Bons Amigos
Esse conto é dedicado a minha cunhada:
Denise Campos Rizzotto.
Eram em cinco, em certo momento da vida desses cinco, sair nos finais de semana, só se fossem juntos. Se não fossem todos juntos, era impossível. Jamais saiam, quatro, três ou dois, sempre eram os cinco.
A união entre eles era um mistério, algo pra lá de sobrenatural, do transcendental, não havia discórdia entre eles. A discórdia ficava sempre arrebatada numa quarta ou quinta dimensão.
Tobias era o cara que provocava ao extremo todos com suas elucubrações. Ouvinte atencioso, gostava de ouvir as opiniões dos colegas, mas o problema de Tobias verdadeiramente! Era inoportuno em avaliações, observações que ele atravessava o assunto dos amigos.
Todos nasceram no mesmo ano, se auto proclamavam a turma do ano tal, afirmavam, esse ano foi a melhor safra dos bons, os nascidos em anos anteriores ou posteriores, apenas gravitavam em torno deles por pura inércia da força que atraiam.
Duas horas da madrugada, estavam regressando de uma festa no bairro Bom Jesus dos Aflitos, resolveram parar numa tapera que também tinha uma danceteria, conhecido por "Barmácia dos Barteman".
Os frequentadores desse muquifo, eram todos gente boa de todos os calibres, trabalhadores rurais, serventes de pedreiro, balconistas, polícia civil, ex-detentos, puxa facas, fugitivos. Uma renca de desavisados.
A inocência da idade e o excesso de confiança da turma cegavam-os na maioria das vezes, mas o fato é que: Jesus toma conta.
Tobias viu uma mesa num canto do pardieiro, havia quatro cadeiras em torno da mesa, pensou de bate pronto: arrumar outra cadeira aqui é mole. Quatro seguiram direto para a mesa, entrementes, Tobias foi até o dono do boteco e pediu, cinco copos, uma cerveja e mais uma cadeira, brincando disse:
__ Amigo, cinco copos acarreta em cinco pessoas, cinco pessoas deduzem em cinco cadeiras, lá só há quatro, logo?
__ Por favor, poderia conseguir uma cadeira a mais, estamos em cinco pessoas. Lá só há quatro e me desculpa pelo modo que meu amigo abestalhado se dirigiu ao senhor dono do inferninho, ele não é daqui. Disse Terêncio, segurando o amigo pelo pescoço.
O balconista, com um cigarro acesso no canto da boca, mantinha o olho direito fechado devido a fumaça que insistia em entrar no olho. Camiseta cavada branca, toda encardida, uma toalha úmida pendurada no ombro, a barba parecia ter sido feita com uma faca cega. Falou sem mover o cigarro um milímetro:
-- Já levo lá. Raspou a garganta com força, e o cigarro lá, quietinho no canto da boca.
Os cinco se acomodaram nas cadeiras e começaram a tomar a cerveja, Terêncio puxou a conversa sobre as possíveis consequências econômicas, caso a anta do presidente americano confirmasse suas ameaças ao mundo.
Thomás, o terceiro do grupo, é apaixonado por economia e comercio internacional, muito atento, ouvia compenetrado nas explanações de Terêncio. Sua obstinação pelo tema é tanta que ficava cego, não percebia nada que ocorresse à sua volta.
Tobias até tentou, mas dar explicações para tudo, era mais forte que ele, tipo aquela piada do jacaré e o escorpião: o jacaré foi atravessar o escorpião no rio, no meio do rio o escorpião ferroou o jacaré, pois é, assim é Tobias.
Thomás não viu quando um homem de meia idade se aproximou da mesa com passos claudicantes, olhar perdido, boca seca e aberta com os lábios trêmulos:
-- Por favor, um de vocês, tira esse punhal que está enterrado nas minhas costas; pediu quase a ponto de desfalecer aos pés da mesa dos cinco amigos.
Tarcísio não titubeou um segundo, arrastou para fora uma lâmina enferrujada de vinte cinco centímetros. A faca tinha uma serra nas costas da lâmina, saiu rasgando a carne do miserável. O sujeito estancou o sangue que jorrava com uma mão, com a outra agradeceu a todos e saiu como chegou.
-- Espera um pouco, Terêncio, para de falar. Preciso comentar algo que é muito importante, se eu não falar, perco o raciocínio, esqueço o começo. Tobias cortou o assunto da mesa.
Entrementes, Timóteo aproveitou a cortada de Tobias, e falou para Thomás:
-- Rapaz, você não viu! Um sujeito apareceu aqui com uma faca cravada nas costas! Tarcísio retirou a faca do camarada e você cego nesses papos de economia? Putys! Vai gostar desse troço pra lá!
