O Auto da Barca dos Incrédulos
“Soldado Ruim” remava pelo Rio Paraíba. O tempo estava em trevas. Aparentava temos chegado ao juízo final. Em cada “muvuca” ou por única pessoa da qual ele passava, já pelas aproximidades parava-se gritando “Olha a barca! Olha a barca!” – convite que só encerrava quando já próximo dos sujeitos, Soldado Ruim pausava os berros e a remansa.
Nesse momento, sua primeira vítima era a “Poderosa”, pelo menos era o que ela dizia e sentia “glamoursajadamente”, estilo à Jezebel.
— Olha a barca! Olha a barca! Vá! Vá! Vá subindo que o teu reinado acabou!
Incrédula, a Poderosa se conflitava:
— Imagine! Com quem pensa que está falando? Filho, cuidado com a “titia aqui”.
Eufórico, a fim de prosseguir a viagem, Soldado Ruim aproximou-se os olhares, interferindo a cena por estalos aos dedos.
A Poderosa mudou-se de ideologia.
— Ai! Ai! Ai! Calma aí, só vou buscar o meu vidrinho de descarrego! – pedia ela, demonstrando-se submissa às ordens, porém, preocupada com a ausência do indivíduo objeto.
— Mulher tola! Pra quê “água de descarrego”? Pra onde tu vás, não há tempo para inveja ou más olhares.
Derrotada, a Poderosa sobe à barca, enquanto “Soldado Ruim” prossegue a remansa aos berros, tagarelando o astuto convite.
A quase dois quilômetros, Soldado Ruim avista um grupo de estudantes, pelo logotipo trazido nas vestes aparentavam ser universitários de Letras.
Enfim, a aproximação aconteceu:
— Vão! Vão! Vão entrando que a viagem é longa!
Ambos não falavam nada. O que falariam por eles, eram, os gemidos e as tremedeiras das pernas com a roeção das unhas.
“Soldado Ruim” enfurecido a cada pedido, aumentou o tom de voz, astuciando às ordens de suas entradas à barca.
Por pressão psicológica, um dos universitários ganha força e fala:
— Calma, Sr Diabo! Calma! Nós não fomos ruins. Mas é que a astúcia desta mulher... - falou-se, caguetando a Poderosa com uma das mãos.
Momento interferido pela Poderosa...
— Mentira, Sr Diabo! – revidou-se, por este instante achando o vidrinho de descarrego e banhando-se. — Eles falam isso por pura inveja. Afinal, nenhum deles chegarão ao meu patamar.
Diabo interfere:
— Cala-te tua louca! Já não te diz para onde vás, não há lugar para inveja e más olhares?
Todos se calam.
Astucioso, Diabo volta os intimidarem para entrarem na barca.
Momento em que um dos universitários avista de longe a barca do Sr Anjo da Salvação.
— Calma, Sr Diabo! Somos de Paz! Somos bons homens! Deixe-nos primeiro conversar com o Anjo que vem lá. – mostrava-se o Negociador, ganhando a atenção de todos.
Minutos a mais, a barca da Salvação se aproxima.
O Anjo da Salvação não fala nada. Apenas possuindo um semblante exausto, cansativo, para de remar, soltando um alívio.
Tensos, um dos universitários suplica-o:
— Sr Anjo! Sr Anjo! Leva-nos contigo! Somos bons homens! Somos bons homens!
Irado, pela interrupção do descanso, Sr Anjo embravece:
— Cala-te! Não vê que descanso?
Amedrontados, um, suplicamente rebate:
— Por favor, Sr Anjo, leve-nos contigo! Somos bons homens! Somos bons homens! Nosso único erro foi ser submisso à Poderosa.
Já de alívio ganhado, Sr Anjo se concede ao diálogo, diante a um dom de humildade:
— Amados de Cristo! Como queres acompanhar-me? Se diante dos vossos trajetos, ao dom do amor, ao invés de vir trabalhar com a realidade, procurando resgatar vossa irmã... - apontava a Poderosa, —... vós embriagastes à submissão, deixando de praticar a lealdade...
Arrependidos, os universitários se dispararam a chorar, suplicando o perdão.
Sr Anjo se entristece, alegando:
— Perdoa-me, mas não há jeito! Pois, estou atolado de documentos. E não há espaço para nenhum de vós.
