O nome Justiniana

Tininha tava numa alegria que só ela. As meninas suas amigas tinham chegado e a hora era de recreação. Brincar de casinha, que era de ocasião. O primeiro ato era limpar bem o piso da sala e para fazer um serviço completo, agachadinha, Tininha puxou pra si o coice da porta, que era o apoio que servia para a mesma girar, abrindo e fechando, sem necessitar de dobradiças, que eram coisa moderna e cara demais naquela Onça de Pitangui, de mais um século atrás...

E, sem um segundo a mais, zás, a pesada porta caiu pra trás. A brecha que causou na cabeça de Tininha só não fora maior por ter ela só uma cabecinha...e mesmo acudida no ato pela zelosa mãe Inhana, de seus vinte e poucos anos, nada a menina Tininha podia ver pela sangueira que lhe empapava os cabelos e lhe cobria os olhos, afora a tontura com a pancadura...

O recurso à mão foi moer rapadura e co´ela cobrir a brecha, que o pai Velusiano, ao chegar, só podia imaginar, sem remover aquele pano do lugar.

Décadas depois, com a testa franzida, e partindo com as mãos a vasta cabeleira para os lados, para nos mostrar a cicatriz da brecha, Ticintina, nem se avexa em nos falar de sua estripulia, e parecia que se comprazia. E até na caçoada das irmãs é que caía, ao admitir que o golpe prejudicara seu raciocínio, sua habilidade de aprender as coisas. Mal-mal - mas até que com uma letrinha caprichada - só sabia escrever seu nome, por completo, Vicentina Justiniana de Miranda, para receber seu ordenado mensal na fábrica de Tecidos, e tantos acontecidos... E com os oín piquitito que tinha, ainda arrematava que tinha uma jiriza danada de saberem que seu nome tinha ainda esse Justiniana...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 19/08/2018
Reeditado em 25/05/2022
Código do texto: T6423761
Classificação de conteúdo: seguro