UMA LENDA LATINO AMERICANA

UMA LENDA LATINO AMERICANA
Autor – Milton Jorge da Silva

Ouvi dizer, pela boca de terceiros, não me perguntes quem, pois não poderia precisar com certeza, que há muitos anos, propagam uma lenda latino americana. Consta dos relatos, que um cidadão latino americano, um certo dia, foi raptado por um grupo de extremistas, fanáticos religiosos e conduzido á força para uma área do deserto.

Na imensidão de areia foi exposto ao sol, para um bronzeado forçado por algumas horas, num calor tórrido de muitos graus. Quando já não suportava mais a sede, se deu conta de que no céu brilhava um objeto de formato um tanto estranho. Apertou bem os olhos, evitou ao máximo a claridade e se deu conta de que tratava-se de uma câmara, ou seria câmera, buscou aproximação e curioso tocou o objeto, que surpreendentemente detonou um tremendo estrondo: De repente, eis que surge em sua frente um gênio, “favor não confundir com o Aladim da outra lâmpada”.

Esse se vestia como um burocrata, terno, gravata, apesar de não ser jovem aparentava boa disposição. Ao ser tentada a primeira comunicação, foi possível perceber alguns defeitos: o gênio tinha dificuldades para ouvir, e falava uma linguagem um tanto estranha.

Apesar das dificuldades iniciais, a língua não se revelou em problema, vez que, o gênio conhecia muito bem a estória do Aladim e logo o chamou de amo, colocando-se á disposição para satisfazer três desejos do novo amo. Naquela situação, o pobre latino esfomeado e sedento não teve dúvidas e mandou os pedidos:

- Água doce um mar;
- ar puro para respirar já;

Pensou lá com os seus botões: após cumprido esses dois desejos, exploraria o gênio ao máximo, no último pedido de direito.

O gênio então partiu para cumprir a missão de satisfazer os desejos do amo, sempre puxando da memória para lembrar os pedidos, pois advinha de família de políticos e sempre esquecia as promessas.

Sobrevoando em seu tapete uma grande cidade, observou uma grande multidão que bradava em voz alta: diretas já... Parou alguns momentos sem entender nada daquilo que se passava, e por minutos admirou a beleza daquela multidão de pessoas reunidas, quando de repente se deu conta de que não lembrava quais eram os pedidos do latino. Desesperado, puxava pela memória, se esforçava para lembrar-se e nada, a memória insistia em traí-lo, não dando qualquer sinal de lembrança, após algumas horas de esforço contínuo, gritou eufórico lembrei-me: mar – ar – já.

Uma rápida passada pelas bandas do Egito, e conseguiu o primeiro marajá, que se conhece. Quando entregou o “presente” o latino americano quis morrer de raiva, e questionou: - O que eu faço com isso?... Por favor, arrume alguma utilidade para ele.
Só então o latino americano se deu conta de que queimara o seu último pedido, dando adeus á riqueza e outras bobeiras que imaginara enquanto esperava.

Por sua vez, foi o gênio quem ficou com um tremendo abacaxi para descascar, pois teria que arrumar uma utilidade para um marajá. Criatividade e imaginação não faltaram ao gênio, assim, passou a maquinar:

-Não tem graça nenhuma fazê-lo trabalhar, afinal, trabalhador ganha tão pouco, não tem prestígio, é um elemento sem status social.

De repente surgiu a idéia genial, o transformaria num cidadão que não trabalha, ganha muito, e que faria jus á algumas mordomias:

Gabinete refrigerado, acarpetado, climatizado, carros do ano, de preferência pretos de chapas brancas, jatinhos á disposição, residência oficial com piscinas, sauna, contas numeradas em paraísos fiscais, com um bom saldo, livres da chatice dos impostos. Se acaso ele sentir tédio da boa vida, uma aposentadoria precoce e com um polpudo salário integral resolveria o problema, ainda mais com a opção de ocupar uma cadeira nos Tribunais. São tantos os Tribunais que se ele perder as contas, e não der certo, o remetemos para uma embaixada. Afinal, esse povo latino americano é bom de bola e de samba.

Estava a deliciar-se com a genialidade de suas idéias, quando sua consciência chamou-lhe a atenção: “gênio burocrata também tem consciência”, ou pelo menos, esse gênio tinha:

- Você não se envergonha de imaginar tamanho absurdo?

- Quem eu? Eu, não tenho nada com isso, apenas me dispus a satisfazer a vontade de meu amo latino, que foi quem votou a proposta e apresentou os desejos, eu apenas melhorei o pedido.

- Por falar no latino americano, como ele está?

- Com certeza ele está bem, é parte de um povo cordado, pacato, conformado com tudo e em pouco tempo você verá que sou eu quem está certo. Esse povo tem a mania de copiar tudo, e esse produto que inventei em breve será sucesso absoluto e multiplicar-se-á rapidamente.

Dizendo isso, o gênio se foi, havia cumprido a missão e satisfeito os desejos do amo. Antes porém, deu uma carona para o latino americano até Brasília, que até hoje arrepende-se de não ter patenteado o produto, vez que, o mesmo alastrou-se por todo o Brasil, sendo implantado em Gabinetes, Câmaras, e outros Departamentos.


 
Milton Jorge da Silva Escritor
Enviado por Milton Jorge da Silva Escritor em 17/10/2018
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