. Insisti em dizer que já nos conhecíamos, mas em vão. Ela dizia chamar-se Carolina, como realmente comprovou, mostrando sua carteira de identidade.
- Mas é incrível, Célia!... Carolina! Eu te conheço, juro!
Fiquei perplexo com aquilo. Como era possível? O mesmo corpo, os mesmos cabelos loiros, os mesmos olhos azuis!
Depois de conversarmos um pouco ela pediu licença, sorriu e retirou-se, diante do meu olhar abismado, deixando-me com pensamentos confusos.
Retornei ao Recife, ainda pensando em Célia, ou Carolina. Fiquei bastante tempo com esse pensamento me torturando, martelando em minha mente.
No ano seguinte eu estava novamente no Rio, de férias, e talvez pensando em encontrar Célia, no bairro do Leblon, apesar de não ter o seu endereço. Passei três dias procurando, tentando localizar Célia, em vão.
Num domingo de muito sol resolvi ir até Paquetá, pois talvez eu a encontrasse por lá. Como da outra vez, eu estava sozinho, olhando o infinito, já esquecido daquela loira de olhos azuis e bela como uma princesa.
- Olá! Poderia ceder-me um cigarro?
Virei-me e vi que era Célia. Meu coração começou a bater fortemente e tive a impressão que estava sem voz, pois fiquei calado e paralizado como uma estátua.
- Pode ceder-me um cigarro? –insistiu ela.
Foi então que falei, levantando-me e pegando sua mão para apertar.
- Oi, Célia, tudo bem? Novamente nos encontramos, hein?
- Célia? Meu nome é Ângela. Não me lembro de ter visto você antes.
Duvidei e lembrei-me do que acontecera em Salvador. Ela insistiu em dizer que seu nome era Ângela e mostrou-me sua identidade. Fiquei confuso novamente. Falei de Célia, de Carolina. Ela apenas sorriu. Como poderiam existir três pessoas exatamente iguais? Eu não poderia acreditar. E os fatos idênticos, quando elas pediram-me cigarro? Eu não poderia estar sonhando!
Despedi-me de Ângela, já que ela não iria voltar comigo. Subi na barca, sempre olhando para Ângela que acenava para mim, sorrindo. Tirei a vista um instante dela e quando olhei novamente vi a coisa mais incrível do mundo: Célia, Carolina e Ângela acenavam para mim, do cais, todas juntas e sorrindo. Não olhei mais.