A BORBOLETA VERDE
Caminhávamos num local enorme... Só havia o capim rasteiro, como um gramado natural de cerca de 15 centímetros de altura, de um verde encantador. Uma planície, sem árvores, com alguns arbustos espalhados naquela vastidão que parecia estender-se além do alcance dos olhos. Só céu e terra. Azul e verde. Depois de caminharmos durante algum tempo, alternando paradas para o descanso, no macio conforto da grama, encontramos algumas áreas nuas, de um chão seco e desnudo. Algumas manchas rubras, em forma de quadrados, destoavam da paisagem. Ou a coloriam? Não sei dizer.
Nosso grupo era composto por mais três pessoas, além de mim. Não falávamos, mas nos comunicávamos através do pensamento, naturalmente. Andamos durante muito tempo sem encontrarmos viv’alma. Nem humanos, nem animais.
Chegamos a um riacho, que reconheci como o meu riacho, com a sua água límpida e suas pedras enormes. Corri para ele, com a surpresa e o prazer de quem reencontrou um velho amigo. Um adulto do grupo, (porque tinha uma criança também), tentou deter-me alegando ser perigoso, muito estranho aquele riacho ali. Não lembro de termos encontrado água ou algum alimento durante a jornada. Também não sentia fome, nem sede, mas ao ver aquele líquido transparente deslizando nas pedras, não me contive e o sorvi como quem mata a saudade de algo ou alguém que não esperava ainda rever. Olhei ao redor. Árvores jovens, arbustos, bromélias e trepadeiras protegiam-no formando uma gruta.
Um dos “amigos” que comigo caminhavam, afastou-se para examinar os arredores e chamou-me para mostrar algo que lhe causara espanto. Bem ali, sobre as flores silvestres, eu vi uma magnífica borboleta verde, uma enorme e imponente borboleta verde! Suas asas tinham alguns minúsculos desenhos coloridos onde o amarelo se destacava. Fiquei perplexa por algum tempo, mas logo o “amigo” apontava também para outro inseto que ele achara interessante. Uma centopeia, também verde, mas em tom mais claro. Era como se achássemos tudo aquilo surpreendente, algo como se encontrar vida animal naquele lugar fosse um milagre.
Prosseguimos a viagem e não muito longe dali, encontramos o primeiro “ser humano”. Confesso que não o reconheci, mas sabia que era alguém muito especial para mim. Foi um abraço de quem não se vê há muito tempo. O resto do grupo se manteve afastado alguns metros, como se temesse algo. Os tranquilizei, apresentando-lhe o amigo, que num misto de surpresa e espanto, perguntou-me que lugar era aquele. Onde estávamos? Quem eram aqueles que me acompanhavam? E eu respondi com a maior certeza e naturalidade: Esta é a terra... depois. Eles vieram do futuro para nos mostrar.
Fátima Almeida
31 de agosto de 2017