Escritor
Final
Seguindo com passos indecisos, embora no sentido correto para casa, Teodolino chegou a uma conclusão fatídica! Ele se sentiu intimado para a palestra. Afinal, como escritor de contos da internet, era imperativo, impensável não comparecer naquela palestra: estufou o peito, elevou seus instintos mais racionais, afinal, era a seu respeito e dos seus iguais que trataria essa palestra.
Quase chegou em casa dentro de um caixão! Tamanho foi susto. Com o coração na boca, a razão entre as pernas, gritou aflito, desesperamente:
-- Sai capeta! Sai satanás! Sai desse corpo que não te pertence Demônio! Príncipe das trevas, seu desgraçado! O sangue de Jesus tem poder.
Ao passar por debaixo de algumas árvores de copas muito densas e largas, num canteiro central de uma avenida de pista dupla, a escuridão se fez quase total. Alguns morcegos voaram num rasante sobre a cabeça, orelhas, ombros e as pernas, os morcegos não lhe tocaram, mas o deslocar do ar e seus gritinhos que lhe direcionam na escuridão, assustou o contista. Teodolino pisou e escorregou num carroço de manga abandonado por algum moleque malvado.
--- Você é muito feio, os morcegos jamais lhe atacariam. Eles estão assustados com sua feiura. Bobão! Falou um garotinho, limpando a boca com a mão, uma gosminha amarela, quando passava ao lado dele deitado ainda no chão. Ele não parava de rir:
ki ki ki ki ki ki ki quáquáquáquá.
Olhando o cartaz colado na parede da escola, Teodolino arquitetava um conto novo. Deixou todo o texto acima em sua memória e seguiu para casa.
Waldemar Wanderley! Waldemar Wanderley Warella, este era o nome do palestrante misterioso, o escritor de dois livros. A quantidade que escrevera, não era importante, mas foram os dois livros já escritos, lidos? Vai saber!
Chegou tarde, entremente, sua irmã caçula o esperava na cozinha: ela era baixinha, olhos azuis e loirinha. Sentada em uma cadeira na cabeceira da mesa, com as mãos por debaixo da mesa presa entre as pernas, mirou o olhar no centro dos olhos do irmão.
Teodolino observou atentamente sua irmã, Perpétua Pandora. Questionando mentalmente a ferinha que tinha a sua frente se perguntando:
Por que? Por que todo baixinho é briguento, encrenqueiro? Lembrou do dia que após ter ensinando a irmã a nadar, a mesma simulou um afogamento, contava pra todo mundo que o irmão era bárbaro, insensível, malvado e anti-humano!
Teodolino se remoía em pensamento: o que eu fiz, para esse cotoco de gente fazer isso comigo? Que culpa tenho eu se ela, antes de completar um ano de idade, afogou na bacia de tomar banho? Que culpa tinha eu, se ela bebeu um montão de água com sabão?
Meu Jesus amado! O que será que vem dessa salva-vidas de aquários agora? Teodolino sabia que quanto mais imóvel aquele pigmeu ficavsse, maior seria o frenesi. O furor intempestivo seria catastrófico quando aquela nanica se levantasse da cadeira. Iria disparar seu leque de impropérios contra ele.
Calmamente, aquela tampinha saiu da cadeira, passos lentos e firmes, olhando para onde pisaria. Seguiu em direção ao irmão, de dedo em riste, buscava a ponta do nariz daquele que tinha como um algoz. A outra mão, mantinha a atrás da cintura. Rilhou os dentes, comprimiu os lábios, contendo um vulcão de desabafos e falou quase gemendo:
-- Olha aqui, irresponsável, inconsequente de uma figa. O que tenho para te falar, está guardado para a hora certa.
Você não me escapa, seu insolente. Estou me contendo por causa da Ritinha. Ela fugiu de casa com um caminhoneiro. Na verdade o sujeito tem uma camioneta, mas o cara se acha! Disse para a Ritinha que era caminhoneiro e ela acreditou.
