O nada

Não há dia. Não há noite. Não há planetas, nem universo. Simplesmente não há nada.

Estou aqui já faz um tempo, só não sei quanto, porque aqui neste lugar não existe tempo, não é possível calculá-lo.

Às vezes falo algo ou grito, mas não consigo ouvir, já que aqui não existe som. Mas também não há silêncio, há apenas o nada.

Tento andar, me mover, mas nunca sei se tive algum progresso ou não, ou como que estou me locomovendo, já que não existe chão, gravidade, nem nada do tipo. Sempre parece que estou no mesmo lugar.

Não dá para descrever o lugar, porque ninguém consegue descrever o nada. Não é uma escuridão, nem uma branquitude, não há cores ou formas.

Eu só existo aqui, porque vim parar aqui, não fui criado por este lugar. Sei que não preciso me alimentar ou fazer necessidades, ou qualquer outra coisa. Simplesmente fico vagando pelo nada.

Também não tenho mais sensações ou sentimentos, mas ainda consigo pensar e raciocinar, não que isso seja importante agora.

Minha última lembrança foi que eu estava atravessando uma rua e vi um caminhão vindo em minha direção, Depois disso não lembro de mais nada. As lembranças vão ficando cada vez menos nítidas. Receio que em algum momento nem isso terei mais.

Tenho consciência de que estou morto. Se pudesse falar para alguém se existe algo depois da morte, diria que não há nada, ou, que há apenas o nada.

Otávio Chagas
Enviado por Otávio Chagas em 30/06/2018
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