Tobias explicou aos colegas que a palavra crise, vem de Criseis, nome de uma sacerdotisa de Apolo, um dos muitos Deuses da mitologia grega. O fato foi o seguinte, explicou ele aos amigos:
-- Durante a guerra de Tróia, um ancião, que cuidava do templo de Apolo, teve suas duas filhas tomadas da cidade como espólio de guerra, Criseis e Briseis, Criseis era a sacerdotisa que ficou como espólio de guerra para Agamenon o rei dos Aqueus, e Briseis, uma troiana viúva da cidade de Lirnesso de Tróia, a prenda de guerra de Aquiles, o semideus, sua mãe Tétis era uma Deusa, o pai Peleu, foi rei dos Mirmidões, era humano.
O sacerdote pediu a Agamenon a filha sacerdotisa de volta, o rei negou, então o sacerdote fez oferendas e clamou para Apolo, que tivesse a filha de volta.
Apolo mandou uma praga que dizimou o gado dos Aqueus e matou alguns muitos soldados com suas flechas certeiras.
Um adivinho foi até o rei Agamenon, e explicou que era por causa da sacerdotisa de Apolo presa em seu navio.
Foi feito uma reunião entre os líderes, e Aquiles tomou a palavra e disse que Agamenon deveria devolver Criseis ao sacerdote de Apolo.
O rei ficou puto, então, após censurar e injuriar Aquiles, decidiu: devolverei Criseis, mas vou tomar Briseis de Aquiles, pois sou o rei dos Aqueus. E assim foi feito. Essa decisão criou uma grande perturbação entre Aquiles e o rei Agamenon.
Aquiles remoía por dentro e jurava: caralho, sou filho de uma Deusa e esse rei mequetrefe me insulta assim. Ele vai tomar naquele lugar que não bate sol, ah vai!
-- Meus amigos, essa é a origem da palavra crise, vem de Criseis e Briseis. Falou ofegante e muito orgulhoso de si mesmo Tóbias.
-- Eu não acredito no que estou vendo, Putakipariu! Gente do céu, olha lá no balcão, tem um cara com a camisa toda ensanguentada, tomando uma cachaça, olha só como está a camisa dele? Bufando de sangue, mas o mais louco! Tem duas orelhas penduras por um barbante no cós da calça do cara! Vai ser sinistro pra lá! É de alguém! Meu Deus do céu! Falou Teófilo atravancando a fala de Tobias.
Mas num piscar de olhos, tudo ficou esclarecido. Um sujeito baixo e muito forte, passou perto do ensanguentado sem as duas orelhas e disse:
-- Na próxima vez Tácio, vou cravar minha faca na sua cara, psicopata vagabundo! esbravejou Takashi contorcendo o rosto todo.
-- Não haverá uma próxima vez, japa de araque. Emendou Tácio.
Takashi sentiu uma coisa estranha no céu da boca, levou o dedo e percebeu, era a ponta do punhal. Tácio enterrou a faca no centro da moleira do seu oponente. O lazarento do apunhalado teve ar suficiente para caminhar até a saída, foram apenas cinco passos e Takashi caiu na calçada.
O que impressionou os cinco amigos, não foi a punhalada. Não! Isso não, afinal, essas coisas se veem toda hora na tv, nos filmes e novelas, mas havia um par de orelhas pendurada por um barbante de algodão de cor bege prendendo as orelhas na cintura do perverso, era doido demais!
O dono do inferninho, era um sujeito alto, gordo e forte pra caramba, tinha duas tatuagens de palhaço nos braços, dizem as más línguas, ou boas sei lá, leitor amigo, que tatuagem de palhaço rindo são de patifes que matam suas vítimas a facada. Preferem matar policiais.
Tobias percebeu que os amigos lhe fitavam com os olhos vidrados, já sabia: eu interrompi a conversa mais uma vez, e Tobias pensava: meu Deus do céu, eu tento! Eu quero esperar, mas não consigo, preciso falar. Mas logo voltavam a conversar e não havia crise alguma ou rancor, uma piada e tudo voltava ao normal.
Tarcísio, com sua bota de cor amarelo abóbora bem forte, meia também cor do interior da abóbora, calça idem, mas a camisa era branca. Há três quadras de distância, Tarcísio era identificado de imediato, às vezes, entre os cinco, era chamado de meia porção, um camarada risonho, ria de qualquer coisa.
Meia Porção levantou e todos pensaram, que iria ao banheiro, nada. Seguiu até a porta e viu dois corpos estirados na calçada, era Takashi e Tácio. Um policial chamando os bombeiros, mas os dois já tinham virado presunto.
Sádico, o ajudante do dono da bodega, pegou o par de orelhas que estava amarrada na cintura de um dos cadáveres, colocou dentro de um vidrinho de palmito, encheu de álcool, tampou bem e colocou na prateleira que ficava atrás do sujeito tatuado com palhaços risonhos nos braços.