A fujona é sobrinha deles. Durante um tempo, as duas até dividiram uma casa, mas o tempo as separaram, uma foi para a cidade grande e a outra ficou. Uma casou com um forasterio, a outra com um bronco daqui mesmo. Mas até hoje são como carne e unha, cano de garrucha. Teodolino intimamente tinhas as como “as Loucas”.
Naquela noite, Teodolino dormiu mais rápido que nos últimos quarenta e sete anos. No fundo no fundo, adorava ver a irmãzinha se estrebuchando, destilando veneno pelo canto da boca.
Acordou cedo, saiu para trabalhar, retornou no final da tarde, tomou banho e desceu para o local da palestra. Por dentro parecia uma criança quando ganha uma maria mole, um doce de duas cores, biriba. Hoje em dia esse doce não existe, parecia gelatina coberta por açúcar cristal.
O palestrante não era nem alto nem baixo, nem feio nem bonito, digamos, meia-boca. São aquelas pessoas que, se são agradáveis, se tornam bonitos, se são desagradáveis, se tornam umas bestas de feios. As orelhas destoavam: uma mais vermelhinha do que a outra. Teodolino pensou:
Será que ele levou um puxão de orelhas antes de começar a palestra? Estava bem vestido, tudo dentro do figurino, uma peça combinava com a outra, assim, sucessivamente. Para as mulheres estava lindão
.
No parlatório, descansavam à sua frente dois livros fininhos, tipo edição de bolso. Estava e se manteve em pé o tempo todo. Quando as portas se abriram, ele já esperava por todos.
O fato do palestrante já ser encontrado no parlatório antes de todos e tendo o corpo do umbigo para baixo escondido, deixou muita gente estressada. O que esse cara está escondendo? Muitos pensavam assim e trocavam olhares desconfiados.
-- Boa noite, meu nome é Waldemar Wanderley Warella, agradeço a presença de todos! Haviam umas cinco pessoas no auditório. Estou aqui hoje para falar sobre o mal que a internet causa na literatura, mais especificamente, a internet se tornou um câncer para a literatura, a literatura de alto nível, a internet na atualidade é uma desgraça!
Os presentes, não combinaram nada, mas na primeira pausa que o dito escritor de dois livros fez, todos não ficaram indignados, apenas relaxaram as pernas, os braços e dobraram um kadikin a lombar.
-- Senhores! Atualmente escrevem de tudo, falam de tudo na internet como se fossem contos, livros, resenhas e etc. Como se fosse literatura, mas tudo não passa de lixo, lixo da pior qualidade. Lembrando aos senhores que lixo não tem qualidade, ou seja, os escritos encontrados na internet, tidos como literatura, na verdade são uma bagaça!
Escrever é para poucos e esses poucos não estão na internet. Estão nas livrarias, bibliotecas, no noticiário televisivo, na academia de letras. Quem escreve e posta na internet ou nas redes sociais, são uns coitados, dignos de dó, são seres errantes sem cérebro.
-- Meu senhor! Seu Waldemar Wanderley Warella, o senhor bebeu uma gasolina estragada ou fumou uma brau com data de validade vencida? Que nóia é essa hein? Manifestou um sujeito beirando a 60 anos no fundo do auditório.
-- Não cavalheiro! Com certeza, o senhor é mais um desses doentes que escreve na net, certo? Mas eu vos perdoo pela sua insensatez! Repeliu Waldemar Wanderley Warella o primeiro comentário disparado do fundo.
-- Oh meu senhor! Já ouviu falar em liberdade de expressão? Cada um escreve como quer, como gosta, sem a pretensão de ser admirado, apenas pelo prazer de escrever e registrar o que gosta. Se alguém vai ler ou não, é outra questão. Por que o cavalheiro tem essa opinião e qual a solução? Perguntou Tobias, mais conhecido por “O Paladino”.
