CONVERSA ABSURDA

CONVERSA ABSURDA

Definitivamente, minha casa é uma loucura... nem num hospício haveria tanta bagunça ! Numa cadeira velha, após pesado almoço, raciocino que levaria meses para limpá-la, torná-la habitável, decente, fora uns 5 caminhões "de lixo". Com a cabeça "girando" concluo que velhice e feijoada não combinam. De repente, estou numa casa de cinema, tudo nos seus lugares, paredes alvas com quadras e plantas, muitas plantas. Igualzinho aquela página que tirei de uma revista de decoração. De repente (de novo ?!) ouço uma vozinha quase infantil:

-- "Ei, moço, estamos com sede... não vai nos dar água" ?!

Ao que outra voz, mais irritada, acrescenta:

-- "É isso mesmo... quer nos matar, idiota" ?!

Me viro devagar, estupefato:

-- "Quem está falando comigo ? Plantas" ?!

-- "é, somos nós, pateta... traga água logo, preciso de um banho, está muito quente hoje" !

-- "Pateta ? Como ousa me chamar de pateta, sua estúpida" ?! (É isso mesmo, me vi FALANDO com elas !)

-- "Cala a boca, nojento... sem nós estarias morto, muito do oxigênio que você consome sou eu que produzo, animal" !

-- "Não vou dar p*rra nenhuma... virem-se" !

-- "Cachorro, "ponha a mão no bolso", já que não tens consciência ! Custei caro, sou uma Orquídea Real, floresço 1 só dia no ano, fato muito raro, "verme" !

A lembrança fazia sentido... aquela "coisa verde" me custara "os olhos da cara", comprada pór insistência de minha mãe e só para agradá-la.

-- "Ah, e tire esse azulejo ridículo das minhas costas... não preciso de penduricalhos para brilhar" !

Já estava ficando irritado, mas a ira trnasborfou quando uma delas "explodiu":

-- "Cadê a água, palerma, estou sufocando" !!!

-- "Cheeeega... vão todas vocês pro Inferno" !

Um côro de palavrões sucedeu meu impropério, vindo de todas as direções:

-- "Pulha, biltre, escória, patife, estúpido, canalha" !

Avancei sobre um vasinho, espatifando-o contra a parede recém-pintada. Mancha negra marcou o local do "crime", a plantinha estrebuchando em agonia.

De repente (outra vez ?!) senti gotas de água a me molhar o rosto... as "bandidas folhosas" estavam mijando na minha cara e rindo, rindo muito, gargalhadas ecoando na mente doentia.

De repente (novamente ?!)acordei... da janela do quarto entulhado vinham as primeiras gotas de chuva da tarde, pontual como sempre, sem falhar uma tarde sequer. Olhei à minha volta... nada de palntas, flores, algo assim, só "lixo" alheio que sonhamos vender algum dia, antes que tudo se deteriore. Me pergunto se essa mania de acumular coisas não tem o mesmo grau de loucura de quem imagina ouvir plantas. Minha mãe "conversava" com elas, vivam ambas bem naquela época. Um dia chega a hora de partir !

"NATO" AZEVEDO (em 31/jan. 2019, 6 hs)