Esse conto é dedicado a minha cunhada:
Denise Campos Rizzotto.
Eram em cinco, em certo momento da vida desses cinco, sair nos finais de semana, só se fossem juntos. Se não fossem todos juntos, era impossível. Jamais saiam, quatro, três ou dois, sempre eram os cinco.
A união entre eles era um mistério, algo pra lá de sobrenatural, do transcendental, não havia discórdia entre eles. A discórdia ficava sempre arrebatada numa quarta ou quinta dimensão.
Tobias era o cara que provocava ao extremo todos com suas elucubrações. Ouvinte atencioso, gostava de ouvir as opiniões dos colegas, mas o problema de Tobias verdadeiramente! Era inoportuno em avaliações, observações que ele atravessava o assunto dos amigos.
Todos nasceram no mesmo ano, se auto proclamavam a turma do ano tal, afirmavam, esse ano foi a melhor safra dos bons, os nascidos em anos anteriores ou posteriores, apenas gravitavam em torno deles por pura inércia da força que atraiam.
Duas horas da madrugada, estavam regressando de uma festa no bairro Bom Jesus dos Aflitos, resolveram parar numa tapera que também tinha uma danceteria, conhecido por "Barmácia dos Barteman".
Os frequentadores desse muquifo, eram todos gente boa de todos os calibres, trabalhadores rurais, serventes de pedreiro, balconistas, polícia civil, ex-detentos, puxa facas, fugitivos. Uma renca de desavisados.
A inocência da idade e o excesso de confiança da turma cegavam-os na maioria das vezes, mas o fato é que: Jesus toma conta.
Tobias viu uma mesa num canto do pardieiro, havia quatro cadeiras em torno da mesa, pensou de bate pronto: arrumar outra cadeira aqui é mole. Quatro seguiram direto para a mesa, entrementes, Tobias foi até o dono do boteco e pediu, cinco copos, uma cerveja e mais uma cadeira, brincando disse:
__ Amigo, cinco copos acarreta em cinco pessoas, cinco pessoas deduzem em cinco cadeiras, lá só há quatro, logo?
__ Por favor, poderia conseguir uma cadeira a mais, estamos em cinco pessoas. Lá só há quatro e me desculpa pelo modo que meu amigo abestalhado se dirigiu ao senhor dono do inferninho, ele não é daqui. Disse Terêncio, segurando o amigo pelo pescoço.
O balconista, com um cigarro acesso no canto da boca, mantinha o olho direito fechado devido a fumaça que insistia em entrar no olho. Camiseta cavada branca, toda encardida, uma toalha úmida pendurada no ombro, a barba parecia ter sido feita com uma faca cega. Falou sem mover o cigarro um milímetro:
-- Já levo lá. Raspou a garganta com força, e o cigarro lá, quietinho no canto da boca.
Os cinco se acomodaram nas cadeiras e começaram a tomar a cerveja, Terêncio puxou a conversa sobre as possíveis consequências econômicas, caso a anta do presidente americano confirmasse suas ameaças ao mundo.
Thomás, o terceiro do grupo, é apaixonado por economia e comercio internacional, muito atento, ouvia compenetrado nas explanações de Terêncio. Sua obstinação pelo tema é tanta que ficava cego, não percebia nada que ocorresse à sua volta.
Tobias até tentou, mas dar explicações para tudo, era mais forte que ele, tipo aquela piada do jacaré e o escorpião: o jacaré foi atravessar o escorpião no rio, no meio do rio o escorpião ferroou o jacaré, pois é, assim é Tobias.
Thomás não viu quando um homem de meia idade se aproximou da mesa com passos claudicantes, olhar perdido, boca seca e aberta com os lábios trêmulos:
-- Por favor, um de vocês, tira esse punhal que está enterrado nas minhas costas; pediu quase a ponto de desfalecer aos pés da mesa dos cinco amigos.
Tarcísio não titubeou um segundo, arrastou para fora uma lâmina enferrujada de vinte cinco centímetros. A faca tinha uma serra nas costas da lâmina, saiu rasgando a carne do miserável. O sujeito estancou o sangue que jorrava com uma mão, com a outra agradeceu a todos e saiu como chegou.
-- Espera um pouco, Terêncio, para de falar. Preciso comentar algo que é muito importante, se eu não falar, perco o raciocínio, esqueço o começo. Tobias cortou o assunto da mesa.
Entrementes, Timóteo aproveitou a cortada de Tobias, e falou para Thomás:
-- Rapaz, você não viu! Um sujeito apareceu aqui com uma faca cravada nas costas! Tarcísio retirou a faca do camarada e você cego nesses papos de economia? Putys! Vai gostar desse troço pra lá!