Mas Teodolino, não permitiu que o sujeito atrás do parlatório respondesse, soltou ar quente pelas vendas, vociferou tropeçando nas suas palavras no incio:
-- Mas você é muito burro! Se você tivesse feito um conto, um texto qualquer com essa sua opinião, tudo bem, mas cuspir na nossa cara? Você é muito corajoso! Já ouviu falar em besouro sem asa, pombo sem asa, chumbo quente? Mas como você é queixo duro! Cê tá querendo um projétil alojado dentro da sua caixa craniana?
Waldemar Wanderley Warella deu sonoras gargalhadas na cara de todos. As gargalhadas saiam em golfadas ritmadas. Suas gargalhadas atrairm curiosos que passam pela rua, andarilhos também. Em pouco tempo, o auditório estava lotado. As gargalhadas? Continuaram, até o último assento ser ocupado.
-- Meu jovem, esse ranço que expeliu com tanto vigor, só pode ser de um contista iludido. O senhor, com certeza acredita que é um contista! Deve usar muito dessas expressões chulas: "viajar na maionese, catar coquinhos, sai desse corpo que não te pertence", e outras tantas infantis como essas em seus fantasiosos contos ridículos. Certo? Pois bem, o senhor está devaneando, mas um dia há de acordar dessa sua ignorância bovina.
Todos riram a beça! Todos jogavam os braços para cima, chutavam a poltrona da frente freneticamente. A quantidade de desdentados era absurda de grande, seria na casa dos milhares de dentes para salvar aquela quantidade de bocas desdentadas.
Alguns chinelos foram lançados para o ar, uma camiseta do Che Guevara vermelha também, mas antes de ganhar pouso seguro, já ardia em fogo. Dela, apenas as cinzas pousaram em paz.
A algazarra, aquele auê assaltou o auditório. O palestrante se sentia cada vez mais convicto de suas ideias. Ali só havia gente doida, doentes, gente da mente fraca, por uma molestia desconhecida, acreditavam que eram literatos. Até ensaiou um risinho mas se conteve, não iria comungar nada com aquela trupe de lunáticos, bando de tulhados.
Quando a algazarra do burburinho cessou, Teodolino falou despretensiosamente, falou como se estivesse no automático em pensamento, mas saiu alto e em bom tom:
-- Se a Perpétua Pandora estivesse aqui, esse fulaninho estaria fudido, ela odeia esse tipinho de gente!
-- Meu amigo! Pandora é uma personalidade da mitologia grega, ela não existe. Uma pessoa com nome de Perpétua Pandora, é hilário, isso é mais uma manifestação de sua mente doentia! Falou o palestrante.
O silêncio foi cortado por um alucinante grito, um grito agudo, tão forte e contundente, que abalou toda a confiança do homem atrás do parlatório. Alguns ensaiaram sair de fininho, mas desistiram, teriam que passar diante da fonte do grito. Deduziram, melhor ficar!
-- Eu sou Perpétua Pandora, por acaso eu sou uma invenção doentia, fruto de um cérebro doente? Seu palerma!
Perpétua Pandora andou até a primeira fila, fulminou todos com seu olhar de mulher nervosa quando está na menopausa. Na saída do auditório, estava a outra louca, roendo a unha de satisfação e prazer.
Perpétua Pandora olhou para a esquerda, quando reconheceu Teodolino, rilhou os dentes, serrou os olhos, controlou os lábios para não tremer, mas um pouco de veneno foi destilado.
Algumas gotinhas caíram pelo canto da boca, os antigos diziam: Onde cai veneno feminino não nasce capim ali nunca mais.
Com a respiração sub judice, falou:
-- Vamos pra casa agora! A sua hora chegou, lembra daquela conversa que lhe disse que estava guardada para a hora certa. A hora é agora! Vem!
Por um momento, Teodolino hesitou, se manteve imóvel, pensativo, cabisbaixo, respiração ofegante, o coração batia mais que pandeiro em roda de samba, então... Teodolino disse a si mesmo e para seu leitor:
-- Não! Meu conto não termina assim! Assim não vale! Ou vale?
