a Onda
O recepcionista do hotel me pergunta com uma voz perturbadoramente tranquila:
“Os senhores estão fugindo da Onda?”
Balancei a cabeça assentindo, os olhos arregalados, a voz desesperada.
“Claro! Vem aí uma Onda monstruosa em nossa direção que varrerá tudo diante de seu caminho! Há poucos segundos, avistei-a pela janela do quarto!
“Isso sempre acontece senhor, não tenha medo...” me responde ele.
“Fugiremos, me devolva a chave do carro pelamordedeus!!!
Já na estrada que atravessa Mangaratiba, caía uma forte tempestade.
Apenas eu parecia estar em pânico, a mulher que me acompanhava mantinha-se extraordinariamente tranquila, com os olhos vidrados e fixos na estrada.
Acelerava à toda o carro pela serra do caminho real de Paraty, a grande Onda nos perseguindo, e as águas impetuosas jorrando do céu.
Então, chegou uma hora que fugir se tornou inócuo, capitulei, e fomos atingidos pela enorme Onda, submersos pelas águas do oceano atlântico, arrastados pela maré, mar adentro, tinha certeza que jamais voltaríamos vivos.