Tobias explicou aos colegas que a palavra crise, vem de Criseis, nome de uma sacerdotisa de Apolo, um dos muitos Deuses da mitologia grega. O fato foi o seguinte, explicou ele aos amigos:
-- Durante a guerra de Tróia, um ancião, que cuidava do templo de Apolo, teve suas duas filhas tomadas da cidade como espólio de guerra, Criseis e Briseis, Criseis era a sacerdotisa que ficou como espólio de guerra para Agamenon o rei dos Aqueus, e Briseis, uma troiana viúva da cidade de Lirnesso de Tróia, a prenda de guerra de Aquiles, o semideus, sua mãe Tétis era uma Deusa, o pai Peleu, foi rei dos Mirmidões, era humano.
O sacerdote pediu a Agamenon a filha sacerdotisa de volta, o rei negou, então o sacerdote fez oferendas e clamou para Apolo, que tivesse a filha de volta.
Apolo mandou uma praga que dizimou o gado dos Aqueus e matou alguns muitos soldados com suas flechas certeiras.
Um adivinho foi até o rei Agamenon, e explicou que era por causa da sacerdotisa de Apolo presa em seu navio.
Foi feito uma reunião entre os líderes, e Aquiles tomou a palavra e disse que Agamenon deveria devolver Criseis ao sacerdote de Apolo.
O rei ficou puto, então, após censurar e injuriar Aquiles, decidiu: devolverei Criseis, mas vou tomar Briseis de Aquiles, pois sou o rei dos Aqueus. E assim foi feito. Essa decisão criou uma grande perturbação entre Aquiles e o rei Agamenon.
Aquiles remoía por dentro e jurava: caralho, sou filho de uma Deusa e esse rei mequetrefe me insulta assim. Ele vai tomar naquele lugar que não bate sol, ah vai!
-- Meus amigos, essa é a origem da palavra crise, vem de Criseis e Briseis. Falou ofegante e muito orgulhoso de si mesmo Tóbias.
-- Eu não acredito no que estou vendo, Putakipariu! Gente do céu, olha lá no balcão, tem um cara com a camisa toda ensanguentada, tomando uma cachaça, olha só como está a camisa dele? Bufando de sangue, mas o mais louco! Tem duas orelhas penduras por um barbante no cós da calça do cara! Vai ser sinistro pra lá! É de alguém! Meu Deus do céu! Falou Teófilo atravancando a fala de Tobias.
Mas num piscar de olhos, tudo ficou esclarecido. Um sujeito baixo e muito forte, passou perto do ensanguentado sem as duas orelhas e disse:
-- Na próxima vez Tácio, vou cravar minha faca na sua cara, psicopata vagabundo! esbravejou Takashi contorcendo o rosto todo.
-- Não haverá uma próxima vez, japa de araque. Emendou Tácio.
Takashi sentiu uma coisa estranha no céu da boca, levou o dedo e percebeu, era a ponta do punhal. Tácio enterrou a faca no centro da moleira do seu oponente. O lazarento do apunhalado teve ar suficiente para caminhar até a saída, foram apenas cinco passos e Takashi caiu na calçada.
O que impressionou os cinco amigos, não foi a punhalada. Não! Isso não, afinal, essas coisas se veem toda hora na tv, nos filmes e novelas, mas havia um par de orelhas pendurada por um barbante de algodão de cor bege prendendo as orelhas na cintura do perverso, era doido demais!
O dono do inferninho, era um sujeito alto, gordo e forte pra caramba, tinha duas tatuagens de palhaço nos braços, dizem as más línguas, ou boas sei lá, leitor amigo, que tatuagem de palhaço rindo são de patifes que matam suas vítimas a facada. Preferem matar policiais.
Tobias percebeu que os amigos lhe fitavam com os olhos vidrados, já sabia: eu interrompi a conversa mais uma vez, e Tobias pensava: meu Deus do céu, eu tento! Eu quero esperar, mas não consigo, preciso falar. Mas logo voltavam a conversar e não havia crise alguma ou rancor, uma piada e tudo voltava ao normal.
Tarcísio, com sua bota de cor amarelo abóbora bem forte, meia também cor do interior da abóbora, calça idem, mas a camisa era branca. Há três quadras de distância, Tarcísio era identificado de imediato, às vezes, entre os cinco, era chamado de meia porção, um camarada risonho, ria de qualquer coisa.
Meia Porção levantou e todos pensaram, que iria ao banheiro, nada. Seguiu até a porta e viu dois corpos estirados na calçada, era Takashi e Tácio. Um policial chamando os bombeiros, mas os dois já tinham virado presunto.
Sádico, o ajudante do dono da bodega, pegou o par de orelhas que estava amarrada na cintura de um dos cadáveres, colocou dentro de um vidrinho de palmito, encheu de álcool, tampou bem e colocou na prateleira que ficava atrás do sujeito tatuado com palhaços risonhos nos braços.