Final
Seguindo com passos indecisos, embora no sentido correto para casa, Teodolino chegou a uma conclusão fatídica! Ele se sentiu intimado para a palestra. Afinal, como escritor de contos da internet, era imperativo, impensável não comparecer naquela palestra: estufou o peito, elevou seus instintos mais racionais, afinal, era a seu respeito e dos seus iguais que trataria essa palestra.
Quase chegou em casa dentro de um caixão! Tamanho foi susto. Com o coração na boca, a razão entre as pernas, gritou aflito, desesperamente:
-- Sai capeta! Sai satanás! Sai desse corpo que não te pertence Demônio! Príncipe das trevas, seu desgraçado! O sangue de Jesus tem poder.
Ao passar por debaixo de algumas árvores de copas muito densas e largas, num canteiro central de uma avenida de pista dupla, a escuridão se fez quase total. Alguns morcegos voaram num rasante sobre a cabeça, orelhas, ombros e as pernas, os morcegos não lhe tocaram, mas o deslocar do ar e seus gritinhos que lhe direcionam na escuridão, assustou o contista. Teodolino pisou e escorregou num carroço de manga abandonado por algum moleque malvado.
--- Você é muito feio, os morcegos jamais lhe atacariam. Eles estão assustados com sua feiura. Bobão! Falou um garotinho, limpando a boca com a mão, uma gosminha amarela, quando passava ao lado dele deitado ainda no chão. Ele não parava de rir:
ki ki ki ki ki ki ki quáquáquáquá.
Olhando o cartaz colado na parede da escola, Teodolino arquitetava um conto novo. Deixou todo o texto acima em sua memória e seguiu para casa.
Waldemar Wanderley! Waldemar Wanderley Warella, este era o nome do palestrante misterioso, o escritor de dois livros. A quantidade que escrevera, não era importante, mas foram os dois livros já escritos, lidos? Vai saber!
Chegou tarde, entremente, sua irmã caçula o esperava na cozinha: ela era baixinha, olhos azuis e loirinha. Sentada em uma cadeira na cabeceira da mesa, com as mãos por debaixo da mesa presa entre as pernas, mirou o olhar no centro dos olhos do irmão.
Teodolino observou atentamente sua irmã, Perpétua Pandora. Questionando mentalmente a ferinha que tinha a sua frente se perguntando:
Por que? Por que todo baixinho é briguento, encrenqueiro? Lembrou do dia que após ter ensinando a irmã a nadar, a mesma simulou um afogamento, contava pra todo mundo que o irmão era bárbaro, insensível, malvado e anti-humano!
Teodolino se remoía em pensamento: o que eu fiz, para esse cotoco de gente fazer isso comigo? Que culpa tenho eu se ela, antes de completar um ano de idade, afogou na bacia de tomar banho? Que culpa tinha eu, se ela bebeu um montão de água com sabão?
Meu Jesus amado! O que será que vem dessa salva-vidas de aquários agora? Teodolino sabia que quanto mais imóvel aquele pigmeu ficavsse, maior seria o frenesi. O furor intempestivo seria catastrófico quando aquela nanica se levantasse da cadeira. Iria disparar seu leque de impropérios contra ele.
Calmamente, aquela tampinha saiu da cadeira, passos lentos e firmes, olhando para onde pisaria. Seguiu em direção ao irmão, de dedo em riste, buscava a ponta do nariz daquele que tinha como um algoz. A outra mão, mantinha a atrás da cintura. Rilhou os dentes, comprimiu os lábios, contendo um vulcão de desabafos e falou quase gemendo:
-- Olha aqui, irresponsável, inconsequente de uma figa. O que tenho para te falar, está guardado para a hora certa.
Você não me escapa, seu insolente. Estou me contendo por causa da Ritinha. Ela fugiu de casa com um caminhoneiro. Na verdade o sujeito tem uma camioneta, mas o cara se acha! Disse para a Ritinha que era caminhoneiro e ela acreditou.
