A dor
Ela cresce todos os dias, cavando um buraco que se aprofunda sem parar. Porém, por mais que eu fale, nunca conseguirei explicar totalmente o tamanho desta dor. Além disso, ninguém acreditará se eu contar o quanto estou dilacerada por dentro, perdida para mim mesma, perguntando-me se algum dia conseguirei me encontrar novamente. Não sei onde li que cada dor é única, mas penso que nunca li nada tão verdadeiro.
Melhor não falar com ninguém sobre a dor que tem crescido há anos, sufocando-me com suas mãos esqueléticas e geladas, drenando minha força vital. Já cansei de ouvir coisas como "você é forte". A gente cansa, porque é horrível carregar uma dor por tantos anos, perguntando se um dia isto irá acabar. Tenho certeza que tal situação não é justa para nenhuma pessoa.
Creio que qualquer um se sentiria horrorizado ao se imaginar tragado pela escuridão interna que cresce devagar e incessantemente, enraizando-se em nossas almas, envenenando nossas emoções e nos cegando para tudo que é belo e luminoso.
Eu faço qualquer coisa durante o dia, não para me sentir útil, mas por medo de encarar o meu vazio. Pergunto-me como cheguei a tal ponto. Antes, eu estava tão certa de que estava construindo meu destino, que logo encontraria meu caminho, desbravando obstáculos e tecendo minha felicidade. Em algum lugar, porém, eu me perdi, Agora, quem sou para mim mesma?
Vejo-me no espelho, tento reencontrar a pessoa que um dia fui. Porém, vejo apenas um reflexo apagado da pessoa cheia de sonhos radiantes que eu costumava ser. E eu desejo, ardentemente, afundar no lago da desolação. Quero afundar para sempre. Talvez eu nunca acorde. Ou talvez desperte em outro mundo, como outra pessoa, livre do peso de uma vida sem propósitos.