O amigo imaginário

Amigo imaginário, quem nunca teve um? Ok, muitos não tiveram, mas tê-los em algum momento da vida é bem mais normal do que você possa supor. Inclusive diversas escolas pedagógicas já abordam o tema.

O que talvez não encontre em literatura especializada é um caso como o meu. Não me lembro de ter um na minha infância e agora, já um homem adulto, comecei a ter um de 6 anos de idade. Ele me aparece volta e meia nos lugares mais impróprios e minhas tentativas de dissuadi-lo de conversas em algum momento inoportuno por vezes acaba me causando constrangimentos. Mas para o além do ser “imaginário” ele guarda a característica do ser “amigo”. Gosto dele. Suas perguntas denotam um menino inteligente e cheio de inseguranças. Seu jeito é cativante. Dá vontade de pegá-lo no colo. Acariciá-lo e dizer que ele pode ficar tranquilo, pois sempre que precisar eu me farei presente para tentar ajudá-lo. Claro não fosse ele imaginário. Talvez umas consultas com algum profissional da área de psicologia ajudassem, mas tenho medo que este meu amigo desapareça. Para além de algumas situações engraçadas considero positiva a sua amizade e reconheço que não me agrada sarar desta minha paranóia. Gostaria de não me considerar doente. Meu amigo é que veio tarde, mas como amigo não posso dispensá-lo da minha vida assim.

Outro dia ele veio com umas conversas meio estranhas. Disse que sua mãe achava que ele deveria diminuir suas conversas comigo. Nossa! Era só o que me faltava. Além de ter um amigo imaginário, ele ainda tinha uma mãe. E uma mãe que estava se colocando contra nossa amizade.

-Posso falar com ela se você quiser. (Uma mãe de um amigo imaginário não poderia ter argumentos para impedir que eu continuasse a vê-lo).

-Eu já falei para ela, mas ela falou para eu parar de falar bobagens... Um dia eu te chamei para conversar com ela, mas você não apareceu...

-Como assim, “me chamou”. Nunca vi sua mãe. Nunca vi você me chamando para conversar com ela.

-Ela me disse que talvez você me dissesse isto. Pediu para perguntar sobre o seu passado alguma coisa específica, onde estudou, o número do seu CPF. Ela queria comprovar que era tudo parte da minha fantasia, mas que estava na hora de eu começar a fazer novos amigos, desta vez amigos reais. Disse que na escolinha para onde ela iria me levar eu teria vários e que poderia brincar com eles de verdade.

-Como assim brincar com eles de verdade? Por acaso você brinca comigo de mentira?

-Qual o número do seu CPF?

-O número do meu CPF? Como assim? Está bom vou te dizer. O número do meu CPF é...Bom...(acho que esta história de amigo imaginário estava começando a afetar meu cérebro... não conseguia me lembrar do meu CPF)- Bom não lembro no momento, mas assim que lembrar vou te dizer.

A verdade é que, mesmo sem ir num especialista, eu acabei me curando daquelas visões e nunca mais tornei a vê-lo. Não posso dizer que fiquei 100%. Ficaram sequelas. Minha memória está horrível. Imagina vocês que não consigo lembrar onde deixei os meus documentos e menos ainda lembrar o número do meu CPF.