A fujona é sobrinha deles. Durante um tempo, as duas até dividiram uma casa, mas o tempo as separaram, uma foi para a cidade grande e a outra ficou. Uma casou com um forasterio, a outra com um bronco daqui mesmo. Mas até hoje são como carne e unha, cano de garrucha. Teodolino intimamente tinhas as como “as Loucas”.
Naquela noite, Teodolino dormiu mais rápido que nos últimos quarenta e sete anos. No fundo no fundo, adorava ver a irmãzinha se estrebuchando, destilando veneno pelo canto da boca.
Acordou cedo, saiu para trabalhar, retornou no final da tarde, tomou banho e desceu para o local da palestra. Por dentro parecia uma criança quando ganha uma maria mole, um doce de duas cores, biriba. Hoje em dia esse doce não existe, parecia gelatina coberta por açúcar cristal.
O palestrante não era nem alto nem baixo, nem feio nem bonito, digamos, meia-boca. São aquelas pessoas que, se são agradáveis, se tornam bonitos, se são desagradáveis, se tornam umas bestas de feios. As orelhas destoavam: uma mais vermelhinha do que a outra. Teodolino pensou:
Será que ele levou um puxão de orelhas antes de começar a palestra? Estava bem vestido, tudo dentro do figurino, uma peça combinava com a outra, assim, sucessivamente. Para as mulheres estava lindão
.
No parlatório, descansavam à sua frente dois livros fininhos, tipo edição de bolso. Estava e se manteve em pé o tempo todo. Quando as portas se abriram, ele já esperava por todos.
O fato do palestrante já ser encontrado no parlatório antes de todos e tendo o corpo do umbigo para baixo escondido, deixou muita gente estressada. O que esse cara está escondendo? Muitos pensavam assim e trocavam olhares desconfiados.
-- Boa noite, meu nome é Waldemar Wanderley Warella, agradeço a presença de todos! Haviam umas cinco pessoas no auditório. Estou aqui hoje para falar sobre o mal que a internet causa na literatura, mais especificamente, a internet se tornou um câncer para a literatura, a literatura de alto nível, a internet na atualidade é uma desgraça!
Os presentes, não combinaram nada, mas na primeira pausa que o dito escritor de dois livros fez, todos não ficaram indignados, apenas relaxaram as pernas, os braços e dobraram um kadikin a lombar.
-- Senhores! Atualmente escrevem de tudo, falam de tudo na internet como se fossem contos, livros, resenhas e etc. Como se fosse literatura, mas tudo não passa de lixo, lixo da pior qualidade. Lembrando aos senhores que lixo não tem qualidade, ou seja, os escritos encontrados na internet, tidos como literatura, na verdade são uma bagaça!
Escrever é para poucos e esses poucos não estão na internet. Estão nas livrarias, bibliotecas, no noticiário televisivo, na academia de letras. Quem escreve e posta na internet ou nas redes sociais, são uns coitados, dignos de dó, são seres errantes sem cérebro.
-- Meu senhor! Seu Waldemar Wanderley Warella, o senhor bebeu uma gasolina estragada ou fumou uma brau com data de validade vencida? Que nóia é essa hein? Manifestou um sujeito beirando a 60 anos no fundo do auditório.
-- Não cavalheiro! Com certeza, o senhor é mais um desses doentes que escreve na net, certo? Mas eu vos perdoo pela sua insensatez! Repeliu Waldemar Wanderley Warella o primeiro comentário disparado do fundo.
-- Oh meu senhor! Já ouviu falar em liberdade de expressão? Cada um escreve como quer, como gosta, sem a pretensão de ser admirado, apenas pelo prazer de escrever e registrar o que gosta. Se alguém vai ler ou não, é outra questão. Por que o cavalheiro tem essa opinião e qual a solução? Perguntou Tobias, mais conhecido por “O Paladino”.