Inconformados, todos estendiam os olhares para dentro da barca da Salvação, a fim de encontrar uma contradição ao Sr anjo, enfim, o que somente encontraram foram livros intitulados como: direito do consumidor, carta magna, direito & dever do cidadão e as normas do MEC às Instituições Educacionais ao nosso país.
Cientes da lealdade do Sr Anjo, todos aos prantos caíam, avistando a partida do Anjo da Salvação.
Sr Anjo, triste com a cena, lhes aconselhavam:
— Vão com o outro! Pois, conversarei com o Pai, afinal, estes documentos eram para vós, mas tardei...
Sem palavras, todos se enfileiravam, entrando na barca, da qual logo o Sr Diabo prosseguia à viagem.
Quilômetros após, a barca aproximou-se de um novo grupo. Grupo conhecido como “Panelinhas”.
Poderosa, toma frente do Sr Diabo:
— Entram meus amores! Entrem, pois aqui estão seguros.
Inseguros pelos semblantes pranteadores que avistavam dos que já estariam na barca, “Os Panelinhas” despistavam-na:
— Não, Amada, não! Gostaríamos de continuarmos aqui, pois um novo anjo da salvação há de passar.
Sr Diabo, interferia:
— Tolos! Entrem, pois são estes vossos destinos! – justiçava ele, mostrando os demais na barca.
“Os Panelinhas” protestavam, mostrando-se leais.
Sr Diabo pega pesado, aliando-se à verdade. Algo que não provém de si.
— Idiotas! Pensam que me trapacearão? Entrem, pois foram sábios demais pelo que andavam fazendo, tomando o caminho do mal, sem se aliarem ao amor do próximo. Pois, mesmo sabendo da injustiça que haveriam de comer, ao invés de se aliarem aos demais, escolheram a mentira, menosprezando os humildes. Venham! Venham! Pois o Anjo da Salvação que vós aguardais, já passou, já passou!
Sem palavras, as Panelinhas formavam filas, assim como um bezerrinho no matadouro acatando ao convite do Sr Diabo.
A viagem prossegue desta vez, em estilo bem lento, devido ao grande peso que havia na barca.
Na esperança de se salvar daquele juízo, todos, sem que se aliassem a um movimento social, suplicavam em pensamentos para que a barca afundasse no rio.
Povo sem fé! Pois suas súplicas não foram alcançadas.
Ciente daquela possibilidade não vir acontecer, Sr Diabo assim que avistara meia dúzia de jovens, para a barca, obrigando-os a entrarem.
Três, do grupo encontrado, estão numa profunda leitura devorando o material que o Sr Anjo lhes deixou. Já um deles, agachava-se insinuando cagar, mas atendo ao mesmo material.
Ao gesto do “Psiu” os três ordenavam o silêncio ao Sr Diabo.
Inconformado, mas convencido que o agachado estaria sozinho, Sr Diabo procurou intimidá-lo:
— Vamos! Vamos! Temos que partir!
O agachado:
— Mas, como Sr Diabo, não vê que estou cagando?
— Bela diferença! Lá para onde vás, todos viraremos purpurina. Não haverá outro fedo, a não ser o enxofre.
— Prefiro não arriscar. – sustentava o agachado, metendo a mão na bosta e lançando à sua fuça. — Olha como féde!
Sr Diabo se enjoa, dominado por uma forte ânsia.
Fragilizado, Sr Diabo ordena que todos saíam da barca. Convite de boa hora, pois ninguém aguarda o bis do convite, saltando da barca.
Apenas a Poderosa permanece:
— Alto lá, Sr Diabo! Em mim, ninguém manda. A poderosa aqui sou eu. Por troca da tua audácia, agora quem comanda esta barca sou eu. Vamos! Reme! Reme! Pois é o inferno o meu novo império.
Assustado, mas fatigado pela forte ânsia, Sr Diabo acatava a ordem, enquanto os demais conturbavam-se com a falta de entendimento da Poderosa.
Entretanto, eles não haviam presenciado, mas o Destino, justo ao momento em que o Sr Diabo era derrotado pelo odor de merda, tornara-se testemunha dos olhares da Poderosa.
“ (...) Seus olhares eram atenciosos sobre o tipo de material dos quais os últimos jovens estariam lendo. Cena em que lhe fazia também refletir em toda sua soberania, junto das possíveis conscientização que aquela leitura traria aos jovens e aos demais”.
“Ágil como uma cobra, prudente como um pássaro, procurou-se inspirar no Salmista Paulo, onde pra se converter um louco, há de se agir como um deles”.