Brincadeiras da Infância

Ivy sempre achou que a sua amiga Shirley era um passarinho, pois ela sempre ficou presa no mundinho dela...

Quando passaram a dividir o apartamento e a conviver juntas, depois da separação da Shirley, esta ainda enfrentou o ranço crítico dos vizinhos e da sociedade por muitos anos... Na verdade, ela era uma pessoa difícil de se lidar...

Esta dificuldade se acentuava ainda mais se o assunto era a Ivy, sua amiga de longo tempo; então, Shirley virava bicho, tipo leoa ferida. Ela dizia: Ivy...Tenho a certeza que eu e você nos completamos.

E era verdade: ela era sua proteção, amiga, um amor de pessoa... A Shirley parecia seu guarda-costas e a Ivy lembrou quando elas eram meninas e ela defendia Ivy até nas brincadeiras da infância, enquanto a Ivy sempre preferia ficar quietinha, tímida que era.

Com a amizade da Ivy, Shirley se libertou e foi na vida o que quis; enquanto casada teve um amante que era uma pessoa muito boa. E somente a Ivy sabia. Eram amigas, confidentes, coniventes.

Na hora da sua morte somente a Ivy e o antigo amigo dela foram os únicos que ela permitiu estar perto no seu leito. Ela morreu nos braços dos dois.

Mas ela nunca aceitou que a Ivy levasse um namorado para o dia a dia de suas vidas... Neste aspecto as situações eram bem definidas: a cama dela e do marido fora somente deles... Os motéis ficavam para ela e o amante, ou, a Ivy e o namorado...

A Ivy, terna e dócil, mora sozinha, desiludida com a vida, na espera mórbida e solitária de voltar a estar de novo com sua grande e eterna amiga... Paralelamente, cultiva uma evangélica e respeitosa amizade com o ex-amante da Shirley... amizade apenas, dizia.

Para os dois ela existe... Eles a cultuam e veneram em suas preces....