Mas Teodolino, não permitiu que o sujeito atrás do parlatório respondesse, soltou ar quente pelas vendas, vociferou tropeçando nas suas palavras no incio:
-- Mas você é muito burro! Se você tivesse feito um conto, um texto qualquer com essa sua opinião, tudo bem, mas cuspir na nossa cara? Você é muito corajoso! Já ouviu falar em besouro sem asa, pombo sem asa, chumbo quente? Mas como você é queixo duro! Cê tá querendo um projétil alojado dentro da sua caixa craniana?
Waldemar Wanderley Warella deu sonoras gargalhadas na cara de todos. As gargalhadas saiam em golfadas ritmadas. Suas gargalhadas atrairm curiosos que passam pela rua, andarilhos também. Em pouco tempo, o auditório estava lotado. As gargalhadas? Continuaram, até o último assento ser ocupado.
-- Meu jovem, esse ranço que expeliu com tanto vigor, só pode ser de um contista iludido. O senhor, com certeza acredita que é um contista! Deve usar muito dessas expressões chulas: "viajar na maionese, catar coquinhos, sai desse corpo que não te pertence", e outras tantas infantis como essas em seus fantasiosos contos ridículos. Certo? Pois bem, o senhor está devaneando, mas um dia há de acordar dessa sua ignorância bovina.
Todos riram a beça! Todos jogavam os braços para cima, chutavam a poltrona da frente freneticamente. A quantidade de desdentados era absurda de grande, seria na casa dos milhares de dentes para salvar aquela quantidade de bocas desdentadas.
Alguns chinelos foram lançados para o ar, uma camiseta do Che Guevara vermelha também, mas antes de ganhar pouso seguro, já ardia em fogo. Dela, apenas as cinzas pousaram em paz.
A algazarra, aquele auê assaltou o auditório. O palestrante se sentia cada vez mais convicto de suas ideias. Ali só havia gente doida, doentes, gente da mente fraca, por uma molestia desconhecida, acreditavam que eram literatos. Até ensaiou um risinho mas se conteve, não iria comungar nada com aquela trupe de lunáticos, bando de tulhados.
Quando a algazarra do burburinho cessou, Teodolino falou despretensiosamente, falou como se estivesse no automático em pensamento, mas saiu alto e em bom tom:
-- Se a Perpétua Pandora estivesse aqui, esse fulaninho estaria fudido, ela odeia esse tipinho de gente!
-- Meu amigo! Pandora é uma personalidade da mitologia grega, ela não existe. Uma pessoa com nome de Perpétua Pandora, é hilário, isso é mais uma manifestação de sua mente doentia! Falou o palestrante.
O silêncio foi cortado por um alucinante grito, um grito agudo, tão forte e contundente, que abalou toda a confiança do homem atrás do parlatório. Alguns ensaiaram sair de fininho, mas desistiram, teriam que passar diante da fonte do grito. Deduziram, melhor ficar!
-- Eu sou Perpétua Pandora, por acaso eu sou uma invenção doentia, fruto de um cérebro doente? Seu palerma!
Perpétua Pandora andou até a primeira fila, fulminou todos com seu olhar de mulher nervosa quando está na menopausa. Na saída do auditório, estava a outra louca, roendo a unha de satisfação e prazer.
Perpétua Pandora olhou para a esquerda, quando reconheceu Teodolino, rilhou os dentes, serrou os olhos, controlou os lábios para não tremer, mas um pouco de veneno foi destilado.
Algumas gotinhas caíram pelo canto da boca, os antigos diziam: Onde cai veneno feminino não nasce capim ali nunca mais.
Com a respiração sub judice, falou:
-- Vamos pra casa agora! A sua hora chegou, lembra daquela conversa que lhe disse que estava guardada para a hora certa. A hora é agora! Vem!
Por um momento, Teodolino hesitou, se manteve imóvel, pensativo, cabisbaixo, respiração ofegante, o coração batia mais que pandeiro em roda de samba, então... Teodolino disse a si mesmo e para seu leitor:
-- Não! Meu conto não termina assim! Assim não vale! Ou vale?